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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

terça-feira, 10 de abril de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


A carteira hoje pôs-me satisfeita. Enfiei a mão, sorrateira, ela baralhou e saiu um estado de alma. Ainda por cima aquele que mais faz parte do nosso quotidiano: a insatisfação.

Num genuíno dicionário de português, a palavra satisfação apenas devia aparecer como mero antónimo de insatisfação. Não tem por cá definição própria. Ao latim apenas fomos buscar a raiz da palavra para depressa lhe antepormos o prefixo que a nega.

Quem é que está satisfeito em Portugal? Rigorosamente ninguém. O maior optimista português também reclama contra a fila na repartição…

A insatisfação é intrínseca à portugalidade, está inscrita no nosso ADN. Vê-se mesmo que os únicos satisfeitos que por aí andam não têm este gene. Foram importados por engano. Alguém se esqueceu de verificar se estava preenchido o campo 459 da declaração alfandegária, que exige a insatisfação como permanente estado de alma.

Começa logo de manhã. “Como está, passou bem?” Nunca passou. Nunca. Normalmente vai passando.

Segue-se o tempo. Por mais que se esforce, não há forma de o clima conseguir satisfazer um português. Jamais está a contento.

Depois a vida - ai a vida! – que é sempre madrasta. Da sogra aos filhos, da escola ao trabalho, do hospital às férias, a insatisfação é um parasita constante, sem remédio nem cura. Nunca nada é perfeito. O verdadeiro português nem o que está perto da perfeição aprecia. Se não é perfeito, não satisfaz. Não se contenta com pouco, quer toda a perfeição a que tem direito.

Ao fim do dia, a política. Não conseguem apontar uma única medida que os satisfaça, ou, se conseguem, calam-na para que só as insatisfatórias brilhem no espaço sideral. Esta qualidade do insatisfatório aplica-se especialmente aos intervenientes. Aqui podemos fazer uma ressalva, pois é o único caso em que a insatisfação total se adequa à realidade. Valha-nos uma insatisfação justificada! Desculpa todas as infundadas.
Há 2 espécies de insatisfeitos. Completamente diferentes uma da outra, embora às vezes se encontrem à esquina.

A primeira são os insatisfeitos que gritam e esbracejam em público mas na frente do funcionário são cordeirinhos mansos. Reclamam, queixam-se, murmuram continuamente palavras de ódio entre dentes rangentes, mas afinal baixam os braços, aceitando resignados, e como cruz, a raiz, caule, flor e frutos da insatisfação.

A segunda espécie - nem vão acreditar - deu origem aos Descobrimentos. Afinal sempre pode ser uma virtude, a insatisfação… Estes insatisfeitos são os que não gostam desse estado de alma e, por isso, lutam em busca da resolução do busílis da questão. Sofrem de inquietude aguda e não ficam satisfeitos enquanto não se livram do que lhes rói a alma. São os que não desistem, actuam, escrevem no livro amarelo, emigram, lutam, vão àquela manifestação por aquilo em que acreditam mesmo que sejam só vinte.

Afinal, não fora os insatisfeitos não haveria Portugal, ou não fossem D. Afonso Henriques, D. João I, o Infante D. Henrique, os conjurados, D. João IV, uns perfeitos insatisfeitos…

Na essência, somos produto das duas espécies, dependendo das circunstâncias, e neste momento Portugal precisa urgentemente da segunda. A brava.

Leonor Martins de Carvalho

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