Concordo totalmente, a sociedade medieval procurou a segurança e a
ordem no feudalismo e nos laços de vassalagem, à sombra do poder
monástico de Cluny e depois Cister. Segundo Michel Zink, J Le Goff e
outros medievalistas importa reabilitar a falsa imagem da Idade Média
como Idade das Trevas, essa falsa noção tem vindo a
ser desmistificada por estes e outros eminentes historiadores. A Idade
Média foi, pelo contrário, um período de mediação entre o legado da
Antiguidade e os fundamentos da Modernidade, período esse rico em
mudanças, em q o cristianismo triunfante se nutre nesse mesmo legado
greco-romano para construir o pensamento e a identidade Modernos. Época
de grandes revoluções sociais e intelectuais, em q nascem as línguas e
as principais nações europeias, período de uma notável dinâmica nos
Scriptoria, em q os escolásticos, especialistas do saber, vêem pela
primeira vez a luz do dia, é também, entre tantos outros aspectos q
contrariam esse injusto epíteto, o tempo do florescimento das primeiras
universidades, , de grandes pensadores, nomeadamente, Santo Agostinho,
Boécio, Abelardo… São Tomás de Aquino, este último já precursor do um
certo “humanismo” , homens q marcaram decisivamente o rumo da cultura
ocidental. O século XII testemunha-nos um desenvolvimento cultural sem
precedentes, sustentado por um maior poder económico e demográfico, o
desenvolvimento das cidades e a abertura do Ocidente, em grande parte
devido ao movimento das Cruzadas. Paralelamente aos conflitos e
turbulências politicas, surge espaço e vontade nas cortes medievais para
a expressão literária, artística e de lazer próprias de um espírito
humanista. O amor à dama, a amizade e as relações humanas, proezas
guerreiras são cantadas na belíssima poesia trovadoresca reveladora de
almas afectuosas e delicadas. Aristóteles é redescoberto em Espanha ,
traduzido em Toledo do árabe e do grego. E as produções literárias não
se esgotam obviamente no género lírico, sendo as crónicas, canções de
gesta, registos hagiográficos e nobiliárquicos, romances de cavalaria
também muito valorizados. O Ocidente dota-se assim de ferramentas
intelectuais que se exprimem nos mais diversos domínios, nomeadamente, o
direito, a teologia, a medicina e a matemática, para produzir uma
cultura humanista e cada vez mais centrada no individuo, q da sua fase
embrionária ( e por isso mesmo de uma importância extrema ) conduzem
luminosamente o Homem na sua marcha civilizacional rumo ao Renascimento,
numa dialéctica não de ruptura, antes sim de continuidade.
Tentei demonstrar a enorme importância da Idade Média, época pela qual sempre me senti particularmente fascinada, por minhas modestas palavras: deixo contudo espaço para vozes que o saibam fundamentar muito melhor e mais exaustivamente que eu.
MLGP
(Lurdes Gonçalves Pereira)
LUZ SOBRE A IDADE MEDIA, o titulo desta outra obra, entre tantas outras que tentam desmantelar esse mito infundado das "trevas".
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