Abolir o feriado da Restauração num momento em que somos governados pelo Conselho de Portugal - a troika -, é um erro.
Portugal
é um dos poucos países do mundo que não tem como dia nacional, o da sua
independência. O 10 de Junho parece seguir o pressuposto
secundo-republicano salazarista da "conciliação" entre monárquicos e
republicanos, apresentando o "dia de Camões" como o necessário consenso
que torna mornas, as outrora caudalosas águas da questão do regime. O
pior é que à beira do estuário, deu-se um súbito refluxo da corrente.
Pois é isto mesmo que salta à vista.
O 5 de Outubro é escarnecido como coisa sem préstimo, quando na
realidade, se enquadrado por uma verdade histórica bem mais importante
que um tolo bambúrrio de patifes, representasse a data primeira na
contagem de séculos que já vivemos como Estado soberano, aliás em perigo
de extinção prematura. É quanto muito, o derradeiro dia de ida à praia.
Os
donos do território a que hoje se chama "país" e que até há cem anos
era simplesmente conhecido como Portugal, já consideram terem perdido a
sua feriazita de início de Outono. O "dia da República" parece subir em
espiral gasosa, para sempre se volatilizando da memória, "colectiva" -
de colher - como convém.
Quanto à claríssima "moeda de troca"
política que é o feriado do 1º de Dezembro, notemos apenas uns tantos
factos, sobressaindo o clássico protesto do "mundo de negócios" espanhol
refastelado em Portugal e que se insurge contra este pretenso insulto a
Espanha. O verdadeiro insulto provirá daqueles vinhoso hálitos de Rioja
de rasquíssima qualidade, pois barafustarem em terra alheia contra o
direito de liberdade das gentes locais, é já coisa do domínio do
insólito, como se uma composição de Beethoven fosse acompanhada por
ritmados clapa-clapes de mãos e sonoros ais de dançarinos de flamenco.
Compreende-se a insistência dos "amigos de António Reis", sabendo-se
como os republicanos sempre foram iberistas, chucha que lhes vem do
primeiro e privilegiado berço de pantagruélica casta.
Se
os nossos leitores repararem em algumas coincidências, o 1º de Dezembro
serviu para a cerimónia de assinatura do aborto imperial que se
denomina de Tratado de Lisboa, coisa tão efémera como a herança
peninsular do também prematuramente defunto príncipe D. Miguel da Paz. A
data do 1º de Dezembro, além de significar o dia mais importante da nossa História,
representou o fracasso de um projecto de criação de um potentado com
sonhos de domínio mundial que tendo origem na Europa Central, depressa
se estendeu ao sul da bota italiana, terras de Espanha e às costas do
Mar do Norte. Conhecemos bem esse A.E.I.O.U., hoje de mais prussiana pronúncia.
Além
de ser o dia da nossa segunda independência, aí está uma das razões do
ruminante pavor que o 1º de Dezembro significa para alguns beneficiários
dos "direitos adquiridos" do regime dos panças. Não têm emenda, mas
todos os topam a anos-luz.
Nuno Castelo-Branco
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