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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

D. JOÃO COSTA



Conselheiro de guerra de D. João IV, general de artilharia, mestre de campo general e governador da província do Alentejo, etc.

Nasceu em Lisboa no ano de 1610, onde também faleceu em 22 de Janeiro de 1664. Era filho de D. Gil Eanes da Costa, fidalgo descendente da nobre casa dos Costas, que teve por tronco D. João da Costa, 3.º filho do outro D. Gil Eanes da Costa, e que foi fidalgo na corte de D. João III, e acompanhou a África seu neto, o rei D. Sebastião, ficando cativo na batalha de Alcácer Quibir.

D. João da Costa foi um dos quarenta conspiradores que entraram na restauração de Portugal, no dia 1.º de Dezembro de 1640, porém só tarde assistiu às conferências dos fidalgos, e ia deitando tudo a perder com as reflexões que submeteu à consideração dos seus colegas, contudo, confessava que estando tudo já em tão grande adiantamento, era impossível recuar, mas que ele via a certeza de sucumbir. No entretanto, não se desanimou, a conjuração foi avante, com o feliz êxito bem conhecido, sendo D. João da Costa que tomou parte com outros conjurados no assalto dado ao paço da Ribeira na memorável manhã do 1.º de Dezembro, e apenas Miguel de Vasconcelos foi morto, saiu para o Terreiro do Paço com D. Luís de Almada e outros fidalgos a sublevar o povo, bradando Liberdade! No dia 2 de Dezembro meteu-se numa galé com D. João Rodrigues de Sá, e foi intimar os galeões espanhóis a renderem-se.

Tratando-se depois da defesa do reino, foi D. João da Costa nomeado, mestre de campo de um terço que se formou em Évora, e que foi guarnecer Elvas, exercendo D. João o governo da praça interinamente. Soube disciplinar admiravelmente as tropas que tinha debaixo do seu comando, e com elas destroçou logo em 1641 uma força de cavalaria castelhana. D. João da Costa não estava sendo somente um enérgico militar, estava dando também as provas mais cabais do seu tino militar. Foi ele que informou Martim Afonso de Melo, encarregado do governo das armas, do estado em que se encontrava a província. No verão de 1641 teve de repelir uma tentativa do conde de Monterey contra Elvas, e repeliu-a de forma, que tirou ao general espanhol o desejo de renovar a tentativa. No fim da campanha, finalmente, foi comandando a infantaria do exército com que Martim Afonso de Melo pretendeu tomar Valverde. Mas a defesa de Elvas por D. João da Costa foi uma das façanhas, que mais contribuíram para dar vigor e prestigio às nossas tropas. Granjeara por isso grande reputação, e em 1643 recebeu o comando da artilharia do exército com que o conde de Óbidos invadiu a Espanha, e a ele se deve a tomada de Valverde. Em 1644 foi de novo encarregado do comando da artilharia do exército de Matias de Albuquerque, e na batalha de Montijo a 26 de maio, foi ele quem mais contribuiu para a vitória. D. João da Costa, num Memorial que dirigiu ao rei sobre as coisas da guerra, mostrou-se dum espírito tão nobre a tão desprendido de ruins paixões, apontou com tal isenção os vícios de que padecia a milícia, queixando-se tão desassombradamente da fraqueza com que o rei deixava correr a guerra, sem tomar o seu lugar à frente do exército, defendia com tão pouca atenção pelos melindres do Santo Ofício e conservação duns regimentos holandeses de cavalaria que el-rei queria despedir por serem protestantes, que realmente se fica surpreendido quando se vê o deplorável papel que ele representa no caso trágico de Francisco de Lucena. Estava ele governando Elvas, quando foi preso como suspeito de ter correspondência com os espanhóis um oficial catalão que serviu no exército do Alentejo, chamado D. Pedro Bonete. Teve com ele uma larga conferência na prisão, e foi depois dessa conferência que D. Pedro Bonete fez todas as revelações que implicavam na conspiração Francisco de Lucena, revelações cuja notícia veio D. João da Costa trazer pessoalmente a Lisboa. Evidentemente aproveitou o ensejo para se vingar de um inimigo, mas não se vingou dum modo nobre a digno.

Nomeado em 1647 membro do conselho de guerra, D. João da Costa recebeu em 1650 o comando do exército do Alentejo, que conservou até ao fim do ano de 1653. A guerra então afrouxara muito, e D. João da Costa pouco teve que fazer militarmente, mas em 1651 o príncipe D. Teodósio apareceu a exercer nominalmente o comando em chefe do exército, e D. João da Costa viu-se por conseguinte numa situação melindrosa, de que se saiu com dignidade. Em 15 de Agosto de 1652 conferiu-lhe D. João IV o título de conde de Soure, e é muito provável que lhe não desagradasse a hombridade com que ele tratava o príncipe Rivalidades de monarquia reinante e de herdeiro da coroa. D. João da Costa não lisonjeava o príncipe. Reagia energicamente contra as ordens menos sensatas que o príncipe ou os seus conselheiros davam, a uma vez que o mestre de esgrima do príncipe, fiando-se no seu valimento com D. Teodósio, ousou desobedecer a uma ordem do conde de Soure, este não teve dúvida em vir a Lisboa queixar-se. Durante o seu governo militar houvera apenas duas acções militares de alguma importância: um combate de cavalaria em Arronches e a tomada de Oliva; mas D. João IV, em 1656, quando pressentiu que ia recomeçar a guerra com mais intensidade, mandou o conde de Soure comandar de novo o exército do Alentejo. Morreu o rei neste intervalo, e foi a rainha regente D. Luísa quem assinou a nomeação. Mas o conde de Soure pertencia a um partido que tinha forçosamente de ser vencido pela gente nova que aspirava a exercer os lugares e as comissões O conde de Soure pertencia ao partido dos antigos servidores de D. João. IV, ao passo que em torno do conde de S. Lourenço se agrupava o partido dos que tinham feito uma certa oposição no tempo do falecido soberano. O conde de Soure foi nomeado governador das armas do Alentejo, porque, afinal, não o nomear equivalia a rasgar-se um decreto mandado lavrar por D. João IV, mas não tardou a ocasião de se promover o conflito. O conde de Soure, ainda antes da mercê deste título, tivera com o conde de Penaguião uma grave pendência que terminou até por um duelo, D. João da Costa esteve algum tempo preso, e o conde de Penaguião teve de assinar um termo em que se comprometia a não ter voto em questão alguma em que fosse interessado D. João da Costa. Era uma declaração original, mas que veio embaraçar muitíssimo o conde de Penaguião. Em 1656, por exemplo, era o conde de Penaguião conselheiro de guerra e D. João da Costa governador das armas do Alentejo. Como é que o conde de Penaguião havia de deixar de dar voto nos assuntos da guerra? A rainha foi a primeira a senti-lo, e pediu a D. João da Costa que desistisse do seu privilégio. D. João declarou que não desistia, e apesar de muito instado, conservou-se inabalável, ordenando-lhe por fim a rainha que saísse de Lisboa. O conde declarou que não partia sem lhe darem reforços. A rainha teimou, e o conde declarou-se doente. Em vista desta resposta, a rainha observou que não podia então comandar o exército do Alentejo, e declarasse quem o havia de substituir. O conde de Soure redarguiu, que podiam demiti-lo quando quisessem, mas que ele não pedia a sua demissão. Então a rainha demitiu-o francamente, nomeando para o substituir o conde de S. Lourenço.

Triunfaram pois os seus inimigos, mas um homem da sua importância não podia facilmente ser posto de parte, e em 1659 foi nomeado para ir a Paris como embaixador, acompanhado pelo sábio Duarte Ribeiro de Macedo, como secretário da embaixada. A situação era grave. A França prestaram-nos realmente grandes serviços, esperando uma diversão importantíssima que impedia os espanhóis de concentrarem contra nós todas as suas forças. Mas a França não fazia isso por interesse nosso, fazia-o por interesse seu. Exausta porém, pelas guerras civis da Fronda, a França, e principalmente o primeiro-ministro cardeal Mazarino desejava ardentemente a paz. Mazarino queria com a sua duplicidade italiana, fazer jogo connosco, de forma, que, ameaçando reconhecer a nossa independência, pudesse arrancar à Espanha as maiores concessões, estando pronto contudo a abandonar-nos sem remorso. Apenas constou em Portugal que houvera uma suspensão de armas, entre a França e a Espanha e que se tratava de chegar a um acordo, apoderou‑se de todos um verdadeiro terror, e o governo tratou de enviar a França quem pudesse modificar a direcção funesta que os negócios iam tomando. Foi esse homem, como fica dito, o conde de Soure. Nunca houve diplomata que mais incomodasse o cardeal Mazarino e o seu eterno sistema de política italiana, todo de golpes traiçoeiros. Poderoso argumentador, impassível, não se deixando nunca desconcertar pelo fluxo de palavras, com que o astuto ministro o inundava, o conde de Soure, sem se afastar do campo do direito e da razão, obrigava Mazarino a desfazer-se em sofismas, e praticar até violências que não estavam nos seus hábitos a fim do disfarçar a sua nefasta política. Quando o conde de Soure chegou a Paris, já o cardeal Mazarino assinara, contudo, os preliminares da paz com a Espanha, preliminares em que havia um artigo pelo qual a França declarava abandonar-nos se nós não nos resolvêssemos a aceitar o perdão que a Espanha generosamente nos oferecia pela boca desse mesmo D. Luiz de Haro, que no princípio desse ano de 1659 fora vergonhosamente batido nas linhas de Elvas, e fugira a unhas de cavalo diante das milícias portuguesas, em cujas mãos deixava bagagens, correspondência, munições, artilharia, armas e quase todo o exército prisioneiro. O conde de Soure, porém, não sabia que já tínhamos sido abandonados, e empregava todas as razões e todos os argumentos para obrigar Mazarino a incluir-nos no tratado da paz. Mazarino, que não podia confessar que já nos excluíra, revoltava-se contra o conde de Soure, bradava que já oferecera à Espanha inclusivamente restituir-lhe, todas as conquistas, mas que a Espanha teimava em não aceitar. O conde de Soure não desistia das suas instâncias, oferecia à França somas enormes para conseguir que o cardeal nos protegesse, mas, apesar da avareza proverbial de Mazarino, como via que essa condição seria o prolongamento da luta, não se deixava seduzir por somas de espécie alguma. Também não desenganava nem despedia o conde, porque a sua presença em Paris servia-lhe imenso para fazer jogo com os negociadores espanhóis. Se ele o despedisse, D. Luiz de Haro, livre dum grande peso, seria mais renitente nas concessões que Mazarino desejava. Assim, apenas D. Luiz de Haro resistia a alguma proposta de Mazarino, este fingia logo dar ouvidos ao conde de Soure, e isso bastava para simplificar todas as negociações. O profundo despeito que os espanhóis nutriam contra nós, e sobretudo o rancor que nos votava D. Luís de Haro, faziam com que os negociadores de Filipe IV de tudo desistissem, só para que Portugal não obtivesse da França nem a mais leve animação. O conde de Soure, porém, não era homem que estivesse resolvido a suportar muito tempo este sistema, por isso, logo que viu que as negociações não davam resultado, mandou escrever pelo secretário Duarte Ribeiro de Macedo, e publicou o manifesto intitulado: Razões poderosíssimas que a França tinha para defender os interesses de Portugal no tratado de paz. Este manifesto, admiravelmente argumentado, punha em relevo todas as obrigações que a França tinha, pelos compromissos que tomara, de não abandonar Portugal, e ao mesmo tempo mostrava que os bem entendidos interesses da França a colocavam no mesmo terreno. Comparava o procedimento da França para com outros países com o procedimento que ela agora parecia querer seguir para com Portugal, e mostrava que se envolvia assim numa teia de contradições. O cardeal Mazarino irritou-se extremamente, e não o escondeu ao embaixador; mandou recolher os exemplares do manuscrito, que se tinham posto à venda, e quis proceder contra o francês que o traduzira. Valeu-lhe a imunidade da casa do embaixador onde se acolheu. Ao mesmo tempo o cardeal escrevia à rainha regente de Portugal, queixando-se do conde de Soure, e a rainha enviava-lhe a tradicional resposta, que folgara de saber dum modo tão oficial que o embaixador cumprira o seu dever.

Entretanto, começavam as negociações definitivas nos Pirenéus, e o conde de Soure, resolvido a não largar de mão o negócio, partiu para S. João da Luz onde estava a corte francesa. Mazarino recebeu-o com as máximas honras, porque isso entrava na sua política, mas também o receberam com viva simpatia os mais importantes fidalgos de França, os Guise, os Harcourt, os Vandemonts, os Lorenas, e sobretudo o grande marechal de Turenne, que simpatizava connosco pela bravura de que tínhamos dado provas, e pela nossa constância militar. Apesar de tudo isso, a paz assinou-se, obrigando-se a França a cortar todas as relações com Portugal, e proibir aos súbditos franceses que servissem no exército português, e deixar de exportar para Portugal, não só munições de guerra, mas géneros de qualquer espécie, obrigando-se a Espanha como prova de atenção pela poderosa intercessão do rei de França, a repor as coisas em Portugal no estado em que se achavam antes de 1640, logo que Portugal voltasse a reconhecer a soberania de Filipe IV. Em consequência destas deliberações veio o marquês de Chouppes trazer a D. Luísa de Gusmão o ultimato das duas cortes. O conde de Soure recebeu ordem de D. Luísa para sair imediatamente da corte, afim de evitar a afronta de o mandarem sair. Mas o conde de Soure não deixou a França, ficou escondido em casa do senhor d' Albret, e tratando de aliciar oficiais franceses para servirem nas fileiras do exército português. Foi nessa empresa auxiliado pelo marechal de Trurenne, que lhe recomendou entre outros o general conde de Schomberg, que mais facilmente podia sair para Portugal, porque, apesar de ter estado até então ao serviço da França, era alemão de nascimento. Mazarino era obrigado pela letra do tratado a não consentir nesses alistamentos, mas o cardeal não tinha o menor empenho em cumprir à risca as suas promessas. Fechou os olhos a tudo isso, e o conde de Soure, que a 2 de Agosto de 1660 teve de Luís XIV a sua audiência de despedida, apesar da oposição do embaixador espanhol, esteve mais de dois meses tratando desses alistamentos. Partiu afinal com o conde de Schomberg do Havre no dia 20 de Outubro de 1660.

Chegando a Lisboa foi muito bem recebido pela rainha, mas, tempos depois, como fizesse oposição ao conde de Castelo Melhor, foi por este exilado para Loulé, e regressando a Lisboa em 1664 por ocasião do casamento de D. Afonso VI, veio a falecer pouco depois.

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