No passado sábado, a já habitual festa
de aniversário de um amigo, desta vez propiciou o auscultar da opinião
de alguns militares convidados. Jovens contratados, têm opiniões acerca
da situação do país e melhor ainda, atrevem-se a colocar problemas e
aventam possíveis soluções. Para surpresa de quem os quis escutar, nem
uma palavra acerca de regalias, hospitais, prémios de carreira ou
promoções que têm saturado os noticiários. Não houve uma única menção a
contas bancárias ou a remunerações por prestação de serviços, mas um
claro mal-estar pela manipulação da opinião pública formatada para nas
Forças Armadas verem mais um sindicato ou grupo de pressão egoísta. Este
é um erro fatal que poderá finalmente a levar a actos cujas
consequências são ainda impossíveis de prever. Nota-se que a permanência
numa instituição militar, levou-os a uma perspectiva completamente
diversa daquela a que todos nos habituámos nas conversas de café ou sala
de visitas e se pudesse resumir o tema a uma palavra, esta seria sem
qualquer dúvida, Portugal.
É desnecessário aqui deixarmos as
considerações tecidas acerca do momento político e dos seus agentes,
fáceis de adivinhar por qualquer leitor. Tendo o debate origem nas
missões das Forças Armadas no estrangeiro - com algumas fortes reservas
que são bem conhecidas pelos mais atentos -, logo a conversa evoluiu
para a actual posição do país no mundo e sem surpresa, todos os
militares destacaram a extrema importância do embrião de uma ainda muito
incipiente comunidade que é a CPLP. Aí está o seu interesse, em quase
perfeito paralelismo com a necessidade de uma profunda revisão do papel
das Forças Armadas do Estado e a necessidade de uma clara opção política
pelo espaço Atlântico e um sintomático ..."nada de mais Kosovos e
Bósnias". Cai assim, a sempre levantada questão corporativa que parece
obcecar os comentadores políticos. Sendo aqueles militares pertencentes à
arma terrestre, verificou-se a unanimidade quanto à prevalência que os
meios aeronavais deveriam ter nessas renovadas Forças Armadas
Portuguesas e a sua articulação com aquelas outras pertencentes à nossa
esfera de influência cultural. O Brasil foi sempre citado como uma
prioridade e este vector é tão mais surpreendente, quando se verifica a
idade dos "contratados" de serviço. Parece que em pouco mais de um ano,
a convivência nas instituições militares, foi susceptível para
rapidamente levar à consciencialização do actual estado em que se
encontra o país. As palavras foram duras, embora obedecessem sempre ao
formal respeito pela hierarquia civil de quem se sentem totalmente
separados.
Naturalmente surgiu a questão do regime e
um dos mais interessados intervenientes, com um já invejável leque de
interesses, pesou o problema, colocando-o no âmbito da reforma do
sistema e sem qualquer espanto, consagrando a fórmula monárquica como
perfeitamente desejável e exequível. Por uma vez "advogado do diabo",
considerámos a dificuldade da tarefa, apontando o controlo da imprensa,
os interesses instalados, a propaganda de mais de um século e o hábito
que dita a norma. Pelos vistos, não são escolhos de maior, porque a
resposta foi seca e recorreu a uma pessoana citação que aqui deixamos noutro dizer:
-"Primeiro há que fazer a coisa, depois o nosso povo irá conhecê-la e estimá-la".
Parece simples e este post aqui deixado em 2008, é perfeitamente actual .
publicado por Nuno Castelo-Branco em Estado Sentido
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