S.A.R. o Senhor Dom Duarte e Manuel Leal Freire
Hoje fala-se da Europa das Regiões. Ao tempo da sua construção e nos mil anos que se seguiram, era a Europa das Monarquias.
O
primeiro reino a estabiIizar-se na nova ordem e que ha-de durar milenio
e meio (os historiadores falam dos quarenta reis que em tão dilatado
período a erigiram) foi a França.
A
grande gesta começa no baptismo de Clovis por outros chamado Clodoveus,
trazido à fé de Cristã por São Remígio, arcebispo de Reims, cidade
ainda hoje célebre pela sua catedral.
Carlos
Magno, São Luís, Filipe o Belo, Luis XIV, Luis XVI, Napoleao, Luis
XVII!, os cristãos e os hereges, os momentos de grandeza e de desânimo,
tudo ali se filia.
Aliás,
Clodoveus como Caros Magno, mais do que cabouqueiros da simples França
foram-no de todoss os estados da Europa Central, nomeadamente da
Alemanha, da Bélgica, da Holanda, do Luxemburgo… De resto, ao tempo, as
fronteiras mantinham-se imprecisas e a Germânia simbolizava toda uma
vasta região.
Clotilde,
a santa mulher de Clovis, era uma princesa burgunda. Pois a Burgundia
estava dividida em dois reinos, com capitais, respectivamente, em Viena e
Genebra.
A
vocação cristã da França, na bela imagem de Lacordaire ou o seu génio
do Cristianismo, para se usar o título devido a Lamartine, como toda a Gesta Dei per Francos, radica efectivamente naquela cerimónia batismal.
Na
Inglaterra e nos extremos ultimos da Germania, onde a cristianizacão
foi obra de monges, só corn a instituição de monarquias cristãs, os
povos ganharam dimensão nacional.
Tal como a Península Escandinava se moldou politicamente através das suas monarquias.
O
mesmo sucedeu para além dos limites do Imperio. Partindo de Hamburgo,
os missionários aportaram à Escandinavia, cristianizada por reis que
foram santos ou receberam nomes de profunda influência religiosa:
Cristiano tornou-se comum entre os membros da casa real da Dinamarca,
Suecia ou Noruega, persistindo ainda nos nossos dias, ao lado de Olavo,
este a radicar mesrna em monarca elevado à dignidade dos altares. A
Boémia, que por longos anos foi monarquia independente, deve-se a dois
grandes missionários, tambem eles canonizados, São Cirilo e São Metódio…
O mesmo sucedeu à Morávia e à Po1ónia, ao Montenegro e à Servia, à
Bulgária e à Ucrânia… De resto, os nomes mais em voga naquelas regiões
rememoram os monarcas que delas fizeram reinos: Boris, Vladimiro,
Estêvão, Venceslau, Simeão, de parceria corn as variantes lacais de João
e José – nomes bíblicos – e Carlos ou Alexandre – nomes heróicos…
O mosaico de estados tem variado profundamente, excepções feitas a Portugal e a França, secularmente estabilizados.
A
Rússia, a Alemanha e a Jugoslavia testificam-no. Na primeira, cabem
mais de cem nacionalidades e mesmo só na sua dimensao europeia, canatos e
reinos abundaram. Na Alemanha, há quatrocentas familias que descendem
de reis de outros tantas paises. O drama jugoslavo é por demais
conhecido.
A
nós, interessa-nos, sobretudo, o que se passou aquém Pirinéus, onde
passaram os vândalos, deixaram sólidos vestígios os suevos e se fixaram
os visigodos.
Aqui, depois de uma autêntica guerra religiosa que atirava uns contra os outros os próprios membros da familia real, dá-se a conversão de Recaredo.
Aqui, depois de uma autêntica guerra religiosa que atirava uns contra os outros os próprios membros da familia real, dá-se a conversão de Recaredo.
E,
como acontecera em toda a parte, a conversão do soberano e das mais
altas figuras do Reino ao catoIicismo, terá também na Espanha
consequêcias decisivas.
Começa
a fusã das raças, a unificação do direito, a criacão dum verdadeiro
espírito nacional, temperado embora pelo cristianismo de sua essência
universal.
A fé com efeito tudo domina. E até os reis, para o serem, precisam de um novo sacramenta, a unção.
Toledo torna-se o simbolo da nova realidade e da nova realeza. Os seus concílios volvem-se permanentemente fonte de direito e de aperfeiçoamento da fé e dos costumes.
Toledo torna-se o simbolo da nova realidade e da nova realeza. Os seus concílios volvem-se permanentemente fonte de direito e de aperfeiçoamento da fé e dos costumes.
E ao monarca passou mesmo a chamar-se oitavo sacramento da nação.
De Recaredo a Rodrigo, morto nas margens do Crissus, ante a invasão berbera, há uma notável pleíade.
De Recaredo a Rodrigo, morto nas margens do Crissus, ante a invasão berbera, há uma notável pleíade.
E,
quando das furnas cantábricas emergir o levantamento contra o árabe que
a traição de uns e a cupidez de outros permitiu se instalasse na
Península, são ainda descendentes de Recaredo quem dá o grito de
insurreição, comanda a guerrilha e obtém as primeiras vitórias que,
todavia, só se consumarão quando Gonçalo de Córdova, às ordens de
Fernando e Isabel, outros dois descendentes de Recaredo, expulsar de
Granada, Boabdil, descendente de Mafoma.
Mas,
aquém e além Pirinéus, os Monarcas reconhecem, mesmo que, contra a
vontade, o primado espiritual e até institucional da Igreja.
Não é outro o significado da coroação, através do cerimonial da sagração.
O
monarca, para o ser (e assim sucedia entre os francos e os visigodos,
os celtas e os britânicos), tinha de receber a unção da parte dum legado
pontifício, em regra o bispo do local.
Este
submisso ajoelhar de quem tudo passa a mandar, com direito de vida e
morte até sob os súbditos e como dono único das riquezas que podia dar e
confiscar, ante um prelado tantas vezes obscuro, simbolizava bem que no
seu mosaico de reinos a Europa se afirmava como unidade espiritual.
«Politique d’ Abbord – Reflexões de um Politólogo», opinião de Manuel Leal Freire
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