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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sexta-feira, 25 de maio de 2012

FAZ HOJE 90 ANOS O GRANDE MONÁRQUICO GONÇALO RIBEIRO TELLES

Gonçalo Pereira Ribeiro Telles  (Lisboa, 25 de Maio de 1922) é um arquitecto paisagista e político.

Figura notável das questões do ordenamento do território e do uso da terra em Portugal, Gonçalo Ribeiro Telles licenciou-se em Engenharia Agrónoma e terminou o Curso Livre de Arquitectura Paisagista, no Instituto Superior de Agronomia. Iniciou a sua vida profissional como assistente deste instituto, tornando-se discípulo de Francisco Caldeira Cabral. Mais tarde seria professor catedrático convidado da Universidade de Évora, criando as licenciaturas em Arquitectura Paisagista e em Engenharia Biofísica.

Iniciou a sua intervenção pública como membro da Juventude Agrária e Rural Católica, acentuando a sua oposição ao regime nas sessões do Centro Nacional de Cultura. Com Francisco Sousa Tavares fundou, em 1957, o Movimento dos Monárquicos Independentes, a que se seguiria o Movimento dos Monárquicos Populares, assumindo-se claramente contra o Salazarismo. Em 1958 manifestou o seu apoio à candidatura presidencial de Humberto Delgado. Em 1967, aquando das cheias de Lisboa, impôs-se publicamente contra as políticas de urbanização vigentes. Em 1971 ajudou a fundar o movimento Convergência Monárquica.

Após o 25 de Abril fundou o Partido Popular Monárquico, a cujo Directório presidiu. Foi Subsecretário de Estado do Ambiente nos I, II e III Governos Provisórios, e Secretário de Estado da mesma pasta, no I Governo Constitucional. Em 1979 integrou a Aliança Democrática, liderada por Francisco Sá Carneiro. Deputado à Assembleia da República, eleito em 1980, 1983, 1985, integrou o VIII Governo Constitucional, como Ministro de Estado e da Qualidade de Vida. Durante esse período criou as zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e lançou as bases do Plano Director Municipal. Em 1984 fundou o Movimento Alfacinha, com o qual se apresentou candidato à Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido eleito vereador. Posteriormente fundou o Movimento o Partido da Terra, de que é presidente honorário, desde 2007.

Entre os seus restantes projectos, referenciem-se os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, que assinou com António Viana Barreto e com o qual recebeu, ex aequo, o Prémio Valmor de 1975. Projectou também o Jardim Amália Rodrigues, junto ao Parque Eduardo VII, em 1996. De 1998 a 2002, por iniciativa da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, coordenou uma equipa técnica responsável por um conjunto muito vasto de projectos, em Lisboa e na Área Metropolitana, relativos às estruturas verdes principal e secundária, hoje em diferentes fases de implementação, tais como o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica, o Vale de Chelas, o Parque Periférico, o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa, da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental.

Em 1994 recebeu do então Presidente Mário Soares, a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.

Wikipedia

Gonçalo Ribeiro Telles, Arquitecto Paisagista
por Mendo Castro Henriques

Discurso pronunciado por ocasião de Sessão de Homenagem a Gonçalo Ribeiro Telles e Eduardo Lourenço, em instalações da Câmara Municipal do Funchal , em 11 de Maio de 2007, por ocasião do Congresso Mundial dos Jardins.

Encontramo-nos aqui reunidos para um acto de justiça, que é também um tributo de amizade e gratidão. Efectivamente, há muito por onde homenagear Gonçalo Ribeiro Telles. Pensador, Projectista, Professor, Governante, Legislador, Deputado e Vereador, homem da cidade e homem da terra, monárquico democrata, homem de causas e de antes “quebrar que torcer”, esteve presente e sempre solidário em viragens decisivas da história portuguesa contemporânea e com um impacte que deixa às gerações seguintes muito que pensar e continuar. Na obra A Utopia e os pés na Terra, de 2003 – o livro e a exposição levada a cabo pelo Museu de Évora – um admirável conjunto de autores conhecidos prestou um tributo exaustivo às suas contribuições em todos os domínios referidos.

E contudo, a única homenagem que seria aceitável para este homem invulgar e exemplar, precursor das ideias e das práticas do Desenvolvimento Sustentável, do Ambientalismo, do Ordenamento, da Ecologia seria adoptar essas mesmas ideias de Desenvolvimento Sustentável, do Ambientalismo, do Ordenamento, da Ecologia pelas quais incansavelmente se tem batido, desde que começou a trabalhar há muitas dezenas de anos. Muito concretamente, seria dar continuidade aos instrumentos de sustentabilidade que ele criou, e que são os diplomas sobre a Reserva Agrícola Nacional e a Reserva Ecológica Nacional e todo o pensamento de cooperação entre o homem e a natureza que lhes subjaz.

Não vou fazer aqui sequer o esboço biográfico de Gonçalo Ribeiro Telles, já levado a cabo, e muito bem, pelo arquitecto Fernando Pessoa em livro de 2001. Mas há datas que ficam, e há personalidades que marcam e que se devem referir para que a posteridade não pense que tudo se passou como num sonho.

O primeiro desses nomes é Joaquim Cardoso Gonçalves, tio-avô de Gonçalo Ribeiro Telles. A ele confessa dever muita da sua formação e do seu empenho nas questões sociais e em causas cívicas. Desde que militou na Juventude Agrária Católica (JAC), na década de quarenta, que se começou a aperceber das falhas brutais do Estado Novo – o Estado a que alguns agora querem artificialmente chamar 2.ª República não tanto para elogiar alguns benefícios da mesma, como para branquear os males das outras duas.

Um segundo nome é o de Francisco Caldeira Cabral, com quem Ribeiro Telles entrou em contacto no Instituto Superior de Agronomia, no então recente Curso de Arquitectura Paisagística, que criou a primeira geração desse notável corpo de profissionais.

Um terceiro nome é o de Fernando Amado, dramaturgo e criador da tabela olímpica portuguesa, ao qual Ribeiro Telles se junta desde 1945, e que soube congregar os sectores monárquicos para além dos impasses do “integralismo lusitano” e torná-lo uma força de oposição à ditadura do Estado Novo.

A Arquitectura Paisagística como ferramenta, as Causas Cívicas como objectivo e a Democracia monárquica como finalidade última são os esteios que têm norteado toda a intervenção de Gonçalo Ribeiro Telles. E para que não haja dúvida que é ainda uma obra em progresso, deixo aqui a referência que na passada Segunda-feira, dia 7 de Maio, deste ano de graça de 2007, a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou a integração no Plano Director de Lisboa do Plano Verde, pelo qual o Gonçalo e a sua equipa se batiam há mais de dez anos.

Como projectista, creio ser pacífico que o Parque Gulbenkian é a primeira obra que acorre à mente quando recordamos os muitos projectos de relevo em que participou Ribeiro Telles. Desde que entrou para os quadros da Câmara Municipal como técnico de 3.ª classe em 1953, depois de ter sido tarefeiro desde 1951, criou juntamente com Azevedo Coutinho uma equipa que revolucionou a estrutura dos espaços verdes em Lisboa. Sempre inovador, mas sempre inconformado. Era engenheiro de 2.ª classe em 1958, quando se elaborou o primeiro Plano Director de Lisboa. Tendo proposto com o Prof. Caldeira Cabral uma renovação da Avenida da Liberdade que não foi aceite, preferiu demitir-se em vez de ceder aos interesses do betão. Esta ruptura marcou o paisagismo em Portugal, que veio a contar com muitos outros nomes, como os de Ilídio de Araújo e António Viana Barreto.

Gonçalo Ribeiro Telles colaborou com outros colegas em numerosos projectos: Plano de Urbanização de Mértola, Plano Regional de Loures; estruturas verdes da Lapa, Alfama, e Castelo em Lisboa; Vale das Abadias, na Figueira da Foz; zona Quarteira-Albufeira e ilha da Armona. Entre a concepção de espaços públicos emblemáticos da cidade de Lisboa, destaca-se o recente Parque Amália Rodrigues e sobretudo o Parque da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1962, com António Viana Barreto, pelo qual receberam ex aequo o Prémio Valmor de 1975. A paisagem das lezírias, do montado e até a Ilha dos Amores de Camões serviram de inspiração ao Parque. E para escutar as suas palavras: “O parque da Gulbenkian é um jardim para ser pisado, onde se pode olhar para o chão e contar sapos, ver pássaros. É um jardim de cenários que se sucedem, com luz e sombras, que se vê passeando, zonado e compartimentado. Enfim, bom para namorar.”

Nas suas obras e entrevistas, surge o pensador dos elementos cósmicos, em conflito provocado pelos actuais modelos errados de crescimento e de desenvolvimento económico não sustentável. A cidade e o campo estiveram sempre interligados, de um modo indispensável. Não existe cidade sem campo, nem campo sem cidade. Tanto um como outro são consistentes. Existem várias maneiras de criar interfaces entre ambos, seja com o abatimento das muralhas, com a criação de quintas de recreio, com uma ligação que é uma questão de vida ou de morte, para ambas. A cidade sem o campo morre. E quando não existe essa interligação e planeamento, surge o caos. O seu artigo “O homem perante a paisagem”, publicado na revista Cidade Nova em 1956, é talvez a melhor súmula do seu pensamento.

Se enquadrarmos estes conceitos numa filosofia, teríamos de evocar as cosmologias onde circulam os elementos da terra e da água, do fogo e do ar. Além de pensar a cidade e a terra em termos vanguardistas, Ribeiro Telles sabe e ensina que as urbes e a sua civilização são precários arranjos humanos arrancados às selvas primordiais, periodicamente renovadas pelo fogo e envolvidas pelo território e por aquíferos e águas de superfície, num equilíbrio em que o homem introduz aquilo a que Cícero chama a “segunda natureza” que é a paisagem. Tal como Giambattista Vico, o pensador da modernidade mediterrânica, também Ribeiro Telles tem a sua Ciência Nova. Ouçamos as suas palavras: “A paisagem quer dizer país, região + agem, agir, ou seja, agir sobre a região. Quem age sobre a região, é o Homem. A paisagem é uma construção humana, feita, fundamentalmente, com materiais vivos. Há cerca de 50 anos, o que era contínuo na paisagem era o sistema natural. Tudo isto era uma paisagem, onde o sistema natural dominava, e era contínuo. As cidades eram pontos nessa continuidade de espaço natural, agrícola, florestal, de pastagens ou abandonado. Hoje, é exactamente o contrário, o contínuo na paisagem é o construído, e o pontual, é o que resta de agricultura, de espaço livre, que passou a ser descontínuo.”

Sem ser um académico no sentido estrito, Gonçalo Ribeiro Telles criou à sua volta uma escola, dada a sua entrega total ao ensino e a partilha desinteressada dos seus conhecimentos com colegas e alunos. Foi um dos impulsionadores e continuador, na Universidade de Évora, da licenciatura de arquitectura paisagística, fundada pelo professor Caldeira Cabral, na Universidade de Lisboa em 1942. Os frutos dessa licenciatura são óptimos em termos humanos, com excelentes arquitectos que ganham prémios de Urbanismo no estrangeiro e trabalham muito bem em Itália, França e Espanha e já ganharam concursos. Em Portugal, contudo, experimentam as dificuldades resultantes de as Câmaras Municipais não gostarem dos arquitectos paisagísticos que trazem o sistema natural que não rende votos nem taxas camarárias. Foi assistente no Instituto Superior de Agronomia e nos cursos de Planeamento Regional e Urbano e de Engenharia Sanitária da Universidade Técnica de Lisboa. É professor catedrático da Universidade de Évora desde 1976. Publicou juntamente com Caldeira Cabral o livro A Árvore, em 1960, uma “bíblia” no ensino e nos ateliers dos arquitectos paisagistas.

Na vida pública, foi sempre um monárquico democrata. A partir de 1945, um grupo de personalidades congrega-se em torno de Fernando Amado, que unificava as várias correntes de monárquicos progressistas. Constituiu-se o GAMA, e depois o Centro Nacional de Cultura (CNC) com a intenção de ser um local de debate de ideias e valores da cultura e do património portugueses. O CNC viria a formar toda uma geração empenhada em causas cívicas e sociais e praticava uma oposição ao salazarismo distinta do radicalismo de comunistas e republicanos. Gonçalo Ribeiro Telles participa nessas reuniões juntamente com o grupo da revista Cidade Nova. Com Francisco Sousa Tavares e outros fundou, em 1957, o Movimento dos Monárquicos Independentes, a que se seguiu o Movimento dos Monárquicos Populares, assumindo-se claramente contra a ditadura. Em 1958, perante a escolha entre democracia e ditadura, apoia a candidatura de Humberto Delgado e, em 1959, subscreve uma carta aberta contra Salazar encabeçada pelo Padre Abel Varzim que congregava apoios e que custou a prisão a muitos subscritores.

O regime salazarista não permitia grandes oportunidades de livre expressão. Em 1967, aquando das chuvas torrenciais e cheias de Lisboa, Gonçalo Ribeiro Telles, para espanto de muita gente, foi à televisão explicar a calamidade e apontar o dedo à má política de urbanização de Lisboa. A desarborização das bacias hidrográficas, a proliferação de habitações em situações de risco nas cabeceiras de linhas de água e em leitos de cheias – e sobretudo a falta de condições urbanísticas condignas nos então “bairros de lata” fazia com que milhares de lisboetas vivessem proletarizados. Foi um choque nacional. Era a primeira vez que se debatia abertamente, e sem qualquer limitação, problemas que a ditadura então silenciava.

Com o advento do Marcelismo em 1969 e a evolução da Guerra de África, a vida política ia tomando novos contornos, criando a oportunidade de nova participação na vida pública. A convite de Mário Soares, Ribeiro Telles concorreu nas listas da CEUD, em eleições onde os monárquicos da CEM de Barrilaro Ruas também obtiveram apreciáveis resultados. Foi dirigente da Convergência Monárquica desde 1971 e, em 1973, com Barrilaro Ruas, consegue que o 3.º Congresso da Oposição se passe a denominar 3º Congresso da Oposição Democrática, em vez da recôndita fórmula “republicana”.

A revolução de 25 de Abril projecta-o para a primeira fila das figuras políticas do país. Pouco tempo depois, em Maio de 1974, nascia o Partido Popular Monárquico, sendo Gonçalo Ribeiro Telles o Presidente do Directório. Apesar do escasso número de votos em eleições, é como um “Lince da Malcata” na política portuguesa, expressivo pelos valores do ambientalismo e municipalismo que introduziu.

Homem de ideias firmes e de uma frontalidade a toda a prova, Gonçalo Ribeiro Telles é chamado para Sub-Secretário de Estado do Ambiente do 1.º Governo Provisório, mantendo-se nesse posto durante o 2.º e 3.º governos. A par das liberdades individuais e da democracia participada, o 25 de Abril introduzia as políticas sociais e do ambiente. Em Outubro de 1975, é nomeado Secretário de Estado do Ambiente, iniciando a construção de uma política ambiental e dando corpo a um conjunto de políticas de conservação da natureza, ordenamento do território e planeamento urbanístico, que estão na origem de muitas das políticas da actualidade. Contudo, após a sua saída do governo em 1976, as prioridades governamentais foram outras.

Um homem de visão, Francisco de Sá Carneiro, constitui a Aliança Democrática em 1979, chamando por sugestão de Carlos Macedo o PPM e o CDS, após conversações iniciais, para integrar o PS. Ao regressar ao poder com a Aliança Democrática, em 1981, Ribeiro Telles desempenha o cargo de Ministro de Estado e da Qualidade de Vida no VIII Governo Constitucional, liderado por Pinto Balsemão, entre 04-09-1981 e 09-06-1983. Dessa passagem pelo poder e após demoradas e complexas conversações com muitos sectores, Ribeiro Telles deixou, entre outros legados, uma legislação decisiva: a criação das zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional (RAN) e da Reserva Ecológica Nacional (REN) – zonas essas nas quais a construção foi proibida ou condicionada. Esses diplomas inscreveram Portugal na lista de países civilizados em matéria de protecção ambiental e ordenamento do território – aqueles onde não é possível construir em qualquer lado, mas apenas onde o benefício económico da construção não ultrapasse de forma chocante os malefícios causados à paisagem ou aos recursos naturais. Foram ainda lançadas as bases dos diplomas fundamentais que são os Planos Directores Municipais (PDM) com o ordenamento do espaço a nível local, dando o primeiro passo para a futura integração no ordenamento regional, que surgiu em 1983 com a criação dos Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT). Foi o 1.º Governo de Cavaco Silva que dotou o Ministério do Ambiente de estruturas e fundos suficientes (a dotação foi multiplicada por dez, em 1985) para o transformar de “ministério dos pareceres” em ministério estruturante da vida nacional; consolidava-se a obra de Gonçalo Ribeiro Telles e por esse motivo, por solicitação de numerosos governantes da época, o Presidente da República Mário Soares atribuiu-lhe mais tarde, em 1994, a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, a mais alta condecoração que por serviços cívicos pode ser prestada a um cidadão.

Foi esta “arquitectura legislativa”, com algumas alterações de rumo, nem sempre no melhor sentido e com a oposição declarada dos industriais do betão – o mesmo sector que em Inglaterra tenta desacreditar o Príncipe Carlos –, que permitiu a Portugal ter uma política do ambiente sustentável.

Após deixar o Governo, sempre com a mesma simplicidade com que procura viver quem anda a pé em Lisboa e toma a bica com os seus vizinhos e conhecidos, Gonçalo Ribeiro Telles desempenha cargos de deputado pelo PPM na Assembleia da República. Desfeita a AD e envolvido em polémicas, abandona o PPM, juntamente com muitos dos seus dirigentes históricos. Desde logo se organiza em 1984 o Movimento Alfacinha com vista às eleições da Câmara Municipal de Lisboa. Congrega numerosos apoiantes de todos os sectores e consegue 5% do eleitorado, tornando-se Vereador e tirando a maioria absoluta a Nuno Abecasis. Voltando ao PPM em 1985, Ribeiro Telles e seus colaboradores concertam um acordo com o PS, que lhes permitirá eleger três deputados para a Assembleia da República. Nesta fase é crucial a sua participação na elaboração da Lei de Bases do Ambiente. A exigência de uma nova plataforma para as questões ambientais e o municipalismo, sem a etiqueta do PPM, leva a criar o Movimento Partido da Terra do qual ainda recentemente, em 26 de Março de 2007, foi eleito Presidente de Honra.

Digamo-lo claramente e sem rebuços: se Portugal não se encontra completamente vandalizado, se ainda restam algumas zonas que servem todos e não apenas alguns, deve-se à existência da RAN e da REN. Mas, ao longo dos últimos 25 anos, esse derradeiro obstáculo tem sido, disfarçada ou descaradamente, combatido por autarcas, governantes e especuladores imobiliários. Precisamente porque essas zonas foram preservadas, é aí que se concentra a cobiça voraz da construção.

Mas Gonçalo Ribeiro Telles tem por característica a tenacidade; não abandona combates a meio. A Câmara Municipal de Lisboa, com João Soares em 1999, assinou protocolos com os Cursos de Arquitectura Paisagista de Lisboa e de Évora, para desenvolver planos de pormenor de zonas como Chelas, Ameixoeira e vale de Alcântara, iniciando também o Corredor Verde entre o Parque Eduardo VII e Monsanto. No Gabinete do Plano Verde, na Rua do Comércio, onde várias vezes o visitei, era possível sonhar com Ribeiro Telles e a sua equipa o que deveria ser a Lisboa do séc. XXI: uma cidade-região onde as zonas construídas alternam com corredores verdes. A cidade e o seu envolvimento agrícola surgem como uma unidade de planeamento, duas componentes do “sistema humano” que têm como sustentáculo o território. Em vez da “simplificação” que inviabiliza o longo prazo, a “osmose” entre a natureza viva e as instalações humanas.

Entre Lisboa e Coruche, entre a cidade e a terra, Gonçalo Ribeiro Telles mantém a irreverência que se lhe tornou característica. Continua a criticar os “disparates” que se fazem no país. Como seria Portugal hoje, e quanto melhor não seria se os governantes tivessem gasto tempo, atenção e respeito a escutar o que ele sempre disse, os avisos que foi fazendo ao longo dos anos e dos governos, e que sempre quiseram desclassificar como ideias de um lunático – como seria o país e a paisagem: isso, podemos todos sonhar.

E, todavia, não há ninguém mais terra-a-terra do que ele: previu o que ia ser o desastre da primeira geração de ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais); previu as cheias catastróficas que aconteceriam nos anos de mais chuva devido à impermeabilização dos solos; augurou a inutilidade caríssima que ameaça ser o Alqueva; explicou por que razão a floresta vai continuar a arder; avisou contra o abandono da agricultura, o congestionamento dos centros urbanos, a desocupação do interior do país; alertou sobre a necessidade de independência nacional face aos apetites espanhóis e a necessidade de uma democracia garantida por um rei, à semelhança dos desenvolvidos países europeus. E muito mais avisou, qual Bandarra do séc. XXI, que os decisores se recusaram a escutar, presos aos “lobbies” dos negócios bancáveis às clientelas onde se cimenta o seu poder.

O arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles é conhecido por ter razão antes dos acontecimentos. Foi assim com a Ecologia; é assim, agora, com o Ordenamento do território e o Desenvolvimento sustentável; será assim, um dia com as suas outras Causas cívicas e a Democracia monárquica.

Saibamos nós hoje, ao admirar a sua pessoa, homenagear-lhe as ideias, desenvolver-lhe o legado e, implicitamente, comprometermo-nos em lhes dar continuidade e força renovada.

Realistas 

A Real Associação da Beira Litoral, sua direcção e seus associados, gostaria de endereçar muitos parabéns para o nosso Mestre Gonçalo Ribeiro Telles, neste dia tão especial. Desejamos-lhe muita saúde, Paz, alegria e felicidade. Bem-haja! E que Deus o abençoe e guarde! 

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