A
Economia matou a História. De uma penada, zás-trás-pás, Portugal ficou
sem cabeça, um corpo sem identidade, ainda que lhe restem o ADN da
planta dos pés e as impressões digitais dos dedos esfacelados por golpe
inaudito do ministro Álvaro, quiçá coadjuvado pelo ameno Gaspar, pelo
tão tranquilo Coelho e pelo desaparecido, como dizem, Paulinho dos
Estrangeiros.
O
governo, apertado pela dupla incrível MerSarkozy que nos vem costurando
(mais certo seria dizer ‘cosendo e cozendo’) não pensou duas vezes e
agarrando na gadanha ceifou-nos o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro sem
pedir licença a quer que fosse, amancebados que estão com a maioria
absoluta. Quer-me pois parecer que o cérebro de alguns membros do
governo estão ocos, já dizia a Merenciana no Sarau do Liceu. E, de
repente, veio-me à lembrança a mais importante e dramática pergunta
(Frei Jorge) seguida da mais célebre resposta (dor) do teatro português,
no final do 2º ano do Frei Luís de Sousa: - “-Romeiro, Romeiro, quem és
tu? – Ninguém!”, respondeu ele. «Ninguém» porque esquecido, porque,
estando na casa que fora sua, não houve alma que o reconhecesse. Nem
Madalena! «Ninguém» porque a simples hipótese de estar vivo era um
tormento para aqueles que amou ou amava. Ele já só podia ser sombra.
Perdera tudo. E o Álvaro? Perdeu-se no labirinto do não saber para que
lado se virar e destruiu o que 40 conjurados (e centenas de portugueses
espalhados pela província), em 1640, construíram, deitou ao lixo a
memória de um país e um país sem memória não é país, porque não sabem
quem é. Álvaro - e com ele todos os membros deste governo – venderam a
memória por prato de lentilhas tal como Saul vendeu o reino a David.
A
História deste país anda uma desgraça. Quase não existe nos manuais
escolares. Agora é o governo que abdica dos seus registos de baptismo e
de confirmação. Em 5 de Outubro de 1910, Portugal baptizou-se como país
republicano. Em 1640, confirmou pela segunda vez a sua independência
(aqui a ordem não de catecismo). O 5 de Outubro é a matriz do regime,
comemorado até pelos monárquicos, que em romagem vão ao cemitério
colocar flores em memória da «Mãe» defunta. Como, pois, perceber que
seja o governo de um país o agente de destruição da sua genética?
Governo assim só pode ser classificado de uma maneira: desnaturado.
Abdicou
a França do 14 de Julho? Os EUA renegaram o 4 de Julho? A Rússia apagou
a memória da sua Revolução em 1917? Não comemora a Espanha o 12 de
Outubro? E quantos e quantos países não têm o seu dia nacional na data
da independência? A Grécia, por exemplo, será que abjurou do seu 25 de
Março por causa da Troika? Mas que fado! Lá se foi a imaterialidade!
Agora nem fumo, nem fogo. Parece que nós somos capazes de tudo, porque
somos ímpares, singulares. Até nos renegamos para agradar a troi(k)anos,
coisa que nem os gregos fizeram. Falta um «cavalo de pau». Mas por cá
não há Aquiles, Ajax, Ulisses ou Agamemnon. Aqueus nem vê-los! Só
Troi(k)anos!
Hoje, já nem somos monarquia, nem república. Somos apenas «ninguém»!
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Sobre a palha loira
Dorme a rir, Jesus:
Tudo a rir doira
De inocente luz. (Guerra Junqueiro)
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