O sítio da Marinha, muito justamente, dá esse destaque à efeméride. Vale a pena lê-lo aqui:
"A 18 de Dezembro de 1961 o exército
indiano, apoiado pela aviação, invadiu em força o Estado Português da
Índia. Para colaborar na invasão, a Armada Indiana lançou mão de todos
os navios operacionais de que naquela altura dispunha. Ao cruzador
Mysore e à fragata Trishul, com as respectivas forças de desembarque,
foi atribuída a missão de ocupar a ilha de Angediva; as fragatas Betwa,
Beas e Cauvery foram encarregadas de colaborar no ataque a Goa; ao
cruzador Delhi coube colaborar na tomada de Diu; ao grupo constituído
pelo porta-aviões Vikrant, acompanhado pelas fragatas Khutar, Kirpan e
Khukri e pelo destróier Rajput foi dada a missão de fazer frente a
qualquer situação inesperada que pudesse surgir; o grupo constituído por
quatro caça-minas e um navio de apoio logístico foi encarregado de
dragar as minas que os portugueses eventualmente tivessem lançado à
entrada do porto de Mormugão e assegurar o funcionamento deste após a
ocupação. Era o mesmo que usar um martelo para partir um ovo, uma vez
que os Portugueses, na Índia, dispunham apenas de um antigo aviso de 1ª
classe e de três lanchas de fiscalização. É certo que no início do
diferendo com a União Indiana tinham começado a ser preparados dois
submarinos, dois destróiers e um navio apoio para serem enviados para o
Índico. Mas tal ideia foi abandonada para não acirrar os ânimos. A
verdade é que o Governo Português nunca acreditou que a União Indiana, o
arauto da política de não violência, recorresse alguma vez à força para
fazer valer o que entendia serem os seus direitos.
Na manhã de 18
de Dezembro, encontrando-se fundeado no porto de Mormugão, o aviso
Afonso de Albuquerque, de que era comandante o capitão-de-mar-e-guerra
Cunha Aragão, foi atacado pelas três fragatas indianas travando com elas
um vigoroso duelo de artilharia em que foi repetidamente atingido,
acabando por ser encalhado e abandonado. Nesta acção foi morto um
grumete; o bravo comandante Aragão ficou gravemente ferido; cerca de
meia centena de elementos da guarnição, entre oficiais, sargentos e
praças, ficaram ligeiramente feridos, tendo apenas dez tido necessidade
de receber tratamento hospitalar. Um autêntico milagre!
A lancha de fiscalização
Sirius, que dispunha apenas de uma peça de 20 mm, foi abandonada. A
Antares conservou-se ao largo de Damão sem que tivesse avistado qualquer
navio indiano nem sido atacada pela aviação. Quando se apercebeu de que
a cidade tinha sido ocupada pelas tropas indianas, o seu comandante,
segundo-tenente Brito e Abreu, seguiu para Karachi.
Em Diu
encontrava-se uma lancha semelhante, a Vega, de que era comandante o
segundo-tenente Oliveira e Carmo. Nada podendo fazer contra o cruzador
Delhi que se encontrava ao largo, mas não lhe sofrendo ânimo ficar de
braços cruzados, Oliveira e Carmo decidiu manter-se a navegar nas
proximidades da fortaleza ajudando com a sua peça de 20 mm a defendê-la
contra os repetidos ataques de que estava sendo alvo por parte da
aviação indiana.
Na execução da
missão suicida que Oliveira e Carmo impôs a si próprio, com o único fim
de honrar a Pátria e a Armada, a Vega foi atacada sucessivamente, por
oito ou mais vezes, por parelhas de dois aviões de jacto indianos.
Navegando em zig-zag, Oliveira e Carmo conseguiu evitar por diversas
vezes que o seu navio fosse atingido. Por fim sucedeu o inevitável. Uma
rajada de projécteis incendiários e explosivos atingiu em cheio a
lancha, ferindo-o gravemente, matando o marinheiro Ferreira e
incendiando as munições que estavam no convés. Pouco depois uma
segunda rajada, disparada contra o navio imobilizado, acabou-lhe com a
vida e feriu gravemente mais três marinheiros. Com a lancha a arder e as
munições a explodirem, os seis marinheiros que restavam, três deles
gravemente feridos, atiraram-se à água. O marinheiro Cardoso da Silva,
que era bom nadador, conseguiu alcançar a balsa e trazê-la para junto
dos companheiros, enquanto a Vega era engolida pelas águas. Depois de
ter ajudado a subir para ela dois dos feridos graves, o Jardino e o
Bagoim, bem como o Freitas que era fraco nadador, amarrou as fitas do
seu colete de salvação à balsa e, com o corpo e os olhos cobertos de
óleo, começou a rebocá-la, nadando na direcção de terra, que conseguiu
chegar ao fim de sete horas! Durante o trajecto o Jardino morreu. O
marinheiro Nobre, pensando que era o último sobrevivente nadou em
direcção à costa da União Indiana que conseguiu alcançar. O grumete
Ramos, gravemente ferido nas pernas, conseguiu chegar a terra junto da
fortaleza que, naquele momento, estava a ser intensamente bombardeada
pelo cruzador Delhi.
A forma como se
comportaram o Comandante e os marinheiros da Vega, no combate sem
esperança que travaram com os aviões indianos à vista da velha fortaleza
de Diu, constitui uma das páginas mais brilhantes da História da
Marinha de Guerra Portuguesa."
publicado por Pedro Quartin Graça em Estado Sentido
Por todos aqueles que tombaram com coragem e patriotismo
"O capitão tenente Oliveira e Carmo foi o último herói português na Índia. Comandante da lancha «Vega», morreu em Diu, no dia 18 de Dezembro de 1961. Diz o relatório elaborado pelos sobreviventes que «foi atingido mortalmente no peito» por disparos de um avião; antes, já uma rajada lhe havia cortado «as pernas totalmente pelas coxas». A pequena lancha de fiscalização, de 17 metros de comprido e uma única metralhadora de 20 mm, largara da doca de Diu, passou a barra e fez-se ao mar alto, em direcção ao «Delhi», um cruzador indiano de 9740 toneladas. Este assim que detectou a Vega, abriu fogo de metralhadora pesada, o que levou a Vega a retirar. Após essa manobra táctica, voltou a aproximar-se do enorme cruzador. Nessa altura, o segundo-tenente, de 25 anos, começou por se fardar «de branco», explicando aos marinheiros «que assim morreria com mais honra». Exortou-os a lutar até ao fim: «Fazemos parte da defesa de Diu e da Pátria e vamos cumprir até ao último homem e última bala se possível.» Não foi no entanto a artilharia pesada do navio inimigo que derrotou a «Vega», mas o ataque concertado da aviação inimiga equipada com modernos aviões a jacto. Durante a sangrenta batalha, a Vega, agilmente manobrada pelo seu comandante, esquivou-se às primeiras rajadas aéreas. No entanto, um novo ataque, desta vez com fogo cruzado, matou o marinheiro artilheiros e cortou pelas coxas as pernas de Oliveira e Costa. Deflagrara entretanto um incêndio na casa das maquinas que tornava impossível a manutenção da embarcação. Já ferido, despediu-se da mulher e do filho, beijando as fotografias que trazia no bolso. Foi no entanto, na terceira rajada do inimigo, superiormente armado, que viria a morrer o Capitão Tenente. O seu corpo afundou-se com a lancha Vega que heroicamente comandou e nunca foi recuperado. A título póstumo, Jorge Manuel Oliveira e Carmo foi promovido a capitão-tenente e recebeu a Torre e Espada - a mais alta condecoração portuguesa para feitos em combate. Porque hoje passam 50 anos sobre essa data, retomo um post que escrevi em 2010, numa altura em que este militar foi lembrado e homenageado. Na alocução que fez durante a sessão solene das cerimónias do Dia de Portugal em 2010, António Barreto reiterou as críticas ao povo português que é “parco em respeito pelos seus mortos” e acusa o Estado de ser pouco “explícito no cumprimento desse dever”, avisando que está na altura de “eliminar as diferenças entre bons e maus soldados, entre veteranos de nome e veteranos anónimos, entre recordados e esquecidos”.
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