Comunicando a partir de uma
Londres rendida a um bebé, a repórter da CNN fez beicinho: "mas porque é que eles não anunciam as coisas nas redes sociais? Porque é que não
anunciam já o nome do bebé no twitter?". Esta frase é a ilustração
perfeita da cegueira apressadinha dos média. Anda tudo a correr atrás do
tempo instantâneo. Anda tudo numa fona para extinguir a distância entre
o acontecimento e o pensamento sobre esse acontecimento. Resultado? Em
nome da tecnologia e de São Steve Jobs, o irracionalismo está a ser
transformado numa coisa cool. É por isso que surgem estas birras contra qualquer coisa que não ande à velocidade warp da internet.
A monarquia britânica não tem de ceder à pressa
mediática. Os nossos reizinhos só têm de continuar no seu ritmo
ritualizado e rendilhado. Aliás, o charme da monarquia está nesta
lentidão que os cínicos apelidam de "patusca". Não, não é "patusca". O
adjectivo certo é outro: "digna". A lentidão da monarquia britânica
carrega consigo uma inigualável dignidade histórica e institucional. A
monarquia não é um governo de quatro anos, é o símbolo da nação. O seu
ritmo, portanto, não pode ser o ritmo do twitter, facebook, CNN. O seu
tempo não respira internets, respira séculos, é um tempo chinês, calmo,
pausado. Se funcionasse dentro da cadência da CNN, a monarquia deixaria
de ser a monarquia e até deixaria de interessar à CNN. O mesmo se passa
com outra instituição, o Vaticano. Durante o conclave que elegeu o Papa
Chico, a cultura apressadinha que nos apascenta curvou-se perante os
rituais de uma fé lenta. Naquela semana, a sociedade do twitter, dos
ipads, dos iphones e demais bugigangas ficou desarmada perante o vagar
litúrgico.
Confesso que me sinto vingado nessas alturas. E
sinto-me vingado não apenas nas crenças. Sim, é bom ver o mundo
ajoelhado perante uma religião cá de casa. Sim, é bom ver o mundo
curvado perante uma monarquia constitucionalíssima. Mas aqui o ponto é
outro: sabe bem ver a resistência destes dois penedos ante o furacão
mediático. Quando a "agenda" é dominada pela monarquia britânica ou pelo
Vaticano, os média são forçados a desacelerar, são obrigados a pensar
em coisas que estão além do aqui e agora, coisas que furam o bloqueio do
engraçadismo cínico, coisas como este bebé que representa séculos, um
bebé que corporiza nos seus três quilos e meio a renovação de uma nação
inteira, um bebé que consegue a proeza de parar os apressadinhos. Nada
mal para uma instituição lenta e sem pistoleiros de twitter.
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sexta-feira, 26 de julho de 2013
HÁ QUE ADORAR O BEBÉ REAL E O PAPA CHICO
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