A luta pela lusofonia, sempre foi uma aspiração concretizada no
terreno pelo herdeiro ao Trono português. Preso entre uma ditadura que
se opunha às livres aspirações dos povos de língua portuguesa e a
ligação fraterna que unia os povos que falavam a língua de Camões, que
reconheciam desde longa data os Reis de Portugal como seus, a luta por
esse Portugal que não confundia as habituais paradas de timorenses
vestidos de minhotos do velho slogan :”Portugal do Minho a Timor” com a
realidade muito mais complexa.A Republica (a democrática e a “menos
democrática”) fez de tudo, desde puro exílio até barcos avariados para
não perder o holofote sobre os seus gordos “filhos pródigos” em detrimento daquele que não tendo Trono é reconhecido com Rei de
Portugal de “Minho a Timor”
Foi preciso Portugal entrar na I Guerra Mundial com milhares de
mortos e uma economia falida para que se salvasse a única coisa que
tornava Portugal relevante na geopolítica internacional: os territórios
de “Além-mar”. Em boa verdade Lisboa ,a republicana que ia de S. Bento ao
Chiado, não via nas colónias mais do que “um quintal que saia demasiado
ao erário Público” nas próprias palavras de Salazar (que só em plena
guerra colonial viria a alterar a politica colonial). Esta visão
reducionista fez as suas vitimas, primeiramente nos próprios monárquicos
com , não menos que o ex-governador de Angola, Paiva Couceiro a
escrever a Salazar chamando-o de “inapto” para gerir o legado
territorial da nação e fazendo voz publica do erro que o Acto colonial
significava para o futuro. Paiva Couceiro teve razão, menos sorte
tiveram os portugueses que lá viviam.
A visão das várias republicas nunca foi diferente da do “quintal” e o
resultado foi a pura entrega desses territórios a todo o tipo de
vilanagem. Não admira que o reconhecimento destes povos, note-se …povos!
tenha sido sempre uma pedra no sapato dos mais altos representantes de
um regime que nunca teve semelhante reconhecimento pelo seu próprio
povo….. falamos de Portugal
D Duarte na senda da Lusofonia
Quando chega à maioridade D. Duarte Começa a fazer declarações
públicas incómodas, como aquela em que defendeu a autonomia de Cabinda.
Em 1971, foi transferido para a Metrópole, por ordem de Marcello
Caetano, numa tentativa frustrada de o silenciar e, entretanto, acaba
por ser desmobilizado. Posteriormente, em 1973, tentou organizar uma
candidatura de oposição às eleições, em Angola; foi então que Marcello
Caetano ordenou a sua expulsão daquele território, com escolta da
polícia política.
O excessivo centralismo político da metrópole conduziria
inevitavelmente à génese dos movimentos independentistas. D. Duarte era
partidário de uma maior participação dos africanos na vida pública e a
evolução para a democracia enquadrava-a numa federação ou comunidade
lusófona, com uma única moeda e Forças Armadas, mas com administrações
locais eleitas pelas populações, que poderiam exprimir a sua vontade com
independência. Desse modo, respeitar-se-iam as liberdades dos povos, ao
mesmo tempo que perduraria o «sentido histórico comum». Esperanças
baldadas… as estruturas democráticas e a consulta das populações são
realidades ainda miríficas, passados mais de vinte anos desde a estada
de D. Duarte em Angola.
Alguns chefes indígenas de África guardavam na memória a visita do
príncipe da Beira, D. Luís Filipe, filho de D. Carlos, em 1907. A
ligação aos povos do «Império» vem deste período particularmente
marcante da sua vida: D. Duarte sente um dever moral para com estes
povos que falam português, como de resto já o sentira seu pai.
Quando se deu o 25 de Abril, estava D. Duarte no Vietname, depois de uma
viagem a Timor e à Indonésia. A sua jornada por Timor, durante o mês de
Março, terminara com nova expulsão. D. Duarte visitou o interior da
ilha com Mário Carrascalão, seu antigo colega em Agronomia, e, quando se
preparava para uma conferência, foi convidado a dar uma volta num navio Cia. Marinha Portuguesa, que avariou propositadamente.
Na longínqua década de 80 do séc passado D. Duarte foi presidente da
Campanha “Timor 87”, uma campanha nacional da apoio à independência de
Timor-Leste (antiga colónia portuguesa que era, na época, ocupada pela
Indonésia) e aos timorenses residentes em Portugal e noutros países. Tal
iniciativa deu destaque à causa timorense, unindo personalidades como
Maria Cavaco Silva, esposa do então Primeiro-Ministro português, João
Soares, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o Chefe do Estado
Maior das Forças Armadas Portuguesas e os representantes das Centrais
Sindicais Portuguesas (a Intersindical e a UGT). Esse princípio veio a
culminar na consciência publica de todo o Portugal, fazendo voz publica
da indignação face à indiferença de S. Bento à realidade.Quem não se
lembra de Durão Barroso a apelar ao bom senso e ao politicamente
correcto quando em todo o Portugal a única coisa que se fazia ecoar nas
consciências era a imagem de três mulheres a rezarem a Nossa
Senhora…também eles rezavam em Português.Recordando uma recente
homenagem a Paiva Couceiro: “Portugal só estende as mãos a Deus“…o
resultado foi único com a comunidade internacional a entrar em sintonia
a e a forçar a Indonésia a reconhecer algo que foi confirmado em
eleições,Timor queria ser independente. Timor já o era há muito e no
terreno ficou entre outros apoios,a construção de um bairro de quarenta
casas para timorenses desalojados conseguido por D. Duarte. Através da
Fundação Dom Manuel II, a que preside, enviou ainda ajudas para
Timor-Leste no valor de várias centenas de milhares de euros muito
embora a maior contribuição tenha sido a visibilidade publica que D.
Duarte deu a esta Causa que era “perdida” para a geração do pós 74 que
estava no Poder
A distinção agora recebida por SAR D. Duarte só será estranha para
quem anda a dormir neste País governado por uma muito antiga
“canalhocracia”. Felizmente alguns de nós não andam ou já falaríamos
castelhanos há muito
Ricardo Gomes da Silva
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