Portugal,Janeiro
de 1912.A ausência do cumprimento das promessas feita pelo PRP (Partido
Republicano) a par com o esvaziamento da Carbonária Portuguesa (já só
se constituía como movimento anti-grevista de acção “musculada”)faz
aumentar a influência do movimento sindicalista por todo o País.
O Governo, já só quase exclusivamente interessado na distribuição de
“poleiros” (Bernardino Machado ganha o apelido de “São Bernardino”, nas
ruas de Lisboa), deixa progressivamente o País entregue aos vários
interesses económicos que povoam o território.Em Janeiro de 1912 dá-se o
inevitável, o divórcio entre as massas operárias e a República
consuma-se .O Calvário da I Republica tem assim o seu início e fim no 1º
e único Governo de esquerda que existiu até à III República, o Governo
de Domingues dos Santos (1924-1925), o último suspiro eleitoral da I
República e o principio do fim da aspiração a um Estado Democrático.
Guarda Fiscal guarda as escadinhas do Duque (Lisboa) após o Governo ter decretado a 30 de Janeiro o estado de emergência ,entregando a Capital às “forças de segurança”, suspendendo as garantias e impondo o recolher obrigatório.
Em Évora a intenção do governador civil, numa disputa entre
lavradores e trabalhadores rurais (os lavradores recusam cumprir a
tabela salarial previamente estabelecida e acordada com os seus
assalariados) em que o governante toma o partido do patronato, leva os
trabalhadores a declararem-se em greve.O chefe do distrito, para impedir
que os trabalhadores reúnam, manda encerrar a sede da Associação dos
Trabalhadores Rurais, ordena à G. N. R. e ao Exército que cerquem a
cidade, não permitindo o acesso dos grevistas à capital.
As restantes associações operárias de Évora e de todo o distrito proclamam, em 13 de Janeiro, a greve geral, a que aderem mais de 20 000 trabalhadores dos dois sexos. Alarmado, o governador civil determina o encerramento das associações de classe que encabeçam a greve. Entretanto, os grevistas entram em Évora, ultrapassando as barreiras levantadas pela G. N. R. e pelo Exército, sem que tenha havido quaisquer incidentes. As ruas e as praças da cidade estão completamente ocupadas pelos trabalhadores. A prisão de alguns elementos mais activistas do movimento, ordenada pelo governador civil, torna a situação explosiva. A 24 de Janeiro, uma discussão entre grevistas e uma patrulha da G. N. R. provoca um morto e vários feridos. A 28, em face dos acontecimentos de Évora, a Federação Anarco-Sindicalista de Lisboa decide proclamar uma greve geral de solidariedade para com os trabalhadores da região de Évora.
Em Lisboa, Setúbal, Almada, Montijo e Moita a adesão à greve é quase total.
No dia 29, para evitar confrontos com as «forças da ordem . os trabalhadores recebem ordens para se concentrarem fora das zonas centrais de Lisboa; contudo, apesar das instruções, assinalam-se pequenas escaramuças com a Guarda Republicana e com a Polícia.
Na Moita, geram-se incidentes de grande violência, sendo morto o
administrador do conselho. Em Lisboa, na noite de 29 e no decorrer de
30, rebentam conflitos entre militantes, a Polícia e a G. N. R., em que
morrem vários grevistas e são feridos muitos outros.
O Governo, em face do deteriorar da situação, declara o estado de sítio», «suspende as garantias constitucionais» e entrega a cidade ao comando militar. No dia 31, apesar de já ser conhecido o termo da «greve dos rurais», por terem sido reabertas as sedes das associações de Évora e restituídos à liberdade os activistas presos, o Exército prossegue as operações de limpeza na capital do País. No fim da tarde, dois regimentos de campanha, com artilharia, um «batalhão de voluntários», forças da GNR e da Polícia cercam a Casa Sindical (sede da Federação) e exigem a evacuação imediata do edifício, sob pena de o sujeitar ao fogo de artilharia, e a rendição de todos os que se encontram lá dentro. Os trabalhadores sitiados entregam-se sem resistência e, nessa noite, mais de 600 homens e mulheres são conduzidos, sob aparatosa escolta da G.N.R. e do Exército, de armas aperradas, para bordo do transporte Pêro de Alenquer e da Fragata D. Fernando, onde ficam presos nas piores condições de alojamento.
Após o assalto à casa Sindical, forças do exército conduzem sob prisão
os manifestantes, que seriam encarcerados em navio de guerra e no Forte
de Sacavém.
A prova de força do movimento operário foi assim brutalmente esmagada pela intervenção das autoridades republicanas.
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