«(...) Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons
rapazes e bons amigos - porque estas contradições, que aliás o não são,
existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro,
anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos - de tudo isto vimos
na açorda falsa que se seguiu à implantação do regimen a que, por
contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.
A monarquia havia abusado das ditaduras; os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. A lei do divórcio, as leis de família, a lei de separação da Igreja do Estado - todas foram decretos ditatoriais, todas permanecem hoje, e ainda, decretos ditatoriais.
A monarquia havia
desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país,
disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a
república que veio multiplicou por qualquer coisa - concedamos
generosamente que foi só por dois (e basta) - os escândalos financeiros
da monarquia.
A monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A república veio e criou dois ou três estados revolucionários. (...) A monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a república instituiu a desordem múltipla.
A monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A república veio e criou dois ou três estados revolucionários. (...) A monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a república instituiu a desordem múltipla.
É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República?
Não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em
administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais
liberdade. Na monarquia era possível insultar por escrito impresso o
Rei; na república não era possível, porque era perigoso, insultar até
verbalmente o Sr. Afonso Costa.
(...) E o
regimen está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto
por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de
bandeira nacional - trapo contrário à heráldica e à estética, porque
duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais
feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do
republicanismo português - o encarnado do sangue que derramaram e
fizeram derramar, o verde da erva de que, por direito mental, devem
alimentar-se.
Este regimen é uma conspurcação espiritual. (...)»
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