Perguntava-me hoje um amigo tailandês por que razão não tinha Portugal
um Rei. Aduziu: "vocês, que tiveram o mais longo império, os primeiros e
os últimos a abandonar as possessões
que tinham em África, na América, na Ásia e na Oceania, gente tão
orgulhosa do passado grandioso que tiveram, país tão pequeno que tem uma
das línguas mais falados no mundo, que..., que..., que....". Assim se
prolongou em perífrase demonstrativa do interesse que lhe suscita o
nosso país. Fiquei encantado por assistir a tal lição até que, para
terminar, deixou a seguinte observação: "bem, se países tão ricos e
progressivos como o Reino Unido, a Holanda, a Dinamarca, a Noruega, a
Suécia, o Luxemburgo, o Japão e até a Espanha preservaram as suas
monarquias, Portugal talvez a tenha perdido porque perdeu a razão e se
esqueceu do que fora". Não encontrei palavras para lhe dizer que assim
fora, que um grupo insignificante de pistoleiros e gente mesquinha e
medíocre nos havia morto o Rei em plena rua, que desde 1910 Portugal se
tinha, primeiro mexicanizado, depois cloroformizado e agora não sabia o
que fazer com o futuro. Senti vergonha, confesso, por um siamês nos
olhar como uma Albânia, uma Guiné Papua ou uma República Dominicana. Mas
tinha razão. Deixamos que se perdesse o arrimo fundamental da
autenticidade portuguesa, substituímo-lo por generais sem batalhas,
almirantes sem frota, pequenos plumitivos sem obra, agitadores e
homenzinhos escolhidos por paixão partidária, impostos pelas espadas ou
sorteados por grupos, camarilhas e facções. Perdemos tudo, não ganhámos
nada. E não somos só nós: os gregos, os romenos, os húngaros e os
búlgaros queixam-se do mesmo. É fácil destruir as monarquias, mas depois
fica para todo o sempre o remorso, o vazio e o sem sentido de toda uma
comunidade.
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