Um dos tópicos mais controversos e, a meu ver, mais interessantes de
todo o regime monárquico é a existência da nobreza. Nesta resenha tentarei
apresentar as razões que me levam a crer que a existência de distinções
hereditárias, quer se tratem de títulos, brasões, cargos honoríficos ou
comendas, não prejudicam a monarquia; antes, são um dos inúmeros
benefícios.
Em primeiro lugar a nobilitação tem como propósito distinguir um
indivíduo, destacá-lo dos outros. É uma forma de o monarca declarar que a pessoa
em questão é um exemplo, um modelo de conduta irrepreensível a seguir. Em
segundo lugar, é uma forma de agradecer ao visado, mostrando que as suas acções
em prole do bem comum são reconhecidas pelo Estado. Por outro lado, atendendo ao
seu cariz vitalício, será certamente uma responsabilidade acrescida sobre o
titular/brasonado, que terá que honrar o seu novo estatuto, mantendo um certo
padrão de comportamento. Se não agir condignamente, deverá ser punido de forma
duplamente severa (temos vários exemplos históricos disto).
Também digno de nota é o carácter hereditário: o direito a utilizar as
armas ou o título de determinado antepassado herda-se, conforme as regras do
direito nobiliárquico. Não consigo pensar em nada mais gratificante para alguém
de quem a Nação se deve orgulhar do que saber que, após a sua morte, o seu nome
não cairá em esquecimento e as suas acções valorosas serão perpetuadas na
memória dos seus descendentes. Igualmente importante é o peso que carregam os
ditos descendentes, que terão que demonstrar rectidão de carácter, firmeza de
princípios e honestidade no seu relacionamento com outros, para não mancharem o
nome do seu ilustre antepassado com um feito tão infame quanto foi valoroso o do
avoengo.
Naturalmente, dado que o regime que se propõe (e penso que o único que
é condigno com uma sociedade sadia) é uma monarquia constitucional, com raízes
democráticas e parlamentares, qualquer concepção medieval de nobre enquanto
senhor feudal é, no mínimo, digna de escárnio. Não se propõe que o nobre seja um
detentor de poder quase absoluto nas suas terras ou que detenha direitos que
violem os princípios de um estado democrático. O que se procura é que seja um
exemplo a seguir pelos outros, na sua conduta profissional e pessoal e no
exercício da cidadania na comunidade em que se insere. De forma análoga, que
sejam banidos os pressupostos de alguns ignorantes que pensam que a nobreza se
caracteriza por snobismo e arrogância. Pelo contrário, a razão da existência de
nobreza não é menosprezar o povo: é dar-lhe modelos para seguir, pessoas que
tornemos populares orgulhosos de serem portugueses. É perfeitamente plausível
que aspirem a essas mesmas distinções e, se pelas suas acções as merecerem,
também eles se elevarão na estrutura social.
Termino dizendo que não creio numa sociedade em que todos somos iguais.
Creio numa sociedade em que os melhores, os mais altruístas, os mais valorosos
se destacam, são devidamente recompensados e estimulam os outros a seguir o seu
exemplo. A elevação à nobreza é a distinção mais consentânea com a nossa
História e a que melhor ilustra o agradecimento e as expectativas do Estado aos
seus notáveis.
por Henrique Sousa de
Azevedo no Facebook, Sábado, 17 de Dezembro de 2011
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