Recordar a Índia portuguesa no dia da sua invasão pela União Indiana
Será revelador que, de todos os muitos amigos que tem em Goa este que vos escreve, nem um manifeste hostilidade a Portugal, nem um se agite contra os quase quinhentos anos em que lá ondulou a bandeira das quinas e nem um elogie o triste 18 de Dezembro de 1961 em que a União Indiana "libertou" a nossa Índia. Goeses, damaneses e restantes indo-portugueses eram realmente, verdadeiramente, profundamente portugueses. Eram, também, real, verdadeira e profundamente indianos, ou não fosse a sua Índia - a que Gama e Albuquerque fizeram - tão mais antiga que o vasto país que os ingleses desenharam no subcontinente e que se tornou independente no final da década de 40. Em 1961, uma Índia de quinhentos anos foi devorada por outra ainda criança. Portugal fez o que lhe competia: não sendo Goa colónia, o seu direito a manter-se abraçada à nação portuguesa de que era parte tão destacada e tão amada não podia, e não foi, colocado em causa. Os portugueses abandonaram a Índia tal e qual como entraram nela: sob fogo intenso, corajosamente, com galhardia ibérica e sob ataque de forças imensamente superiores em números e instrumentos. Em 1510, havia Albuquerque e vencemos; em 1961, não houve vitória, mas houve honra. Preservou-se o fundamental.
Estes apontamentos não são os de um prisioneiro do passado. A Índia portuguesa desapareceu politicamente; foi conquistada, foi anexada, foi apagada do mapa-mundo. Mas a Índia portuguesa existe ainda na cultura, na memória e na consciência dos homens. O goês é indiano e não o questiona, mas é um indiano diferente - e o motivo da distinção é a sua indebatível, insubstituível, inapagável Portugalidade. Em Goa, Damão ou Diu, o miúdo faz-se homem à sombra dos pináculos das catedrais, dos muros espessos das fortalezas, da visão omnipresente do brasão-de-armas de Portugal. Falando ou não a nossa língua, sabe-se de certa maneira em Portugal e de certo modo português também, continuador também da herança portuguesa. Ele chama-se Lobo, Sousa, Marques, Fonseca, Pinto, Costa; provavelmente, é católico e, se não o for, nem por isso deixou de nascer e viver entre as ruínas da civilização indo-portuguesa que ali prosperou. No que importa, que é a alma dos povos, Portugal não saiu da Índia.
Nada tendo o Portugal de 2017 a exigir, tudo deve ter a sugerir. Naturalmente, Goa não constitui já problema político: o seu estatuto ficou fechado em 1961, e é exercício revisionista e sem relevância para o futuro determinar se bem ou mal. Mas, não havendo dúvida que a antiga Índia portuguesa foi integrada na actual República da Índia e de que esse é assunto fechado, mantém-se muito verdade que a Portugalidade indiana vive, é forte e merece tratamento distinto do que lhe tem sido dispensado pelas autoridades de Nova Déli. Cometeu-se grave erro, por exemplo, quando se reconheceu a anexação e reatou relações diplomáticas com a Índia sem antes, como teria feito um governo mais previdente, garantir para a língua portuguesa estatuto oficial nos antigos territórios indianos de Portugal. Não o tendo feito Lisboa quando teve para isso oportunidade, permitiu que em Goa não fosse oficial o português mesmo quando o francês o é na antiga possessão francesa de Pondicherry. Ora, não desmerecendo nós Pondicherry e a França, a ligação entre Paris e aquele enclave não é comparável à existente entre nós e a nossa Índia - Pondicherry foi estabelecido apenas em 1674, sendo que os portugueses chegaram à Índia em 1498.
A Índia é uma grande potência em ascensão. Portugal e os países portugueses - com destaque para o Brasil, seu parceiro nos BRICS - respeitam-na e admiram-na. Mas não devem pretender erguer o futuro sobre o esquecimento do passado, pelo que a única maneira de construir com Nova Déli relações profundas, com consideração mútua e plena confiança, é insistindo com ela para que rectifique a imensa injustiça que é o facto de o português não ser reconhecido como oficial em parte alguma do antigo Estado português da Índia. Insistam, pois, as nações da Portugalidade junto da Índia para que ela eleve o português a língua oficial de Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli; ocupem-se da preservação e restauro do património indo-português ameaçado; colaborem com as as autoridades regionais de maneira a garantir, se necessário com professores vindos de países da Portugalidade, o ensino da nossa língua. Politicamente, Portugal já não está na Índia. Culturalmente, só sairá se, por incúria, estupidez, preguiça ou desinteresse se permitir a extinção do nosso legado. Aja-se, pois. A História e a Portugalidade o exigem.
RPB
// (Por) A NP contribuirá para o salvamento da Portugalidade indiana criando na antiga Índia portuguesa núcleos seus. Se é indo-português e quiser ajudar, mande-nos mensagem rapidamente. Precisamos de si.
// (Eng) Nova Portugalidade wishes to help save Portuguese culture all over India by establishing autonomous branches of the movement in what was formerly Portuguese India. If you are Indo-Portuguese and wish to help, please send us a private message as soon as possible. We do need you very much.
Será revelador que, de todos os muitos amigos que tem em Goa este que vos escreve, nem um manifeste hostilidade a Portugal, nem um se agite contra os quase quinhentos anos em que lá ondulou a bandeira das quinas e nem um elogie o triste 18 de Dezembro de 1961 em que a União Indiana "libertou" a nossa Índia. Goeses, damaneses e restantes indo-portugueses eram realmente, verdadeiramente, profundamente portugueses. Eram, também, real, verdadeira e profundamente indianos, ou não fosse a sua Índia - a que Gama e Albuquerque fizeram - tão mais antiga que o vasto país que os ingleses desenharam no subcontinente e que se tornou independente no final da década de 40. Em 1961, uma Índia de quinhentos anos foi devorada por outra ainda criança. Portugal fez o que lhe competia: não sendo Goa colónia, o seu direito a manter-se abraçada à nação portuguesa de que era parte tão destacada e tão amada não podia, e não foi, colocado em causa. Os portugueses abandonaram a Índia tal e qual como entraram nela: sob fogo intenso, corajosamente, com galhardia ibérica e sob ataque de forças imensamente superiores em números e instrumentos. Em 1510, havia Albuquerque e vencemos; em 1961, não houve vitória, mas houve honra. Preservou-se o fundamental.
Estes apontamentos não são os de um prisioneiro do passado. A Índia portuguesa desapareceu politicamente; foi conquistada, foi anexada, foi apagada do mapa-mundo. Mas a Índia portuguesa existe ainda na cultura, na memória e na consciência dos homens. O goês é indiano e não o questiona, mas é um indiano diferente - e o motivo da distinção é a sua indebatível, insubstituível, inapagável Portugalidade. Em Goa, Damão ou Diu, o miúdo faz-se homem à sombra dos pináculos das catedrais, dos muros espessos das fortalezas, da visão omnipresente do brasão-de-armas de Portugal. Falando ou não a nossa língua, sabe-se de certa maneira em Portugal e de certo modo português também, continuador também da herança portuguesa. Ele chama-se Lobo, Sousa, Marques, Fonseca, Pinto, Costa; provavelmente, é católico e, se não o for, nem por isso deixou de nascer e viver entre as ruínas da civilização indo-portuguesa que ali prosperou. No que importa, que é a alma dos povos, Portugal não saiu da Índia.
Nada tendo o Portugal de 2017 a exigir, tudo deve ter a sugerir. Naturalmente, Goa não constitui já problema político: o seu estatuto ficou fechado em 1961, e é exercício revisionista e sem relevância para o futuro determinar se bem ou mal. Mas, não havendo dúvida que a antiga Índia portuguesa foi integrada na actual República da Índia e de que esse é assunto fechado, mantém-se muito verdade que a Portugalidade indiana vive, é forte e merece tratamento distinto do que lhe tem sido dispensado pelas autoridades de Nova Déli. Cometeu-se grave erro, por exemplo, quando se reconheceu a anexação e reatou relações diplomáticas com a Índia sem antes, como teria feito um governo mais previdente, garantir para a língua portuguesa estatuto oficial nos antigos territórios indianos de Portugal. Não o tendo feito Lisboa quando teve para isso oportunidade, permitiu que em Goa não fosse oficial o português mesmo quando o francês o é na antiga possessão francesa de Pondicherry. Ora, não desmerecendo nós Pondicherry e a França, a ligação entre Paris e aquele enclave não é comparável à existente entre nós e a nossa Índia - Pondicherry foi estabelecido apenas em 1674, sendo que os portugueses chegaram à Índia em 1498.
A Índia é uma grande potência em ascensão. Portugal e os países portugueses - com destaque para o Brasil, seu parceiro nos BRICS - respeitam-na e admiram-na. Mas não devem pretender erguer o futuro sobre o esquecimento do passado, pelo que a única maneira de construir com Nova Déli relações profundas, com consideração mútua e plena confiança, é insistindo com ela para que rectifique a imensa injustiça que é o facto de o português não ser reconhecido como oficial em parte alguma do antigo Estado português da Índia. Insistam, pois, as nações da Portugalidade junto da Índia para que ela eleve o português a língua oficial de Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli; ocupem-se da preservação e restauro do património indo-português ameaçado; colaborem com as as autoridades regionais de maneira a garantir, se necessário com professores vindos de países da Portugalidade, o ensino da nossa língua. Politicamente, Portugal já não está na Índia. Culturalmente, só sairá se, por incúria, estupidez, preguiça ou desinteresse se permitir a extinção do nosso legado. Aja-se, pois. A História e a Portugalidade o exigem.
RPB
// (Por) A NP contribuirá para o salvamento da Portugalidade indiana criando na antiga Índia portuguesa núcleos seus. Se é indo-português e quiser ajudar, mande-nos mensagem rapidamente. Precisamos de si.
// (Eng) Nova Portugalidade wishes to help save Portuguese culture all over India by establishing autonomous branches of the movement in what was formerly Portuguese India. If you are Indo-Portuguese and wish to help, please send us a private message as soon as possible. We do need you very much.
Goa não foi "libertada", mas conquistada: o que dizia a imprensa internacional da invasão
" a indignação inicial do mundo no resort pacifista da Índia para a violência militar para a conquista diminuiu em desdém. E em Goa, um novo governador faz uma pose simbólica antes de retratos de homens que tinha o próspero enclave português durante 451 anos. Ele é k. P. Candeth, comandando a 17 ª divisão de infantaria da Índia, e como o próprio modelo de um grande general moderno, ele não traiu nenhum sinal de que ele está encontrando evangelização menos do que feliz sobre sua "Libertação". as meninas goeses recusam-se Para dançar com oficiais indianos. As lojas de goeses foram despojado por soldados indianos de luxo, e as restrições de importação indianas impedem a substituição. Mesmo na Índia, as dúvidas são ouvidas. " Índia ", disse respeitado chakravartin rajagopalachari, líder do partido swatantra, " perdeu totalmente o poder moral para levantar a sua voz contra o uso do poder militar "
"pose simbólica do governador de Goa", Life International, 12 de Fevereiro de 1962
Na imagem, a bandeira de Portugal esvoaça sobre Goa. Anos 50.
Uma ferida portuguesa é dor brasileira: Portugal e Brasil unidos nos maus momentos
Aquando da invasão de Goa pela União Indiana, a posição brasileira foi de total solidariedade com Portugal. O presidente brasileiro, Juscelino Kubitschek de Oliveira, usou a ocasião para reiterar a natureza sanguínea, profunda e inquebrantável dos laços entre as nações portuguesa e brasileira. Ao primeiro-ministro indiano, Nehru, disse que "os setenta milhões de brasileiros não poderiam nunca compreender, e muito menos aceitar, um acto de violência contra Goa". Já o conhecido filósofo, historiador e sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, então deputado federal, comentou ainda que "uma ferida portuguesa é dor brasileira". Sem dúvida, modo bonito e eloquente de sintetizar o que une os dois mais antigos Estados da Portugalidade.
Aquando da invasão de Goa pela União Indiana, a posição brasileira foi de total solidariedade com Portugal. O presidente brasileiro, Juscelino Kubitschek de Oliveira, usou a ocasião para reiterar a natureza sanguínea, profunda e inquebrantável dos laços entre as nações portuguesa e brasileira. Ao primeiro-ministro indiano, Nehru, disse que "os setenta milhões de brasileiros não poderiam nunca compreender, e muito menos aceitar, um acto de violência contra Goa". Já o conhecido filósofo, historiador e sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, então deputado federal, comentou ainda que "uma ferida portuguesa é dor brasileira". Sem dúvida, modo bonito e eloquente de sintetizar o que une os dois mais antigos Estados da Portugalidade.
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