Nem todos os agrupamentos humanos são políticos. Isto é, nem todos
assentem na relação horizontal de homens livres e iguais, num espaço
público. Não o foram os impérios nem as monarquias universais, muito
menos as relações de colonização ou de invasão, os que assentem em
comunidades internacionais étnicas ou os que derivam de meros tratados
comerciais ou de segurança. Estou a citar Aristóteles.
Nunca o poderia ser um mero governo mundial, mesmo o que assente
fragmentariamente na geofinança ou na geo-economia. Repito Hayek ou
Hannah Arendt, na senda do cosmopolitismo de Kant. Não o será uma Europa
assente na confederação de dois restos de império, o apátrida dos
economeiros e financistas que gritam que não há alternativa; ou o dos
securitários que aqui traduzem em calões estratégias de outras
potências.
Não repararam certos pulhíticos que, até em Portugal, desde a
teorização do Infante D. Pedro, a república não passa de um concelho em
ponto grande? Algo que se situa entre a aldeia e a república universal,
sempre à procura da república maior...Não há nenhum repúblico que não
subscreva a tese clássica que nos diz que a política é sinónimo de
democracia, até contra os usurpadores.
Estou farto dos terraplanadores, dos vendepátrias e dos niilistas.
Houve regentes da república que foram mais fiéis ao reino do que
pretensos reis que apenas serviram seus validos e as forças vivas que
nos traíram.
Os municípios, as freguesias e as regiões foram das mais autênticas restaurações que se produziram com a libertação de Abril. As freguesias e os concelhos precedem o Estado, em Portugal. Não quero que a Patuleia o recorde. Até no Brasil, ao contrário dos USA, os municípios fazem parte da "federação"...
O reino não é para os ministros, porque até os reis o foram para a
república (regnum non est propter rex, sed rex propter regnum).
Há muita gente que não entende que o "regnum" apenas emergiu nos
séculos XII e XIII quando as autonomias dos povos se libertaram das
teias do patrimonialismo feudal, do império e do papado. Só então se
voltou a conjugar a "polis", a "respublica" e os foros e costumes dos
homens livres, tanto nas nossas comunas sem carta, como eram as
freguesias, como nos concelhos, burgueses e rurais, escapados aos
senhorios. Foi desta gesta que nasceu Portugal. Não o matem com o
ministerialismo e as suas "revoluções vindas de cima", decretinas e
cretinas.
Infelizmente, à esquerda, domina o jacobinismo pombalista que
esqueceu o federalismo republicano e o socialismo centralista que nunca
estudou Proudhon, porque veio do estalinismo reciclado. Infelizmente, à
direita, ficou tudo salazarentado e nem sequer chegam ao princípio da
subsidiariedade. Encantam-se com os teóricos de gabinete dos vários
ministérios do interior e nem sabem quem é o autor da frase "comunas sem
carta". Preferem os sucessivos marchuetas que os empalmam em visitas à
província e grandiosos discursos de palanque.
O Rodrigo da Fonseca, o raposa da partidocracia, chega sempre no "day
after", liquida a reforma do Mouzinho da Silveira e junta
situacionistas e pretensos oposicionistas, como "alegres convivas", à
"volta da mesa do orçamento". A maior parte deles satisfaz-se com
restos. A caricatura continua. Espero que não se repita como tragédia.
Ou tragicomédia.
Claro em pensar, e claro no sentir,
é claro no querer;
indifferente ao que há em conseguir
que seja só obter;
duplice dono, sem me dividir,
de dever e de ser-
não me podia a Sorte dar guarida
por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
calmo sob mudos céus,
fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!
Na imagem, armas do chefe do meu partido. O que foi vencido em
Alfarrobeira. Mas venceu depois. O autor do primeiro tratado de política
em português. Dito "O Livro da Virtuosa Benfeitoria".
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