"Esta semana, deu aos
incansáveis comemoradores oficiais dos 100 anos da República para irem
hastear uma enorme bandeira portuguesa no arco da Rua Augusta. A
funçanata teve a presença de vetustos adornos republicano-socialistas
como Mário Soares, de alguns governantes de segundo plano e figuras
camarárias, e da fanfarra da GNR, e ainda direito a cobertura dos
telejornais.
No dia seguinte, os
cabos que seguravam a bandeira deram de si e ela caiu (a televisão não
estava lá, claro). A bandeira foi hasteada de novo, mas algumas horas
depois já tinha uma das pontas a esvoaçar. No Facebook, nos murais das
pessoas que seguem de perto os assuntos relativos a Lisboa, o ridículo
da bandeira do arco da Rua Augusta era abundantemente comentado e até já
se faziam apostas sobre quanto tempo demoraria até o pano verde-rubro
voltar a cair.
Este episódio da
bandeira que é pomposamente hasteada com a presença de individualidades
sortidas, charanga e comunicação social, e depois é deixada a sofrer
tratos de polé porque o trabalho ficou mal feito, é bem demonstrativo do
caricato destas dispendiosas e mal-amanhadas comemorações, que não
despertam um farrapo de entusiasmo na esmagadora maioria da população,
passando no meio da indiferença quase geral.
A III República esperneia no meio de uma crise como Portugal só viu no tempo da I República,
e este episódio da bandeira do arco da Rua Augusta é também simbólico
do estado a que chegou o regime, e como que premonitório do futuro
nacional. Por este andar, os republicanos nem os 110 anos do 5 de
Outubro comemorarão."
Eurico de Barros
comentador e crítico de cinema
Publicado no Diário de Notícias
Fonte: blogue "Centenário da República"
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