“Já se esqueceram que esta famosa república começou
com um duplo-homicídio (um regicídio é, nonetheless, um homicídio) fruto
de uma conspiração? Ou que fomos roubados das nossas cores nacionais,
que desde D. Afonso Henriques eram o azul e branco, para passarmos a
envergar rubro e verde…”
Se há tema sobre o qual gosto de falar é da monarquia. Não sei bem
porquê, talvez pelo facto de viver numa república que já foi monarquia e
que dos seus 800 e alguns anos, 700 foram passados com essa forma de
governação. A monarquia está-nos no sangue e é algo que provavelmente
nunca nos iremos distanciar. Mas sim, agora vivemos (muito contra a
minha vontade) numa república.
Antes de iniciarmos uma discussão inteligente temos que distinguir a priori
logo vários conceitos. Modernamente falando, quando falamos em
‘monarquia’ estamos a referir-nos a uma monarquia constitucional e
parlamentar, e não a uma monarquia absoluta (essas já quase não existem,
e ainda bem! Fiquem sabendo que uma das poucas que ainda sobrevive é
próprio Papado que é tido como uma monarquia electiva absoluta, exemplo
único no Mundo, visto os Doges de Veneza já não existirem!). E quando
falamos em ‘democracia’ estamos a falar não num sistema político, mas
num conjunto de ideias (Que neste caso valoriza o povo, os seus
direitos, de entre os quais, obviamente, o direito ao voto.). Uma
monarquia é uma democracia, assim como uma república é uma democracia.
Mas que fique patente que tudo pode ser subvertido.
A única coisa que varia é exactamente a figura máxima do Estado. No
caso da república, um presidente eleito por sufrágio universal directo em
ciclos de cinco anos; no caso de uma monarquia a primeira pessoa na
linha de sucessão do actual monarca, hereditariamente falando, claro… Um
dos argumentos contra a monarquia é exactamente esse, o facto da ordem de
nascimento ser o factor determinante para a escolha do detentor do poder
máximo sobre tudo e todos. Quando dito assim até parece mesmo que
estamos a falar de um mini-futuro-ditador… Mas esse não é o caso. O
facto da linhagem ser prolongada apenas dá continuidade ao esforço de
união nacional que é desenvolvido por uma pessoa durante a totalidade da
sua vida. Por mais que queiramos e tentemos, não há cenário nenhum em
que um presidente seja factor de união. Como é que alguém que é seleccionado apenas por uma parcela da população, e que está à frente de
uma máquina partidária, pode verdadeiramente defender os interesses do
povo? Não pode, é essa a resposta. O monarca, apesar de não ser
‘escolhido’ pelo povo apresenta-se como factor de união nacional, porque
há reconhecimento por parte do povo que aquela pessoa não cederá a
pressões políticas por parte de qualquer facção e há um certo espírito de
lealdade não ao partido, mas à Nação… E isso é algo que nunca vai
existir numa república, por mais que tentemos.
Outro dos argumentos que geralmente são associados com a monarquia é o
despesismo, o facto da monarquia ser demasiado cara… Será mesmo assim?
Vejamos os factos… Os subsídios dados à monarquia inglesa pelo governo
inglês rondam as 35 milhões de libras anuais, o que se formos a ver é
relativamente pouco… Sessenta pence (o nosso equivalente ao cêntimo) per capita…
Enquanto que aqui a nossa ‘estimada república’ custa cerca de dezasseis
milhões de euros anuais… o que dá um euro e meio por cidadão… Feitas as
contas até parece que a monarquia inglesa sai bem mais barata que a
nossa pequena república, e não retiramos proveito nenhum disso… Quem é
que vem a Portugal visitar o museu da presidência? Ninguém! Nem as
escolas, quanto mais os estrangeiros… Não, eles vêm por aquilo que
fomos… Pelos palácios, pelos castelos, pela mais bela colecção de coches
do mundo usado por uns míseros Reis que apenas eram donos de meio mundo…
Ah, e ainda não falamos do facto de que a Rainha de Inglaterra trabalha
pro bono e ao contrário do senhor presidente da república não
vai auferir uma reforma de dez mil euros mensais, e que é obrigada, por
lei, por exemplo, a pagar os custos das reparações dos palácios em que
habita… Não recebe, trabalha até morrer, têm de pagar reparações em
casa, isto até agora está a soar a um contrato mal feito… Mas de onde
vem o seu rendimento? Da propriedade privada claro, nomeadamente do
Ducado de Lancaster que é da sua família. Mas ainda não acabou
aqui, porque dos lucros ela só fica com quinze por cento…, os outros
oitenta e cinco são devolvidos ao Estado. E ainda têm a distinta lata de
me dizer que a monarquia é cara?
Digam-me o que quiserem, mas eu não vou com a república… A meu ver
não faz sentido… Gosto de ter uma figura que personifique a nação, e um
busto de mármore não me chega. Claro que estes argumentos todos não
servem de nada, porque a discussão entre a monarquia e a república não é
feita com base em argumentos, mas sim em sentimentos… Já se esqueceram
que esta famosa república começou com um duplo-homicídio (um regicídio
é, nonetheless, um homicídio) fruto de uma conspiração? Ou que
fomos roubados das nossas cores nacionais, que desde D. Afonso Henriques
eram o azul e branco, para passarmos a envergar rubro e verde, não as
cores da esperança e do sangue derramado nas batalhas como nos
ensinaram, mas sim cores que um pensador (Auguste Comte) ligava à ordem e
ao progresso (verde) e o rubro que representava os movimentos populares
do século XIX em Paris. Se puderem leiam o artigo “Como é que um pano
se transforma numa bandeira?” do dia 10 de Junho do presente ano no Expresso e se possível, leiam ainda o livro ‘Heróis do Mar. História dos Símbolos Nacionais’, de Nuno Severiano Teixeira; recomendo.
Se for por mim, ainda verei o dia em que este país volta,
orgulhosamente e de forma pacífica e deliberada, a ser uma monarquia. E
nesse dia, sim, vou ficar orgulhoso deste país.
Publicado por João Luís Tavares em
Muitas das ideias aqui explicada estão de acordo com as minhas e gostei da leitura da maneira como estão registadas.
ResponderEliminarUma monarquia seria melhor do que a republica pois Portugal não tem lucrado nada com o facto excepto esta continua mudança de presidentes que não têm o interesse da Pátria,com poucas excepcçōes,mas com os seus própios interesses. Havia coisas erradas mas o que há agora ,afinal?