Monarquia :a peça que torna Portugal coerente |
«Aos Republicanos Patriotas
Caros adversários de hoje:
São numerosos nas nossas fileiras os antigos republicanos que,
mercê da sua recta intenção, da sua culta inteligência e de séria
meditação nas realidades da vida contemporânea, se converteram à
ideologia monárquica.
E abundam muito mais, os filhos já esclarecidos, de republicanos ainda iludidos.»
«Isto bastante nos desvanece, mas não podemos sentir completa
satisfação enquanto notarmos no campo contrário, a presença de muitos
idealistas e honestos, de tantos «homens bons» cujo lugar deveria, sem equívoco, ser do lado de cá.
Só o respeito humano e certos preconceitos constituem obstáculo a que
muitos destes reconheçam publicamente as instituições monárquicas, como
as únicas capazes de conciliar os interesses da pessoa com os interesses
da colectividade.
Sei muito bem, senhores, (é aos idealistas, aos dignos, que me dirijo, e
não ao refugo da sociedade, ou aos «profiteurs» da política) que um dos principais motivos da vossa adesão aos ideais republicanos foi a sincera afeição que alimentais pela liberdade humana.
Nobre ideal esse, perante o qual me curvo sem constrangimento. Não que
eu reverencie a Liberdade «para tudo»; mas apenas porque amo também as
liberdades, filhas da independência outorgada por Deus a cada homem, e
que nenhuma outra criatura tem direito de violar ou de limitar sem justo
motivo.
Dessas liberdades, dessa independência, também eu sou dedicado adepto, e por isso compreendo a vossa paixão política.
Nada, porém, na Monarquia se opõe a essa inclinação da vossa
mocidade, pois é, pelo contrário nos regimes republicanos, que, nascida a
antinomia — Liberdade, Autoridade, esta se tem ido cada vez mais a
impor, em detrimento daquela.
E à medida que por esse mundo têm ido sendo depostas as
Monarquias, sob o pretexto falso de constituírem obstáculo, à liberdade,
têm-lhes sucedido a prazo mais ou menos longo os regimes de autoridade
ilegítima — consequência fatal dos abusos de uma Liberdade ilícita. Pode
dizer-se que hoje em dia, na generalidade das Repúblicas, há muito
menos liberdade do que na generalidade das Monarquias actuais, e do que havia nas Monarquias predecessoras daquelas.
E até noutras repúblicas onde ainda os cidadãos usufruem certos
direitos, estes vão nuns casos, sendo progressivamente restringidos a
pretexto de «defesa da Liberdade», e noutros casos
paradoxalmente considerados excessivos pela Autoridade, que espreita,
carrancuda, a ocasião para se instalar e dominar em absoluto.
(…)
Assim caros adversários de hoje, o tão sedutor ideal da Liberdade que
vos conduziu para a república, acabará por vos orientar, e muito
logicamente agora, para a Monarquia autêntica, depois da necessária
rectificação de rumo.
(…)Mas dentro do vosso patriotismo um só
caminho se vos depara — o da Monarquia. Aí vereis autoridade sem
opressão, liberdades sem desordem, respeito sincero pela vontade da
nação, igualdade de todos perante a lei.
Entre o vosso republicanismo e o vosso patriotismo tem que se travar duro combate porque sois homens de consciência.
Decidi-vos com presteza, pois cada hora que vamos vivendo é mais grave do que a anterior.
Se eu não tivesse a certeza de que o vosso patriotismo acabará
por vencer o vosso republicanismo, não vos teria dirigido uma só palavra
que fosse.»
Prédicas de um Monárquico, Jacinto Ferreira 1957
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