Os reis de Portugal, tenho deles uma boa recordação dos tempos de
escola, da escola primária.Sabíamos a cronologia completa dos reis de
todas as dinastias, sabíamos pormenores disto e daquilo, havia muita
manipulação, claro.Tinha os meus reis preferidos, D. Afonso Henriques,
D. Dinis, D. João I, D. Pedro V.
Mas o D. Afonso VI, o 2º rei da dinastia de Bragança era o que
despertava mais a minha curiosidade, não percebia muito bem aquela
história de ele ter perdido o trono e a mulher para o próprio irmão,
chocava-me que o rei tivesse acabado tristemente os seus dias naquele
palácio de Sintra preso no seu quarto, enquanto o irmão se regalava.
Uma história de família provavelmente como muitas outras, entre os
senhores das monarquias devia ser mais ou menos assim, era a
justificação que dava a mim próprio.
Da República, a escola primária não me deixou propriamente recordações.
Presidentes da República? Havia alguns nomes, mas referências,
histórias, nada disso, vazio total. As Repúblicas não têm história,
pelos vistos. Na primeira República, os presidentes eram eleitos por uns
comités que mandavam no parlamento.
Na República do Salazar, o presidente passou a ser eleito, não sei
desde quando nem por que razões, por sufrágio universal. O povo passou
a ser chamado a votar, inovação extraordinária para uma ditadura,
estava muito segura dos seus apoios, deve ser o caso.
Mas, depois das eleições em que o Delgado foi vencido pela
trafulhice geral, comandada pela pide e pelos lacaios da união
nacional, o partido do Salazar, este decidiu acabar com essa história
do sufrágio universal. Acabou-se, o Américo Tomás passou a ser eleito
por um colégio reservado ao pessoal da assembleia nacional salazarista.
Percebe-se que, depois de 1974, a Constituição do novo regime
tenha decidido que a eleição do Presidente da República passaria de
novo a ser feita por sufrágio universal. Era a revolução, donc,
passemos a palavra ao povo.
Mas foi uma mudança cheia de ambiguidades. De revisão em revisão
constitucional, foi-se passando de um regime semi-presidencialista para
um regime semi-regime, ou seja, confuso à boa maneira portuguesa. Ou
seja, racionalidade, clareza, transparência, responsabilidade, nada
disso tem a ver com a nossa Weltanschauung como gostam de dizer os
alemães.
Assim, passámos a eleger, nós, o povo, um tipo que é suposto ser o
vértice, o dirigente mais importante do Estado, aquele que toma as
grandes decisões, aquele de que toda a gente espera principalmente nos
momentos mais difíceis que tome as grandes, as complicadas e decisivas
decisões. Era isto que se esperava, mas num regime semi-regime, a
lógica diz-nos niente, nada, tenham juízo.
Oh, Cavaco, o que é que tens andado a fazer durante todos estes
anos de presidente? Andaste a preparar o teu segundo mandato, não foi?
Grande economista, onde é que estavas em Setembro de 2008, quando
já toda a gente via a maldita da crise a cair-nos em cima com as garras
afiadas?
Andavas a divertir-te com as escutas lá no teu pequeno palácio ali em
Belém, tens-te sentido na pele dum reizinho ameaçado pelas intrigas dos
teus cortesãos? Divertido, pas vrai?
Divertiste-te mais com aquela história do estatuto dos Açores ou com história das escutas?
E o que é que vais fazer agora, quais são os teus planos para o novo mandato?
Será que tens mesmo planos, ou será que estás apenas à espera que
talvez a certa altura alguém te reconheça e tu próprio te sintas
finalmente como uma pessoa importante na história deste pequeno país?
Vais ser eleito, o povo é quem mais ordenha, é seguro, o povo é sereno já dizia o Pinheiro de Azevedo no Terreiro do Paço.
Bendita serenidade, por mim ficava mais sereno se o povo
resolvesse acampar no Terreiro do Paço e só de lá saísse quando tu te
fosses embora, tu e os teus amigos, que são inúmeros, nem sequer vale a
pena pronunciar os seus nomes.
Todos os políticos são iguais na sua insignificante vaidade e mediocridade?
Ontem ouvi o companheiro Duarte de Bragança na televisão. Gostei
de ouvir o homem, é-me simpático, se calhar isso terá a ver com alguma
nostalgia infantil pelos antigos reis de Portugal.
É também verdade que me reconheço no discurso dele.
Defendeu o cooperativismo, falou do António Sérgio, não parece que
goste muito nem do mercado nem do PPM, foi expulso de Angola pela pide
e agora quer obter a cidadania timorense.
Em alternativa à união europeia de má memória, defende uma
aproximação ao Brasil e aos outros países lusófonos, ou seja, quer que a
CPLP passe a ser a nossa UE.
Por mim, não tenho nada contra, tudo pelo contrário. Angela Merkel,
Durão Barroso, Sarkosy, Berlusconi, o que é que eu tenho a ver com essa
gente?
Oh! Duarte de Bragança candidata-te a rei-presidente, prometo que votarei em ti, companheiro!
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