Tratar
os mortos como se nunca tivessem sequer nascido é um princípio do
ateísmo moderno que ameaça fazer-se moda em Portugal. O que somos ou não
somos, e temos ou não temos, devemo-lo aos que antes de nós por aqui
passaram, a muitos pela positiva, a alguns pela negativa. Uns e outros
merecem ser chamados ao presente.
Se
numa determinada família se esquecem os mais velhos, ela é um
ajuntamento, mas não uma família. Se uma nação passa por cima da
história em favor de um qualquer benefício imediato, estamos, mais uma
vez, a falar de um aglomerado de seres humanos, mas não de uma nação.
São
índices da nossa identidade colectiva enfraquecida: não termos bons
políticos, não sabermos falar de uma pátria, não termos ideia do que
podemos prometer aos nossos filhos.
Portugal
merece ter bons líderes, que, sem se preocuparem com popularidades,
apontem os caminhos e sigam adiante; que, persistentes na humilde
teimosia do amor, sem ofensas nem imposições, façam o que tem de ser
feito para bem de todos. Que nos lembrem quem somos, sem paternalismos
nem esquecimentos.
Custa-me
que haja tantos portugueses preocupados com um acordo ortográfico, e
assim esquecidos de que a nossa identidade não são vogais nem
consoantes, que se prestam, noutros fóruns, ao desplante de teorizar
soluções que passam por ouvirmos os nossos netos e bisnetos falar
castelhano. Somos Portugal. Devemos todos, sem excepção, sentir o dever
de respeitar quem antes de nós por nós morreu. Senão que emigrem.
José Luís Nunes Martins
Jornal i, 21 Janeiro de 2012
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