♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

SOBRE O "ACORDO" ORTOGRÁFICO

Publico aqui mais uma valiosa achega sobre o novo “Acordo” Ortográfico.

O texto não é meu e já tem uns anos, e nele figuram todas as indicações sobre a sua autora.

Nestes tempos de profunda crise, onde, por via da inclusão de Portugal no espaço europeu, tanto vamos perdendo da nossa soberania política e económica, creio não ser pedir demais, que pelo menos nos deixem a língua pátria tal como estava. Teremos assim algo de substancial para nos recordar a Pátria soberana que antes tínhamos.

Segue o artigo em causa:

Jornal “Comunicando”, página 8
Nº 2 – ano 1 – Fevereiro 1991
Órgão oficial da Associação Portuguesa de Relações Públicas
Director: José Marques das Neves
A cor do acordo
Isabel Ferreira *
No dia 15 de Dezembro de 1990, em Lisboa, no Palácio da Ajuda, os ministros e secretários da cultura dos países lusófonos assinaram, inesperadamente, o chamado Acordo Ortográfico, elaborado por membros da Academia das Ciências de Lisboa. Cerca de dois meses antes, tinha sido assinado o projecto. Pode dizer-se que não houve demora nem hesitação.
Entre alunos e professores da Faculdade de Letras, e em círculos ligados aos estágios de Português, falava-se da mudança (que se discutia em privado) e ninguém sabia qual era. Os anteprojectos de 86 e 88 estavam a ser feitos, mas o seu teor estava e está (quantos o conhecem?…) no segredo dos deuses. Na altura, tanto a Comissão da Língua Portuguesa, como professores, linguistas, escritores e demais indivíduos e associações interessadas, defenderam a necessidade de um debate público e alargado. O debate nunca se fez. Porquê?
Sem entrar em grandes pormenores técnicos, convém saber quais as principais consequências ortográficas para o nosso país. Já toda a gente fala da queda das consoantes mudas, como, por exemplo, na palavra «acta». Ganhamos mais uma (entre tantas outras!) homógrafa e o prazer de procurar no contexto o sentido da palavra. Esta alteração afecta cerca de 600 vocábulos. Temos, ainda, casos de dupla grafia, porque, às vezes, a não articulada cai, outras não, é facultativo. Isso mesmo, facultativo, como se essa consoante perseguida não fizesse falta nenhuma! O facto é que faz. No campo dos acentos também está prevista, para certas palavras, a dupla acentuação: acento agudo em Portugal e países africanos, acento circunflexo no Brasil. Onde se põe, ou não, o hífen, parece-me de menor gravidade, mas também , não vejo nenhumas vantagens nas regras do acordo. O «K», o «W» e o «Y» vão ser incluídos no nosso alfabeto. Sejam bem-vindos. No total, há 2600 termos atingidos, o que equivale a 2,34 por cento do nosso léxico.
Os «pais» do acordo – autores e demais intervenientes – não aceitam a polémica gerada. Tanto em Portugal como no Brasil há muita gente a reagir: são apelidados de retrógrados, obstinados, conservadores… no mínimo. O acordo, dizem os seus responsáveis, além de ser necessário como actualização, perspectiva o futuro, visa a unidade da Língua, põe o Português, como língua oficial, em organizações internacionais (convencemos pelo número, sempre são 170 milhões) e ajuda a aprendizagem da própria língua.
Aliciante à primeira vista, confuso para o olhar atento. Pessoalmente discordo do acordo. Não estou confusa. Nem aliciada.
Como professora sei que a anarquia ortográfica vai reinar, sobretudo por causa do «alçapão» da arbitrariedade. Mais: semanticamente também vamos ter que admitir muita coisa; o espírito vai ser: lá como cá. Isso significa que o léxico e, até, a construção sintáctica das novelas vão influenciar a expressão escrita. Já há muito tempo que esta invasão cultural nos revolta. De futuro vai ser pior.
Na imprensa fala-se de ACORDO e ACTUALIZAÇÃO como se fosse a mesma coisa. Não é. Sou pela actualização, feita por quem fala a língua (os falantes) e por quem a escreve (os escritores, jornalistas, entre outros). Se tudo evolui , a Língua, como organismo bem vivo, evolui também. Essas são imparáveis, naturais, em espaço e tempo próprio, sentidas como inevitáveis. Considero ridículo e perigoso fazê-las por decreto assinado por políticos e alguns linguistas. Que direito têm? Quem lho deu?
Está prevista para 1 de Janeiro de 1994 a entrada em vigor do célebre decreto. O texto diz a certa altura: «Adoptar as medidas que entenderem adequadas ao efectivo respeito da data de entrada em vigor». O que me indigna nem é tanto a pobre «muda», nem o problemazito dos traços – sejam acentos ou hífens – o que me indigna, isso sim, é ser tudo resolvido à «queima-roupa» (como um golpe de Estado) e imposto, como nas ditaduras.
Voltemos ao vocábulo ACORDO. Um dicionário bastante divulgado, o «Lello Universal», diz na página 40 do 1º volume: «acordo» é «conformidade de ideias e de sentimentos, bom entendimento. Harmonia. Transacção. Convenção». Quanto à harmonia e à conformidade tal e tal, já se viu que não existem. Resta-nos, para justificar o termo «acordo», analisar as vantagens e desvantagens, os benefícios e prejuízos que os intervenientes conseguiram na negociação.
Começo pelos países africanos de expressão portuguesa. Sobre os considerandos ortográficos não há muito a dizer: sempre seguiram a nossa norma e vão ser obrigados às mesmas alterações. Em termos culturais e económicos vão ter imensas vantagens: expansão da actividade editorial, das bibliotecas nacionais, dos livros escolares, além da integração, sob estes aspectos, no esquema de cooperação internacional. Não espanta, portanto, que defendam este acordo incondicionalmente.
O Brasil, segundo se afirma, também cedeu. Cedeu a aplicação de grande número de acentos e aceitou alterações à hifenação. Cedeu menos do que nós, o que é grave, mas, mesmo assim, muitos intelectuais recusam-se a aceitar as novas regras e os protestos não param. Em contrapartida, está a envidar esforços para que o Instituto Internacional da Língua Portuguesa seja instalado no Maranhão e não em Portugal, como é legítimo. E não haja ilusões: vamos assistir a uma «chuva» de livros brasileiros e livros técnicos de toda a ordem. Não há dúvida que vai ser um bom negócio! Já se está a investir nele em larga escala, a fazer fé na imprensa brasileira.
E Portugal? Portugal assinou um acordo sem utilidade. Pior: só nos dá prejuízo.
As dificuldades de adaptação vão ser enormes (imaginem o caos nas escolas, nas repartições do Estado, nos jornais e nas tipografias) e a aprendizagem mais difícil, dado o aumento da homografia e ambiguidade (quase maldosa) no uso de acentos e consoantes não articuladas. Na prática, significa que estaremos sempre a balançar entre a norma portuguesa e a brasileira.
Nunca verifiquei que ortografias diferentes impedissem cooperação e intercâmbio cultural. Os meus alunos, mesmo os mais pequenos, lêem Jorge Amado, o Jorge Amado que escreveu textos para eles. Lêem e percebem-no perfeitamente. Se no Brasil não são mais lidos e conhecidos os nossos autores, garanto que a barreira não é ortográfica. Chega a ser cómica a insistência na «unificação», quando não há a mínima hipótese de que ela aconteça na realidade. Vivemos em espaços diferentes, com substratos linguísticos diversos, realidades e mentalidades próprias. Evoluímos diferentemente. Como é possível acreditar em «unificação»? Quem quer enganar quem?
Em termos económicos vai ser o desastre. Os livros em geral e, especialmente, os dicionários, enciclopédias, gramáticas, livros científicos, vão ter que ficar guardados como relíquias do passado, na altura de «puxar cordões à bolsa» pode bem acontecer que estejam a comprar uma obra de José Olímpio Editora, do Brasil. Estes e outros irão estar na primeira linha.
E as editoras portuguesas? Esta decisão, mais política do que outra coisa, vai deixá-las com dezenas de milhões de contos de prejuízo. O nosso Secretário de Estado da Cultura afirmou estarem previstos subsídios e linhas de crédito, mas, a avaliar pela experiência noutras áreas, não é difícil imaginar que serão insuficientes e chegarão tarde. Quem vai, de facto, cobrir as imensas despesas das editoras? Todos nós, ao pagarmos preços exorbitantes pelos novos livros. Quem viver, verá.
Feito o balanço, fica-se com esta certeza incomodativa: todos aproveitam excepto nós. Não há dúvida, estou contra. E insisto: o rei vai nu.
*
- Licenciada em Filologia Românica
- Professora do Ensino Secundário
- Exame de Estado em 1973
- Orientadora de Estágios de Português do Ramo Educacional (Faculdade de Letras)

Sem comentários:

Enviar um comentário