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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 11 de fevereiro de 2023

A 11 DE FEVEREIRO DE 1944 MORREU PAIVA COUCEIRO


 11 de Fevereiro de 1944: Morre Paiva Couceiro, Herói militar, administrador colonial, político português e Monárquico convicto.


Paiva Couceiro, de seu nome Henrique Mitchell de Paiva Cabral Couceiro, * Lisboa, São Mamede 30.12.1861 - † Lisboa, São Sebastião da Pedreira 11.02.1944, era filho de José Joaquim de Paiva Cabral Couceiro e de D. Helen Elizabeth Theresa Mitchell; Neto paterno de Manuel Inácio de Paiva Cabral Couceiro e de D. Maria da Pena Dias Simões e neto materno de Henry Armstrong Mitchell e de Anna Elliot.

Henrique Paiva Couceiro foi um militar, administrador colonial e político português que se notabilizou nas campanhas de ocupação colonial em Angola e Moçambique e como inspirador das chamadas incursões monárquicas contra a Primeira República Portuguesa em 1911, 1912 e 1919.

Presidiu ao governo da chamada Monarquia do Norte, de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919, na qual colaboraram activamente os mais notáveis integralistas lusitanos.

A sua dedicação à causa monárquica e a sua proximidade aos princípios do Integralismo Lusitano, conduziram-no por diversas vezes ao exílio.

Biografia:

Henrique Mitchell de Paiva Couceiro nasceu em Lisboa, filho do general José Joaquim de Paiva Cabral Couceiro, notável oficial de engenharia do Exército Português, e de D. Helena Isabel Teresa Mitchell, uma protestante inglesa convertida ao catolicismo, que depois de educada num colégio de freiras em França, viera residir em Portugal como mestra das filhas do 1.º Visconde do Torrão.

A mãe era de uma fé intensa e militante, razão pela qual Henrique Paiva Couceiro cresceu num ambiente de religiosidade exacerbada e de um catolicismo extremo e dominador, que nem permitia, por exemplo, a leitura de romances considerados impuros: já na Escola do Exército, Paiva Couceiro orgulhava-se de os rasgar, mesmo que fossem emprestados, suspeitando-se que achava os romances perversos por natureza.

A educação recebida e a duradoira influência materna terá levado a que no fim da vida Paiva Couceiro confessasse que lera muito poucos romances e que nunca fora ao teatro nem ao cinema. Pelo contrário, ia diariamente à missa, quando não estava em campanha, e em campanha todos os dias lia a IMITATION DE JESUS-CHRIST, preparando-se para o supremo sacrifício. Terá considerado, em 1891, após o seu regresso das campanhas no sul de Angola, ingressar numa ordem religiosa.

Depois de concluir os seus estudos preparatórios em Lisboa, assentou praça a 14 de Janeiro de 1879, com 17 anos de idade, como voluntário no Regimento de Cavalaria Lanceiros de El-Rei (o Regimento de Cavalaria n.º 2), no qual serviu até ao ano de 1880. Neste último ano foi transferido para o Regimento de Artilharia n.º 1, como aspirante, frequentando o curso preparatório da arma de artilharia na Escola Politécnica de Lisboa. Ingressou então na Escola do Exército, onde frequentou o curso de Artilharia de 1881 a 1884.

A 24 de Junho de 1881, com apenas 19 anos de idade e na véspera de ser promovido a alferes de artilharia, ao cruzar-se no Chiado com Luís Léon de la Torre, que dá um encontrão na sua irmã Carolina que o acompanhava, num acesso de raiva, deu-lhe 2 ou 3 murros (e não 5 tiros). Léon de la Torre pôs-se imediatamente em fuga receando levar mais. Devido a estes murros, Léon de la Torre esteve 42 dias doente. Segundo a "Nota de assentos que tem no livro de matricula e no registo disciplinar o official abaixo mencionado", Paiva Couceiro foi preso a 25 de Junho de 1881 pelo crime de ferimentos. A nota de assentos continua: "Em Conselho de Guerra dois anos de prisão militar por ferimentos voluntarios. Sentença do 1° Conselho de Guerra permanente do 1o Conselho de Guerra permanente da 1a Divisão Militar de 7 de Novembro de 1881. Comutada a pena na de seis mezes da mesma prisão alem da que já tinha sofrido. D. de 7 de Abril de 1882. Solto em 7 de Outubro". Esteve portanto preso durante 1 ano 3 meses e 18 dias.

Regressou à escola do exercito em 26 de Outubro de 1882.

A 9 de Janeiro de 1884 foi promovido a segundo-tenente de artilharia, servindo no velho Regimento de Artilharia N.º 1, em Campolide.

No Regimento de Artilharia N.º 1 fez parte de um grupo de jovens tenentes que cultivavam as chamadas artes militares, dedicando-se à esgrima e à equitação, desenvolvendo uma carreira militar que não mereceu reparos ou particular destaque.

No seguimento dessa carreira, foi promovido a primeiro-tenente em 27 de Janeiro de 1886. Foi novamente promovido a 4 de Julho de 1889, desta feita ao posto de capitão, sem prejuízo dos oficiais mais antigos da sua classe e arma para servir em comissão na província de Angola, oferecendo-se então para realizar, como voluntário, uma comissão de serviço nas colónias ultramarinas, onde então se desenvolvia um esforço de efectiva ocupação do território, consequência da Conferência de Berlim sobre a partição da África entre as potências coloniais europeias. Foi enviado para Angola, desembarcando em Luanda a 1 de Setembro de 1889.

As campanhas de Angola:

Chegado a Angola foi logo nomeado comandante do Esquadrão Irregular de Cavalaria da Humpata, um grupo de caçadores a cavalo, sediado na vila de Humpata, que fora criado por Artur de Paiva para combater os bandos de salteadores (designados por guerras) que então assolavam o planalto de Moçâmedes. Não permaneceu muito tempo nesse cargo, aparentemente pouco agradado com os métodos e a indisciplina dos seus subordinados, apenas tendo participado numa acção destinada a recuperar gado roubado, em que utilizou exclusivamente soldados e voluntários portugueses, não recorrendo à usual ajuda de mercenários bóeres.

Com o alargamento do esforço de ocupação do interior de Angola e das tentativas de dar sustentação à reclamação portuguesa de soberania sobre a região entre Angola e Moçambique, o famoso mapa cor-de-rosa, foram desencadeadas diversas campanhas de exploração do interior de Angola. A resistência não se fez esperar e foi iniciada uma vasta campanha militar, designada por Campanhas de Pacificação de Angola ou Campanhas de Conquista e Pacificação (1889-1891), na qual Paiva Couceiro se empenhou energicamente. .

Nessa campanha a primeira missão que foi confiada a Paiva Couceiro foi obter a vassalagem do soba Levanica (Lewanika) do Barotze, na região que hoje é a Zâmbia, o que implicava uma caminhada de quase um milhar de quilómetros pela savana. Contudo, depois de uma longa espera no Bié, nos arredores da actual cidade de Kuito, aguardando por reforços e pelos presentes que devia levar ao soba, recebeu a notícia do cancelamento da expedição. Apenas meses depois soube que o cancelamento se devera à inutilidade da missão, em resultado de Portugal ter cedido ao ultimato britânico de 1890 e os territórios a visitar terem passado para a esfera de influência britânica. Deixou então de usar o apelido Mitchell, dada a sua ligação britânica.

Sabedor do conhecimento pormenorizado que o velho comerciante e explorador António Francisco da Silva Porto tinha do sertão, enquanto permaneceu no Bié acampou nas proximidades da embala de Belmonte, a aldeia fundada por Silva Porto nas margens do rio Kuito e onde aquele famoso sertanejo residia. Aquela aldeia foi o núcleo da vila e cidade de Silva Porto dos tempos coloniais portugueses e da hoje cidade de Kuito.

A presença da força militar comandada por Paiva Couceiro, com 40 moçambicanos armados com espingardas de repetição Snider-Enfield, gera grande tensão com as tribos do Bié, inquietas face à presença de tropas portuguesa no seu território, o que levou o soba Dunduma (o Trovão) a exigir a imediata partida das tropas. Face ao incumprimento da promessa de que as tropas estavam apenas de passagem, que lhe fora feita anteriormente por Silva Porto, aquele soba põe término às relações pacíficas de há muito existentes entre os autóctones e Silva Porto, a quem injuria puxando-lhe as barbas e dizendo-lhe que as não merecia, e exige a retirada imediata de Paiva Couceiro, o que este terminantemente recusa.

Num ambiente de pessimismo resultante do ultimato britânico, Silva Porto, ferido na sua honra e dignidade após o fracasso da tentativa de mediação com Dunduma, amortalhou-se na bandeira portuguesa e fez-se explodir com alguns barris de pólvora.

Após a morte de Silva Porto, Paiva Couceiro instala-se brevemente na embala de Belmonte, mas acossado pelas forças do soba do Bié, foi obrigado a retirar-se para o reino vizinho do Bailundo, onde depois de permanecer alguns dias isolado, recebeu ordem do governador-geral Guilherme de Brito Capelo para descer o rio Cubango até Mucusso, uma viagem de 2 600 km por terras desconhecidas.

O objectivo era o avassalamento dos sobas da região, antes que os britânicos o fizessem, e a determinação da navegabilidade do rio. Iniciada no Bailundo a 30 de Abril de 1890, a viagem foi épica, dela resultando, para além da feitura dos vassalos que lhe fora determinada (ao todo 16 sobas), um relatório riquíssimo em pormenores etnográficos e geográficos, nalguns casos marcando o primeiro contacto europeu com os povos e terras visitados. Terminada a missão em 30 de Julho, dia em que atingiu, finalmente, a embala do soba do Mucusso. Resolveu então descer o rio Cubango de canoa até às ilhas de Gomar, a 65 quilómetros dali, e regressar ao longo do rio até ao Forte Princesa Amélia, no Bié, onde chegou a 14 de Outubro, depois de cinco meses e meio no mato, em permanente risco de perder a vida e em condições insuportáveis para qualquer europeu. Por este desempenho excepcional receberia a 18 de Dezembro de 1890 o grau de cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Regressado ao Bié, participou, com as forças de Artur de Paiva, na expedição punitiva que terminou na prisão e deposição do soba Dunduma (ou N’Dunduma) que o ameaçara seis meses antes e na completa subjugação do reino do Bié. Estava vingado o insulto que lhe fora feito e a morte de Silva Porto.

Terminada aquela operação, ainda foi encarregado de ir avassalar os povos da região da Garanganja e explorar os depósitos de sal-gema existentes na margem esquerda do rio Cuanza. Com a sua usual minúcia, Paiva Couceiro descreveu no seu relatório os 453 quilómetros que andou em doze dias, os dois caminhos para a Garanganja que reconheceu e os quatro sobas que avassalou, bem como as salinas que cuidadosamente visitou.

Terminada mais esta operação, voltou a Belmonte, no Cuito, onde se recolheu doente com febres.

Coberto de glória e fama nacional, pela acção militar notável que conduziu em Humpata e pela sua extraordinária viagem de exploração, já agraciado em 18 de Dezembro de 1890 com o grau de cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, foi recebido em Lisboa com rasgados elogios ao seu desempenho nas campanhas de Angola e elevado a grande-oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, por decreto de 29 de Maio de 1891. Em homenagem aos grandes serviços prestados, e antes de voltar à Metrópole depois de passar um mês no hospital, doente, recebeu da parte do povo da região de Belmonte-Cuito-Benguela uma réplica do colar de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada em ouro, cravejado de diamantes. Esta magnífica condecoração, aliás como todas as outras, desapareceram quando a sua casa em Lisboa foi saqueada durante a Revolta de 14 de Maio de 1915.

A 17 de Fevereiro de 1891, o Ministério da Marinha e Ultramar dá por terminada a sua comissão de serviço ultramarino e ordena o seu regresso a Portugal. Por ter regressado do Ultramar onde não completou a comissão, fica na arma a que pertencia voltando ao posto de 1° Tenente. É então colocado no Estado Maior de Artilharia n° 5. Em Julho de 1891 é colocado no Regimento de Artilharia n° 3, em Santarém; é aqui que nos princípios de Agosto de 1892 Henrique de Paiva Couceiro salva um dos seus soldados de se afogar quando se banhava nas águas do Tejo, em Santarém. Recebe por essa acção corajosa a Medalha de Prata de Mérito, Filantropia e Generosidade (Ordem do Exército n° 292 - 1892 - Diário do Governo de 17 de Setembro de 1892) - (Medalha de D. Maria II). A 13 de Agosto de 1892 volta ao Regimento de Artilharia n° 1 em Campolide (Lisboa). De novo passa ao Estado Maior onde é promovido a capitão a 16 de Maio de 1894.

A campanha de Moçambique:

Quando em Outubro de 1894 os povos tsonga do sul de Moçambique se rebelaram e atacaram Lourenço Marques, o governo presidido pelo regenerador Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, nomeou o antigo ministro progressista António Enes para o cargo de comissário régio em Moçambique, com a missão de esmagar a revolta dos povos autóctones e reafirmar a soberania portuguesa sobre a região, então ameaçada pelos britânicos, liderados por Cecil Rhodes, que consideravam os portugueses incapazes de manter a posse do território moçambicano.

Provavelmente devido à sua fama africanista granjeada em Angola, Paiva Couceiro foi convidado e aceitou o convite para o cargo de ajudante de campo do comissário régio em Moçambique. A expedição parte de Lisboa a 8 de Dezembro de 1894 e desembarcou em Lourenço Marques a 18 de Janeiro de 1895. A situação encontrada não podia ser pior, pois a esmagadora maioria dos régulos da região estava contra os portugueses, estando estes encurralados em Lourenço Marques, incapazes de controlar as imediações da cidade, onde mesmo a ilha Xefina fora ocupada pelos insurgentes.

António Enes, estratega arguto, desencadeou um conjunto de campanhas militares, elegendo como principal adversário Gungunhana, o rei dos vátuas e imperador de Gaza, de facto suserano da generalidade das tribos do sul de Moçambique. Nestas campanhas, Paiva Couceiro teve acção notável, particularmente nos combates de Marracuene e Magul, travado a 2 de Novembro contra as forças angunes de Gungunhana, sendo ferido neste combate.

No combate de Marracuene, travado a 2 de Fevereiro de 1895, Paiva Couceiro ganhou grande destaque, particularmente ao liderar as tropas que repeliram as forças inimigas que tinham penetrado o quadrado defensivo português, uma manobra considerada de extrema dificuldade e que exigia enorme coragem. Em Agosto de 1895 foi feito cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis, como prémio pelo seu desempenho em Marracuene.

Regressado a Lourenço Marques, em Março daquele ano Paiva Couceiro voltou a demonstrar a sua coragem e a sua vontade de manter intacta a honra do seu País: vestido à paisana, procurou pessoalmente três correspondentes de jornais ingleses, dois ingleses e um americano, que hostilizavam Portugal na imprensa de Londres. Sovou o 1°, um gigante, no seu estabelecimento; a luta estendeu-se até á rua onde Paiva Couceiro deixou o seu inimigo knock-out. O segundo estava no hotel e levou uma sova sem resistir. O terceiro estava a tomar o aperitivo com amigos; pediu-lhe que se levantasse e perguntou-lhe se era ele que escrevia para o jornal que Couceiro trazia na mão. O jornalista respondeu "yes" e Paiva Couceiro esmurrou-o com o seu punho e o jornal á mistura. O anel de sinete que usava na sua mão esquerda foi partido na escaramuça e, mais tarde, foi oferecido ao Museu da Fortaleza (Lourenço Marques) por seu filho D. Miguel António do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro. Mais uma vez, Henrique de Paiva Couceiro utilizou os seus punhos; de armas serviu-se sobretudo da sua espada, como no combate de Marracuene, quando ajudou a fechar o quadrado que tinha sido rompido pelos inimigos. Por este incidente foi repreendido pelo seu Chefe, o Comissário António Ennes, que mais tarde escreveu: repreendi-o sim, mas com vontade de o beijar!

No desenrolar das operações subsequentes, Paiva Couceiro voltou a destacar-se no combate de Magul, travado a 8 de Setembro de 1895, onde se portou com grande denodo, num acto do qual o comissário régio António Ennes reconheceu a grande importância ao dizer: "Há-de ver-se que a vitória de Magul perdeu o Gungunhana; a derrota perderia, provavelmente, o distrito de Lourenço Marques. Se não fora Paiva Couceiro, provavelmente, lamentaríamos ainda hoje tamanha desgraça." - in "Portugal em África", Março de 1944, p. 76

Demonstrando extraordinária coragem física, Paiva Couceiro ficou célebre, nomeadamente, na luta contra as forças de Gungunhana. Pelos seus feitos militares, foi alvo de diversas condecorações e homenagens, particularmente após o aprisionamento de Gungunhana e a sua extradição para Portugal.

Concluídas as operações de pacificação e preso e deportado o imperador Gungunhana, Paiva Couceiro embarcou em Lourenço Marques a 18 de Dezembro de 1895, com destino a Lisboa.

Chegado a Lisboa, em Fevereiro de 1896 foi proclamado Benemérito da Pátria, por decisão unânime das Cortes, como reconhecimento pela apreensão de Gungunhana, e feito Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, com uma pensão anual de 500$000 réis, que de resto nunca recebeu durante a república. Foi o primeiro e provavelmente o único oficial Português a ser agraciado, até hoje, com três graus da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Mas as honrarias não se ficaram por ali: foi nomeado ajudante-de-campo honorário do rei Dom Carlos I de Portugal - mais uma honra que lhe foi concedida depois de ter sido nomeado oficial às ordens de Sua Majestade El-Rei, por decreto de 11 de Fevereiro de 1893 - passando a integrar a Casa Militar do Rei, e em Março recebeu a medalha de ouro de valor militar e a Medalha de Prata Rainha Dona Amélia, por ter combatido na campanha de Moçambique. Era oficialmente um herói e um benemérito da Pátria.

Vida familiar:

A 21 de Novembro de 1896 casou com D. Júlia Maria do Carmo de Noronha (1873 — 1941), filha primogénita e herdeira de D. Miguel Aleixo António do Carmo de Noronha, 3.º Conde de Parati, e de sua mulher D. Isabel de Sousa Botelho, filha de D. Fernando de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1849 — 1936), 2.º Conde de Vila Real. O Rei Dom Carlos I foi o padrinho. Desse casamento resultou a seguinte descendência:

• D. Isabel Maria do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro;

• José António do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro;

• D. Helena Francisca Maria do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro, freira na congregação das Doroteias;

• D. Maria do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro;

• Miguel António do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro, 4.º Conde de Parati, por mercê régia concedida a sua mãe.

Condecorações:

Ao longo da sua carreira recebeu numerosos louvores e múltiplas condecorações, entre as quais:

- Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, - Lealdade e Mérito (Diário do Governo e Decreto de 18 de Dezembro de 1890)

- Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor,

Lealdade e Mérito (Decreto de 29 de Maio de 1891 - Diário do Governo de 20 de Junho de 1891)

- Medalha de Prata de Mérito, Filantropia e Generosidade (Ordem do Exército n° 292 - 1892 - Diário do Governo de 17 de Setembro de 1892) - (Medalha de D. Maria II)

- Medalha de Mérito Militar de Espanha (1893-94) - Por ter acompanhado o Exército de Operações em Mellila sob as ordens do Capitão General D. Arsénio Martinez de Campos.

- Cavaleiro da Ordem Militar de Avis - (Ordem do Exército n°18 - 2a série - de 3 de Agosto de 1895)

- Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (Ordem do Exército n° 3 de 1896 - Diário do Governo de 3 de Fevereiro de 1896)

- Medalha de Ouro de Valor Militar (D. Luiz I) - (Ordem do Exército n°7 de 1896 - Diário do Governo de 26 de Março de 1896)

- Medalha de Prata Rainha D. Amélia - Expedição a Moçambique (Ordem do Exército n°9 de 1896 - Diário do Governo de 3 de Fevereiro de 1896)

- Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial (Diário do Governo II série - n° 179 de 3 de Agosto de 1932

Obras publicadas por Henrique de Paiva Couceiro:

- Relatório de viagem entre Bailundo e as terras do Mucusso, Imprensa Nacional, 1892

- Angola: Estudo administrativo, Tipografia da Cooperativa Militar, 1898

- Artur de Paiva, A. Liberal, 1900

- A Democracia Nacional, Imprensa Portuguesa, Lisboa, depositários França & Arménio, Coimbra, 1917

- O Soldado Prático", Tipografia Silvas, Ltd, Lisboa, para as Edições Gama, Lisboa, 1936

- Angola: dois anos de governo, Junho 1907 — Junho 1909, Edições Gama, Lisboa, 1948 [foi acompanhada pela obra de Norton de Matos, Angola: ensaio sobre a vida e acção de Paiva Couceiro em Angola que se publica ao reeditar-se o seu relatório de Governo Edições Gama, Lisboa, 1948].

- Angola, história e comentários, Tipografia Portuguesa, 1948

- Angola: Projecto de Fomento, Edição da Revista "Portugal Colonial", Lisboa, 1931

- Subsídios para a Obra do Ressurgimento Nacional, Fascículo I - O Estado Nacional, Tipografia "Hesperia", Madrid, 1927

- Subsídios para a Obra do Ressurgimento Nacional, Fascículo II - A Nação Organizada, Tipografia da Gazeta dos Caminhos de Ferro, Lisboa, 1929

- Profissão de Fé (Lusitânia Transformada), seu último livro e verdadeiro testamento político, com prefácio de Luís de Almeida Braga, Tipografia Leitão, Porto, para as Edições Gama, Lisboa, 1944

- Experiência de Tracção Mecânica na Província de Angola, Imprensa da Livraria Ferin, Lisboa, 1902

- Carta Aberta aos Meus Amigos e Companheiros, edição da Acção Realista Portuguesa, Biblioteca de Estudos Nacionalistas, 1924

- Projecto de Orçamento do ano Económico de 1917/18 do Distrito de Angola, Luanda, 1900.

(Fontes: Investigação de António Carlos Janes Monteiro, GeneAll e Wikipédia)


Associação dos Autarcas Monárquicos



♔ | 11 de Fevereiro de 1944 - Morre Paiva Couceiro, O Último Herói Português

A 11 de Fevereiro de 1944, há precisamente 79 anos falecia o derradeiro dos heróis Portugueses, Comandante HENRIQUE Mitchell DE PAIVA Cabral COUCEIRO. Herói militar em África, Governador-Geral de Angola e um dos poucos oficiais que na Revolução republicana de 1910 se bateria, com denodo, pela defesa da Monarquia e que seria o Organizador das Incursões Monárquicas e restaurador da Monarquia Constitucional a 19 de Janeiro de 1919 - sendo Regente do Reino em nome de S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal -, no episódio conhecido como ‘Monarquia do Norte’, cujo Centenário se evocou, precisamente, entre 19 de Janeiro e 13 de Fevereiro de 2019.

Nas palavras do poeta monárquico, e seu amigo próximo, o genial Afonso Lopes Vieira:

‘É cedo para falar de Paiva Couceiro. Circunstâncias do tempo e da fortuna não deixariam dizer toda a verdade acerca do heroísmo e da glória da sua vida - do seu martírio também.

Por agora apenas podemos sentir o luto espiritual em que ele nos deixou. E esse luto provém da convicção, ao mesmo tempo heróica e angustiada, de que ele foi o ÚLTIMO!’

Henrique Mitchell de Paiva Couceiro nasceu, em Lisboa, a 30 de Dezembro de 1861. Depois de concluir os seus estudos preparatórios em Lisboa, assentou praça a 14 de Janeiro de 1879, com 17 anos de idade, como voluntário no Regimento de Cavalaria Lanceiros de El-Rei (o Regimento de Cavalaria n.º 2), no qual serviu até ao ano de 1880. Neste último ano foi transferido para o Regimento de Artilharia n.º 1, como aspirante, frequentando o curso preparatório da arma de artilharia na Escola Politécnica de Lisboa. Ingressou então na Escola do Exército, onde frequentou o curso de Artilharia de 1881 a 1884.

No Regimento de Artilharia n.º 1 fez parte de um grupo de jovens tenentes que cultivavam as chamadas artes militares, dedicando-se à esgrima e à equitação. Foi promovido a primeiro-tenente em 27 de Janeiro de 1886. Foi novamente promovido a 4 de Julho de 1889, desta feita ao posto de capitão, oferecendo-se então para realizar, como voluntário, uma comissão de serviço nas colónias ultramarinas, onde então se desenvolvia um esforço de efectiva ocupação do território, consequência da Conferência de Berlim sobre a partição da África entre as potências coloniais europeias. Foi enviado para Angola, desembarcando em Luanda a 1 de Setembro de 1889.

Pela acção militar notável que conduziu em Humpata e pela sua extraordinária viagem de exploração, é recebido em Glória, em Lisboa.

Paiva Couceiro foi convidado e aceitou o convite para o cargo de ajudante de campo do comissário régio António Ennes, em Moçambique, onde chega a 18 de Janeiro de 1895.

Aí foi um militar notável, e no combate de Marracuene, travado a 2 de Fevereiro de 1895, Paiva Couceiro ganhou grande destaque, particularmente ao liderar as tropas que repeliram as forças inimigas que tinham penetrado o quadrado defensivo português, uma manobra considerada de extrema dificuldade e que exigia enorme coragem.

Paiva Couceiro ficou célebre, nomeadamente, na luta contra as forças de Gungunhana. Pelos seus feitos militares, foi alvo de diversas condecorações e homenagens. Chegado a Lisboa, em Fevereiro de 1896 foi proclamado Benemérito da Pátria, por decisão unânime das Cortes, como reconhecimento pela apreensão de Gungunhana, e feito comendador da Torre e Espada, com uma pensão anual de 500$000 réis, que de resto nunca recebeu durante a república. Foi o primeiro e provavelmente o único oficial Português a ser agraciado, até hoje, com três graus da Torre e Espada. Mas as honrarias não se ficaram por ali: foi nomeado ajudante-de-campo honorário do rei D. Carlos I de Portugal e seu oficial às ordens, passando a integrar a Casa Militar do Rei, e em Março recebeu a medalha de ouro de valor militar e a Medalha de Prata Rainha D. Amélia, por ter combatido na campanha de Moçambique.

Em 1905, após as eleições gerais de 12 de Fevereiro (a 37.ª legislatura) e quando se tornou claro que o rei D. Carlos I pretendia finalmente apoiar a reforma do regime, o que eventualmente passaria pela entrega do poder a João Franco, Paiva Couceiro e outros ‘’africanistas’’ famosos, entre os quais Freire de Andrade, Aires de Ornelas, Ivens Ferraz e João Baptista Ferreira, decidiram-se finalmente a abandonar a posição pretensamente supra-partidária em que se tinham colocado e inscreveram-se no Partido Regenerador-Liberal, anunciando que o faziam para que os portugueses não perdessem a confiança no futuro da raça.

Inserido nas listas do Partido Regenerador-Liberal, concorreu nas eleições gerais de 19 de Agosto de 1906 (39.ª legislatura), pelo círculo n.º 15, de Lisboa Oriental, e foi eleito deputado às Cortes para legislatura de 1906 a 1907. No parlamento foi vogal da Comissão Parlamentar do Ultramar (1906); vogal da Comissão Parlamentar de Administração Pública (1906-1907) e vogal da Comissão Parlamentar da Guerra (1906-1907).

Depois voltou a Angola como Governador-Geral, onde foi um extraordinário administrador colonial; saindo de Luanda, em Junho de 1909, apesar dos protestos da população europeia que queria a sua permanência no governo.

Paiva Couceiro manteve-se relativamente arredado da vida pública, prestando em Setembro provas para promoção a major.

Este silêncio foi quebrado em Julho de 1910, quando Paiva Couceiro publicou no jornal franquista O Correio da Manhã uma carta, assinada como Agá Pê Cê (HPC), onde apela a uma contra-revolução que salve a monarquia. Depois envolve-se num conjunto de pretensas conspirações inconsequentes, aparentemente visando implantar um regime monárquico liberto do parlamento, defendendo, paradoxalmente, muitas das ideias que depois os republicanos antidemocráticos adoptariam. Sem que os seus apelos fossem ouvidos, o regime degrada-se rapidamente e a 5 de Outubro ocorre a esperada revolução e é implantada a República Portuguesa. Paiva Couceiro foi um dos poucos comandantes militares que se bateu com denodo para travar a revolução republicana, mas sem sucesso.

Nas palavras do próprio: "Depois pedi a minha demissão de oficial. E pedi-a porque, depois de tantos anos de sacrifícios e de trabalhos à sombra das cores azul e branca e dos castelos e quinas da nossa bandeira não me acho com forças para abandonar o símbolo onde me habituei a ler escrita a história do meu País. Fazer com que um símbolo tenha raízes na alma de um povo e inspire respeito a todo o Mundo, é trabalho de muitas gerações. E eu, pela minha parte, acho-me velho para principiar agora o esforço novo que os louros de uma bandeira nova implicam" - subiu as escadas do Ministério da Guerra e demitiu-se, entregando a sua espada e dizendo "Entrego a minha demissão e saio do País para conspirar. Prendam-me se quiserem". Sem resposta, voltou as costas e deixou o Ministério sem que alguém intentasse prendê-lo.

Depois do exílio autoimposto organizou as Incursões Monárquicas de 5 de Outubro de 1911 e 6 e 8 de Julho de 1912.

Com 57 anos de idade, o Comandante Paiva Couceiro tomou a decisão de aceitar liderar a Revolta que reporia a Monarquia legítima, e às 13 horas do dia 19 de Janeiro de 1919, sabendo que apenas parte da tropa aquartelada em Lisboa estava do seu lado: Cavalaria 2 Lanceiros D’El-Rei e 4, Infantaria 5 e 16 e grupos de baterias de Queluz, à frente de um milhar de soldados e algumas peças de artilharia, entra no Porto e Restaura a Monarquia Constitucional, na pessoa d’El-Rei Dom Manuel II, depositário de 771 anos de História de Portugal!

A Junta Governativa do Reino, que ficou sob o comando do Comandante Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, instalou-se junto ao Governo Civil do Porto, e governou como Regente durante 25 dias, até prevaleceram as forças republicanas muito melhor armadas e com contingente militar imensamente superior.

‘Só é vencido aquele que reconhece a sua derrota’, diria mais tarde.

Morreu, em Lisboa, a 11 de Fevereiro de 1944 aos 82 anos de uma vida heroica e dedicada ao serviço de Portugal.

Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica 

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