A maior das crises políticas, que El-Rei enfrentou foi, logo no início
do seu governo, o Ultimato britânico de 1890 usado pelos republicanos
para inflamar a insatisfação popular e acicatar o ódio à Família Real
Portuguesa. O Reino Unido apresentou a Portugal o Ultimato britânico de
1890, que intimava o desígnio expansionista de Portugal, concretizado no
Mapa Cor-de-Rosa a desocupar os territórios compreendidos entre Angola e
Moçambique num curto espaço de tempo, caso contrário seria declarada a
guerra entre os dois países. Assim se perderam importantes áreas e a
propaganda republicana aproveitou o momento de grande alvoroço nacional
para responsabilizar a Coroa pelos reveses no Ultramar. Em 31 Janeiro de
1891, no Porto deu-se mesmo um golpe republicano, mas que foi debelado.
O que a propaganda republicana não divulgava, pois não lhes
interessava, foi o papel do Rei que soube inverter a conjuntura e, fruto
do seu exímio dom diplomático instalou Portugal no centro da diplomacia
europeia da primeira década do século XX.
Um exemplo disso é também
a viagem do Príncipe Real aos domínios portugueses em África que
constituiu o acontecimento político mais importante da jovem vida de Dom
Luís Filipe, até porque era o primeiro membro da família real a fazer
tal viagem considerada indispensável pelo Rei Dom Carlos I.
Com uma
parca comitiva, mas sem precedentes, o jovem Príncipe Real foi aclamado
por todo o lado que passou, com vivas ao Príncipe e à Pátria
Portuguesa, visitando S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, e ainda as
colónias inglesas da Rodésia e da África do Sul, quando regressava
passou por Cabo Verde.
Na metrópole, a situação política agudiza-se,
o que conduziu à queda de mais um governo de Hintze Ribeiro. Então, o
Rei decidiu chamar para formar governo, João Franco de Castello-Branco,
do Partido Regenerador Liberal que teve o imediato apoio dos
progressistas, com quem fez um governo de coligação. João Franco começou
a governar à inglesa 19 de Maio de 1906, aprofundando a democracia e
encerrada a questão dos tabacos, com o novo contrato dos tabacos de
Outubro de 1906, João Franco dedicou-se à implantação das suas reformas.
Face à greve académica de 1907 na Universidade de Coimbra e à crescente
efervescência social, o amparo parlamentar dos progressistas é retirado
e os ministros progressistas demitem-se: temiam que João Franco
fortalecesse o seu partido à custa do deles e contavam ser chamados para
formar governo assim que Franco caísse. Enganavam-se, pois Dom Carlos
toma uma atitude diferente do que se esperava, apoiando firmemente João
Franco. Este, afrontado pelos constantes ataques provenientes da Câmara
dos Deputados solicitou ao Rei que dissolvesse o parlamento, adiando por
algum tempo as novas eleições, ao que Dom Carlos aquiesceu, e João
Franco passou a governar em ditadura, à turca, a 2 de Maio de 1907.
Ressalve-se que ao proceder deste modo o Rei não estava a ir contra a
letra da Lei, dado que fazia parte das suas funções, mas os políticos
tradicionais, lobrigavam, ao verem ameaçado o seu monopólio político.
A oposição gerou então uma campanha anti-governo sem precedentes pois
abrangeu, também, o próprio Rei, dizendo que se estava em ditadura.
Todavia, não se estabelecera uma ditadura institucional, antes uma
medida de excepção, propondo-se criar as conjunturas que possibilitassem
ao partido no governo vencer as eleições subsequentes.
Traindo Dom
Carlos, João Franco reaviva a falsa questão dos adiantamentos do Estado à
Casa Real e que vem incrementar a oposição ao Rei. Depois, acontece o
episódio da entrevista ao jornal francês Le Temps, que veio agastar
ainda mais os espíritos e a contestação ao Rei. Nesta entrevista dada
por Dom Carlos, o monarca insiste no seu apoio a João Franco. De forma a
cimentar a sua posição; a entrevista tem lugar por teimosia de João
Franco, mesmo com a discórdia de outros franquistas, como Vasconcellos
Porto, mas teve um efeito adverso na oposição.
Não obstante, o
antagonismo crescente, o partido de João Franco alcança os acordos
indispensáveis com os círculos eleitorais de maneira a garantir a
desejada maioria, e são marcadas eleições para o parlamento, o que poria
fim à ditadura administrativa. É neste cenário de retorno a uma
normalidade e equilíbrio parlamentares, que republicanos e dissidentes
progressistas desencadeiam uma tentativa de golpe de estado, em 28 de
Janeiro de 1908, frustrado pela apta acção do governo, que dele tivera
conhecimento pela indiscrição de um conjurado, que intentou cativar um
polícia amigo, mas que o último, patrioticamente foi avisar prontamente
os seus superiores. Os conjurados são detidos de imediato: António José
de Almeida, o jornalista revolucionário João Chagas, Luz Almeida que era
dirigente da organização terrorista Carbonária, Pinto dos Santos e
Álvaro Poppe. Com o afastamento destes, a liderança do movimento recaiu
sobre Afonso Costa que foi também aprisionado, junto com outros
golpistas, entre eles o Doutor Egas Moniz e o Visconde da Ribeira Brava,
apanhados no Elevador da Biblioteca, ainda de armas na mão, preparados
para avançar para a Câmara Municipal. José Maria de Alpoim foi o único a
conseguir fugir para Espanha.
Em resposta, João Franco aprontou um
decreto que previa o exílio para o estrangeiro ou a expulsão para as
colónias, sem julgamento, de indivíduos que fossem pronunciados em
tribunal por atentado à ordem pública, e que esperava pela promulgação
real.
Com este casus, estava criado o pretexto cujo desfecho haveria
de ocorrer no terrível e fatídico 1 de Fevereiro de 1908, com o
Regicídio.
Por Miguel Villas-Boas - Plataforma de Cidadania Monárquica
Por Miguel Villas-Boas - Plataforma de Cidadania Monárquica
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