A
5 de Outubro de 1910 nascia a república Portuguesa, que se apresentava
ao povo como a única via capaz de «devolver ao país o prestígio perdido e
colocar Portugal na senda do progresso».
Ora,
os republicanos ao dizerem que pretendiam devolver ao país o “prestígio
perdido”, significa que admitiam que Portugal já tivera prestígio no
mundo. Um prestígio que nunca mais recuperou.
E eles pretendiam restituir esse prestígio e colocar Portugal na senda do progresso.
Ora
vejamos, cem anos passados sobre o dia em que os portugueses se
libertaram da Monarquia, o nosso prestígio no mundo será reconhecido?
Estaremos na tal senda do progresso, de um modo que possamos dizer que
os problemas que existiam em 1910 já não existem em 2010?
Sim, podemos dizer que algo mudou. Porém...
Já
não temos Monarcas que esbanjavam fortunas, com o fausto da corte, mas
temos Ministros, Gestores, Administradores, Chefes, Directores,
Gerentes, que ganham fortunas para “governar bem” o país, e o país está
mal governado e o povo a pagar as facturas desse esbanjamento (não
diziam o mesmo da Monarquia)?
Não
estamos sob o jugo dos Ingleses, é verdade. Mas estamos sob o jugo de
uma União Europeia que envia gente ao nosso país, para dizer como
havemos de gerir os nossos dinheiros e as nossas contas (não era assim
mais ou menos, com os Ingleses, durante a Monarquia?). E também hoje
estamos a ser “colonizados” por capital estrangeiro, em muitas das
principais empresas ditas portuguesas.
Pretendiam
os republicanos de 1910 acabar com a instabilidade política e social
que então se vivia, e com a alternância de dois partidos no poder (os
progressistas e os regeneradores).
Conseguiram?
Querem maior instabilidade política e social do que esta que vivemos nos tempos que correm?
E quanto à alternância entre dois partidos?
Os primeiros republicanos não se entenderam e guerrearam-se.
Os
que vieram a seguir também não se entenderam e guerrearam-se, a tal
ponto que foi necessária a Ditadura de Salazar, que como se sabe, durou
como aquelas pilhas que duram, duram, duram e nunca mais acabam...
Um
dia, porém, acabou. Fez-se uma revolução, para revolucionar o sistema.
Correu-se com tudo e com todos, e implantou-se um regime livre e
libertário: o 25 de Abril de 1974 acabou com a Ditadura, que toda a
gente sabia que existia, e por isso vivia-se de acordo com o que se
sabia. Quem quisesse arriscar, arriscava-se a morrer assassinado ou a ir
parar à prisão, ou ao exílio, por pensar alto. Quem não quisesse
arriscar, vivia a sua vidinha, caladinho e submisso, e nada lhe
acontecia.
Com
a revolução de Abril veio o que se diz ser uma espécie de liberdade,
que toda a gente pensa que existe, e quando vai a dizer algo que os que
mandam não gostam, vê-se desempregado, corrido a pontapés, sem saber
como nem porquê.
Implantou-se
uma outra ditadura, fantasiada de Democracia, que todos pensam que
existe (a democracia) mas na verdade, esta apodreceu logo à nascença.
Depois
da revolução, governaram os militares, e logo a seguir surgiu uma nova
alternância de dois partidos, no poder: ora os sociais-democratas, ora
os socialistas; ora os socialistas, ora os sociais-democratas. E não
saímos disto. E isto não tem levado o país a lado nenhum.
O que mudou nas alternâncias que se queriam ver banidas da governação de Portugal?
NADA.
O
que há para comemorar neste centenário de um República, que nasceu de
um Regicídio (ficando logo amaldiçoada à nascença) e que está tão
viciada como a Monarquia, em 1910?
NADA.
Acabou-se com os privilégios dos “poderosos”? NÃO!
Acabou-se com a pobreza de uns e o fausto de outros? NÃO!
Acabou-se com a fome? NÃO!
Somos um país que usufrui de um prestígio visível no estrangeiro, ou mesmo na União Europeia, da qual fazemos parte? NÃO!
Há liberdade de expressão? NÃO!
Então o que mudou?
Mudaram
os homens. O Regime continua o mesmo: absolutista (como na Monarquia) e
ditatorial (como nos anos em que governou Salazar), apenas com a
diferença de que agora o povo vota, mas os votados não querem saber do
povo, e o povo ficou viciado e não sabe fazer outra coisa senão votar
nos mesmos.
Andamos
todos a apertar o cinto devido à má governação dos Ministros, dos
Administradores, dos Gestores, dos Chefes, dos Directores, dos Gerentes,
que são às manadas por esse país fora. Há mais chefes do que pessoas
para chefiar.
Eu, pessoalmente, não tenho motivo nenhum para comemorar os Cem Anos da República.
Não
foi a Monarquia que me tirou o trabalho, por questões políticas, em
pleno ano de 1999, ano em que já não havia Rei, mas também não havia
Roque, nem Salazar.
Apenas
havia e há uma república (que no sentido figurado é uma casa onde não
há ordem, nem disciplina) muito, mas muito “Democrática”!
Isabel A. Ferreira
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