Percorrer os sites de "informação", media, os blogges, ou
redes sociais é um perigo para quem, como eu, sofra com a expressão
"roubar"! Todos, ou quase todos, afirmam que estão a ser roubados, pelos
outros. Subvalorizando a ira, eu diria que todos se sentem roubados por
todos os que não são família ou amigos muito chegados; assim, eu serei
um dos ladrões para a maioria. O alvo principal desta espuma são (por
esta ordem) os políticos, gestores, presidentes (do que for),
empresários, artistas, actores, funcionários públicos, agentes de
autoridade, e congéneres, e todo e qualquer humano com sucesso. Todos
roubam. Dito de outra maneira, todos roubam e é por isso que as
"víctimas", que resmungam, não têm a quantidade de dinheiro que merecem!
Esta ladainha já não é uma canção é uma fé. A obcecação pelo dinheiro
alheio é um dos problemas da independência moral dos portugueses se
abrirmos a página da ascensão e visibilidade social que a maioria
almeja. Uma coisa é diagnosticar uma acção outra é contabilizar a acção.
Eu penso que muita da lisura com que
se trata a corrupção se deve à arquitectura da República e que esta tem
na sua espinha os piores vícios para os cidadãos. Para mim, sem dúvida,
a forma como a sociedade se organizou após o golpe terrorista de 1910
e a "revolução" de 1974 foi a mesma e com o fito de apropriação do bem
comum, vulgo, o Estado (que devia ser uma entidade independente de
políticas, gestão pública e governo parlamentar). Os portugueses gostam
de ser roubados, parece, nem que seja para manterem o hábito de se
sentirem roubados, e não só, para se refugiarem da própria inércia e da
falta de coragem para arriscar.
Se esta crise servisse para os
portugueses aprenderem com ela eu diria que é bem vinda. Mas não. Poucos
irão perceber que a gestão do estado, nos últimos 30 anos, foi a
principal razão do descalabro financeiro que está e irá afectar todos,
sem excepção, poucos perceberão que também são responsáveis pelo "roubo"
de que se sentem atingidos, poucos notarão que não têm a liberdade para
escolher o regime em que vivem, poucos sentirão que a palavra "roubo"
que exaltam devia ser substituída por "egoísmo", muito poucos terão
vontade de mudar o que for porque mudar, transformar, limpar, construir
com o nosso risco, exigir de nós tanto quanto exigimos aos outros é um
roubo, um assalto, e não há nada mais grave neste mundo do que roubarem
as "nossas" conquistas e direitos.
João Amorim
Fonte: Os Carvalhos do Paraíso
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