PORTUGUESES:
Sempre meus Avós vos anunciaram o nascimento de seus Filhos — e sempre
essa notícia encheu de contentamento e certeza todos os lares
portugueses. Para a Nação, nas Instituições que represento, o nascimento
dum Príncipe ou duma Princesa confirmava a continuidade da vida
nacional, unida no mesmo amor.
Sejam quais forem os tempos, de longe ou de perto, vós sois para mim o
mesmo que fostes para os meus Antepassados: o Povo querido e glorioso
que melhor serviu a Deus e à sua Terra e mais amou os seus Reis. Por
isso vos anuncio, como Eles anunciavam, o nascimento de meu Filho,
oferecendo a sua vida ao bem de Portugal com o mesmo fervor com que há
muito consagrei a minha.
Herdeiro de deveres imprescritíveis, acima de interesses pessoais e de
partidarismos, dou-vos nesta hora de interrogações e ansiedades que
oprimem, a certeza de que não findará no meu Lar a consciência das
responsabilidades que me prendem a Portugal e à felicidade de todos os
Portugueses.
De todos vós, sou o único a quem as circunstâncias não permitem viver
nessa terra bendita que meus Avós tanto dilataram. Quero-lhe, porém,
dobradamente e ao seu Povo, na saudade constante a que a separação me
força. O vosso coração deve compreender isto. E compreender também que,
quanto tenho sofrido no exílio, só me faz desejar que nenhum de vós o
sofra.
Unamo-nos todos. Temos de favorecer a harmonia, a ordem de que a Nação
precisa. Mas igualmente vos digo que não renuncio nem fujo a nenhuma das
minhas responsabilidades históricas. E espero que a vossa consciência
colectiva vos mostre, num profundo instinto acordado, que só na
Monarquia reencontrará as garantias, direitos e liberdades derivadas dum
Poder que, por ser legítimo e natural, não depende de divisões nem de
egoísmos.
Antes de tudo, preocupa-me a existência dos pobres, dos necessitados,
dos trabalhadores; e, num aumento geral de riqueza, o conjunto de
providências que a todos devem levar pão e alegria. Penso, do mesmo
modo, no nosso lugar no mundo e no completo resgate da civilização que
Portugal tão largamente difundiu e tantos males e experiências têm
ameaçado. Estas preocupações e os sentimentos de justiça que as
determinam, derivam dos fundamentos morais dos princípios que sustento,
da própria ética cristã que os formou, sem necessidade de outras razões.
Desejo ainda notar a circunstância feliz do meu Herdeiro ter nascido nas
primeiras horas de paz no Ocidente e da vitória da nossa aliada, a
Grã-Bretanha, a quem nos prende, e ao seu Rei, uma amizade muitas vezes
secular, sem esquecer outras nações a nós ligadas pelo sangue, pelo
espírito e pela afinidade de interesses europeus ou universais.
E podeis acreditar que, em meu Filho, continuará a dedicação com que vos
acompanho, pensando só no bem de todos vós e na grandeza da Pátria.
Duque de Bragança
[ D. Duarte Nuno de Bragança ]
Fonte: Unica Semper Avis
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