No
ano do centenário da República, Isabel Silveira Godinho afirmou que a
República “vilipendiou e disse muito mal da Família Real, como lhe
competia, mas portou-se muito bem ao devolver todos os bens de carácter
pessoal”. “A República portou-se muito bem ao devolver os livros, as
jóias pessoais, as pratas, os móveis, os tapetes, os fatos, à sua custa,
e é uma história que este palácio vai ter de contar um dia”, disse a
responsável. Após a proclamação da República, o Paço da Ajuda,
residência da Rainha Pia que, depois de enviuvar, “passou apenas a
ocupar o piso térreo”, foi selado.
“Uma
comissão que integrava um representante da soberana fez um exaustivo
inventário, desde pentes e móveis às pratas e jóias”, disse.
Trata-se
de uma listagem curiosa em que a cada sala corresponde uma letra do
alfabeto “e quando se esgotou o alfabeto, repetiram-se as letras, sendo
cada uma acompanhada de sinais diacríticos, A’; A’’ e por aí fora”,
explicou.
Dentro de cada sala “cada objecto foi numerado e referenciado” e ainda hoje serve “como um thesaurus”, rematou.
No
próximo ano cumpre-se o centenário da morte da Rainha Maria Pia
(1847-1911), e o PNA prepara várias iniciativas com base em várias
linhas de investigação.
A responsável afirmou que “o palácio deve muito ao empenho da Rainha que era uma mulher fora da sua época”.
As
críticas republicanas aos gastos da Mulher de Dom Luís e Mãe de Dom
Carlos, permitem que hoje o Palácio possua “riquíssimas colecções não só
na qualidade e género como na quantidade”.
A
responsável projecta “fazer um dia” uma exposição em que se mostra as
quantidades existentes de objectos de quotidiano que há no PNA.
“A
riqueza de uma casa afere-se também pela quantidade e é extraordinária.
Não há dezenas de marcadores vermeil, há mais de uma centena, por
exemplo”, disse.
Referindo-se
à Rainha, Isabel Silveira Godinho que dirige o PNA há 30 anos, afirmou
que esta “sabia o que comprava, e a ela se deve muito da riqueza das
actuais colecções”.
A responsável afirmou que o assassinato do filho e do neto (Dom Carlos e Dom Luís Filipe) abalou muito Maria Pia.
Referindo-se
à citada demência da Rainha que o dramaturgo António Patrício na peça
“O Fim” ilustra com a régia personagem a regar as flores do tapete do
quarto, a directora do PNA argumentou: “julgo que não, mas é claro todos
temos uns dias mais negros que outros”.
“É
natural que tivesse um desgosto grande. Ninguém pode ficar impávida e
serena perante uma desgraça colossal como aquela foi [o assassinato do
filho e do neto em Fevereiro de 1908]”, disse.
“E
a barbaridade como aquilo aconteceu – continuou - ninguém fica na
mesma. A Rainha sofreu, tanto que ela que era uma personagem que sempre
gostou de estar em público e de aparecer, e tinha uma pose real, nem
precisava de usar jóias, nasceu de facto para ser Rainha, desistiu de
estar em cena”.
(ES) - 18-12-2010
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