
Altezas Reais,
Minhas senhoras e meus senhores, caros amigos.
Encontramo-nos, uma vez mais, neste já
tradicional Jantar dos Conjurados abrilhantado, como tem sido sempre,
pela presença da Família Real Portuguesa e acompanhada pelas palavras
sempre actuais de Sua Alteza Real o Duque de Bragança.
Este é o primeiro ano desde 1910 em que a
Restauração da Independência é celebrada num dia de trabalho o que
infelizmente veio limitar a presença de muitos nesta noite. Não havendo
feriado, é mais importante ainda que nos esforcemos para celebrar, para
marcar presença neste jantar. Àqueles que conseguiram cá estar, os meus
sinceros agradecimentos, que aproveito para estender a todos os que
fizeram possível este evento.
A Causa
Real tem um objectivo político. O de apresentar aos portugueses uma
alternativa viável ao sistema vigente – que se encontra manifestamente
esgotado. Queremos um sistema mais representativo, mais transparente,
mais aberto, com claras divisões entre poderes. Um sistema que, na nossa
opinião, sairá sempre reforçado se coroado por uma instituição
independente, que possa encarnar a nossa história, a nossa cultura, que
seja um símbolo de unidade e continuidade nacional.
Temos
vindo a desenvolver um conjunto de projectos que procuram levar as
nossas ideias a todos os portugueses. Alguns deste projectos têm-nos
trazido surpresas muito positivas. Temos, por exemplo, acordos com as
Câmaras Municipais de Odivelas e de Sintra para estendermos o nosso
Projecto Educar – direccionado aos jovens do 3º ciclo – às escolas
secundárias em ambos os municípios. Há dois anos, aqui nesta sala, falei
da necessidade de mudarmos mentalidades. Devo dizer que nunca pensei
que este nosso projecto pudesse vir a ter a aceitação que tem tido! São
sinais de abertura. De esperança.
O Jantar
dos Conjurados não cabe propriamente no âmbito político da Causa. Mas
assumiu a Causa Real a responsabilidade da sua organização e temos
procurado contribuir todos os anos para uma obra de beneficência
patrocinado pela Família Real. Este ano a escolha caiu na Obra de Nossa
Senhora das Candeias, uma IPSS com sede no Porto, mas com presença
nacional. Fundada em 1958, tem como objectivo acolher, apoiar, educar e
formar crianças e jovens em situação de perigo, de forma a possibilitar a
sua integração plena na sociedade. Os seus serviços e infraestruturas
apoiam cerca de 650 crianças e jovens em todo o País.
Um dos
cartazes que publicámos na Internet para divulgar os eventos de hoje
fazia referência ao tricentésimo septuagésimo quinto Jantar dos
Conjurados, pressupondo, naturalmente que a conjura de 30 de Novembro de
1640 teve direito a jantar – e conhecendo bem a família Almada, não
tenho dúvidas que assim o foi. Pressupõe também, que houve até aos dias
de hoje quem se tenha recordado todos os anos dos riscos desmedidos
então assumidos pelos cerca de 40 que lideraram a revolta a favor da
Nação Portuguesa.
É o que fazemos hoje.
Mas é
fundamental que o façamos, que nos lembremos desta data heróica, pelas
razões certas. Com o passar do tempo e, como digo vamos na sua 375ª
edição, há uma tendência para reduzir os eventos que se passaram a 30 de
Novembro e 1 de Dezembro de 1640, até de forma algo demagógica como é a
natureza destas coisas, àquilo que mais facilmente mexe com as nossas
emoções, perdendo-se a essência daquilo que foi, indiscutivelmente, uma
das maiores demonstrações de patriotismo da nossa história.
A
importância destas datas ultrapassa o seu impacto histórico, deixando um
exemplo às gerações vindouras de portugueses, não de luta contra um
inimigo mas da coragem e perseverança a favor de um ideal que persiste
há nove séculos.
Ao longo
dos 60 anos da Dinastia Filipina, Portugal foi, de jure, um País
independente, partilhando a sua Chefia de Estado com Castela, Navarra,
Aragão, Nápoles, Sicília, Milão e os Países Baixos. Uma espécie de Commonwealth espanhola. Uma riqueza común!
Nesse período, só houve dois Vice-Reis ou Governadores espanhóis em
Portugal – o Duque de Alba e o Duque de Lerma. Ao todo, quatro anos. De
resto, com a excepção dos 10 anos do vice-reinado do Cardeal Arquiduque
Carlos da Austria, e os seis anos da Duquesa de Mântua – que era uma
Sabóia, nos outros 40 anos Portugal foi governado exclusivamente por
portugueses. Pelo menos no papel.
No
entanto, a tendência crescente para levar os centros de decisão
estratégicos portugueses para Madrid, o recomeço das hostilidades entre
Espanha e os Países Baixos, e outras incumbências bélicas de Filipe IV
de Espanha, vieram a pôr em causa a autonomia de Portugal assegurada nas
Cortes de Tomar em 1581, obrigando os portugueses a lutar pelo Rei em
operações que não nos diziam respeito em detrimento da defesa das nossas
posições ultramarinas e levando ao esvaziamento das elites nacionais. A
revolta procurou não vencer Espanha, mas repor e defender as nossas
instituições tradicionais. Contra todas as probabilidades! A favor de
Portugal.
Para
consolidar a restituição da nossa plena independência, para reforçar o
alento das forças portuguesas que enfrentavam um adversário muito
superior, D. João IV mandou tomar por Padroeira do Reino de Portugal,
Nossa Senhora da Conceição, tornando permanente uma devoção centenária
partilhada pelo povo e pela Coroa.
Fê-lo por provisão de 25 de Março de 1646.
Precisamente
350 anos depois, no mesmo dia, nasce D. Afonso de Santa Maria. Uma
coincidência de datas que realça a relação indelével entre o Príncipe da
Beira e o seu antepassado, o “rei natural” de Portugal e fundador da
Dinastia Brigantina.
O ano de
2014 foi marcado pela celebração da maioridade do Príncipe da Beira,
digno representante, com seu pai, de toda a Nação Portuguesa. Uma
promessa da continuidade de uma Instituição que serve o seu País desde a
sua concepção, e de uma noção de Pátria que, nas palavras de João
Távora , nosso Vice-Presidente, é, acima de tudo, espaço, tempo e uma
alma enorme de 900 anos – precisamente aquela defendida contra todas as
probabilidades pelos Conjurados de 1640.
No fundo
de uma crise com consequências cada vez mais visíveis, crise
proporcionada por uma autocombustão republicana, é esse exemplo que
importa realçar quando recordamos o mais nacional de todas as nossas
datas. É esse exemplo que devemos, cada um de nós, na medida das nossas
possibilidades, procurar seguir. Para ajudar a fazer renascer das cinzas
o Portugal que desejamos, não o Portugal do passado, mas o do futuro
firmemente sustentado nas nossas tradições mais basilares.
E, se Vossa Alteza Real me permitir, é a esse Portugal que eu vos convido a erguer os vossos copos.
Viva Portugal!
Publicado por Luis Lavradio
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