Mais uma vez ao ver um livro com fotos de obras de Malhôa, parei a olhar um que desde garota me impressiona.
Hoje,
admiro-lhe a técnica, a cor, a precisão dos pormenores. Dantes via um
Príncipe de conto de fadas, lindo e com uma história triste. Talvez
porque a minha avó contava coisas dele. Dizia ela que não havia menina
casadoira que não estivesse apaixonada pelo Príncipe. Algumas traziam o
retrato dele num medalhão pendurado ao pescoço.
É, nesse tempo, sem artistas de cinema para amar, as meninas tinham grandes paixões platónicas pelo Príncipe.
Príncipe Luiz Filipe, Retrato de José Malhoa (1891) |
Malhôa
pintou-o em criança e voltou a pintá-lo já homem. Parece que o Rei Dom
Carlos, não terá gostado muito do retrato, pelo ar triste do filho.
Chamou-lhe “Príncipe Melancolia”.
Nasceu
em Lisboa a 21 de Março de 1887, filho de Dom Carlos e de Dona Amélia,
era o Herdeiro do Trono, de Portugal. Teve uma educação esmerada, sendo
seu preceptor Mouzinho de Albuquerque. Fez uma viagem às então colónias
portuguesas de África, onde, ao que se diz, terá sido recebido com
grande entusiasmo. Além de belo e culto, era simpático e aberto.
O Príncipe Real Dom Luís Filipe em visita a Angola, com o Governador-Geral, Henrique de Paiva Couceiro (Luanda 1907). |
Voltou
para Portugal e pouco tempo depois, deu-se a tragédia do Terreiro do
Paço. A 1 de Fevereiro de 1908, aos vinte e um anos incompletos, o
Príncipe foi assassinado juntamente com o Pai. Ainda matou um dos
assassinos, mas também ele caiu varado pelas balas. Assim tristemente,
acabou a história do Príncipe "Melancolia".
Será que essa melancolia já era pronuncio do fim tão prematuro? Só ele o saberia.
O quadro encontra-se nas Caldas da Rainha, no Museu José Malhôa, num recanto mal iluminado.
Mal
recebido pelo Rei, retrato fiel do pobre Príncipe, o quadro parece ter a
mesma sorte: esquecimento. O mesmo esquecimento que o retratado. Um,
morto, esquecido até nos manuais de História. O outro, relegado para um
canto, como se fora obra menor do autor.
Eu
vou continuar a ir vê-lo sempre que voltar às Caldas. Porque desde que o
vi a primeira vez, todos os Príncipes de todas as histórias da minha
avó, tinham para mim, o rosto e a figura do “Príncipe Melancolia”, Dom
Luís Filipe.(...)
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