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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

A ÉTICA REPUBLICANA


No discurso político do janeiro parlamentar, a "ética republicana" tornou-se exorcismo, esconjuro, benzimento. É a convocação ritual do sagrado feita pelo socialista laico.
(...) A ética republicana vale mais que palavras ocas brandidas qual vara de Moisés.
Tal como com este separou as águas do Mar Vermelho, alguns procuram, com a reivindicação da ética republicana, dividir os bons e os maus da política portuguesa (...).

No discurso político do janeiro parlamentar, a "ética republicana" tornou-se exorcismo, esconjuro, benzimento. É a convocação ritual do sagrado feita pelo socialista laico. Se se diz, como António Costa no Parlamento, "Se ferir a ética republicana demito-me", é-se, de imediato, coberto por um manto sagrado. Um véu protetor qual o aspergir de água benta. Um odor a santificação, como as emanações de incenso nas cerimónias de Quinta-Feira Santa. A ética republicana é, na boca da Esquerda, a hóstia consagrada da missa dominical. A sua sonoridade beata equivale ao que o dente de alho oferece a quem esconjura vampiros. Munido com esta arma vocabular, não só se obtém adicional brilho nas tribunas, como lugar no anuário dos beatos da República.

Pensando nas monarquias, pesquiso os dicionários para ler o que se diz sobre "ética monárquica". Descubro o livro de 1496 de Diogo Lopes Rebelo, capelão de D. Manuel, Do governo da república pelo rei. Aí se proclama a necessidade de subordinação do rei a uma ética e a uma ordem normativa.

E como a expressão latina res publica (coisa pública), que origina, em Português, república, é comum à Monarquia e à República, é difícil autorizar uma "ética republicana" para lá destas diferentes formas de regime. Aliás, se se comparar as dinâmicas éticas contemporâneas em monarquias como a Espanha, Reino Unido, Suécia, Holanda, Japão, com as que se praticam em repúblicas como Portugal, França, Itália, Estados Unidos ou Alemanha, ver-se-à que não há superioridade ética das Repúblicas sobre as Monarquias.

A convocação atual da ética republicana procura ancorar-se nos escritos de antagonismo à Monarquia, nomeadamente, de Teófilo Braga (1843-1924), presidente do governo provisório que ocorre na sequência da proclamação da República a 5 de outubro de 1910. As muitas perturbações da primeira experiência republicana levaram ao golpe de Estado de 28 de maio de 1926 e à implantação do regime autoritário do Estado Novo, derrubado no 25 de Abril de 1974. Mas é comum a Esquerda portuguesa ver na I República um momento iniciático e redentor, numa pureza que, de facto, não existiu.

A "ética republicana", em abstrato, é uma forma de ética social, ou seja, o conjunto de normas de estruturação e comportamento aceites e partilhadas em dada comunidade, orientadas para certa ideia de serviço público e bem comum. A ética republicana não pode limitar-se ao vocalizo da Esquerda portuguesa.

A apropriação do sentido conceptual e prático da expressão é um abuso. Na sociedade laica, a ética republicana não se pode transformar numa religião obscurantista na mão dos sacerdotes do Poder, esperando que, ao proferir destas palavras, todos os crentes da "religião republicana" se verguem, em genuflexão.

Vamos, pois, conteudificar a expressão com o cuidado e o desvelo devidos. Retirá-la das bocas dos falsos profetas, qual evangelistas de seitas menores.

Brandir a ética republicana como quem segura a cruz face ao demónio, é uma falácia, uma impostura, uma demagogia, uma piada de mau gosto.

Hoje, ao invoca-la, não é possível contrapor a mesma ao regime monárquico. Então é levantada contra o quê ou a favor de o quê? Quais os efetivos valores a que corresponde? Porque é usada como uma bandeira da Esquerda?

A ética republicana vale mais que palavras ocas brandidas qual vara de Moisés.

Tal como com este separou as águas do Mar Vermelho, alguns procuram, com a reivindicação da ética republicana, dividir os bons e os maus da política portuguesa.

Todavia, o mundo não é assim tão simples. É que na divisão demagógica das águas políticas pelo discurso, talvez, como diz o ditado popular, "Se queres conhecer o vilão, põe-lhe uma vara na mão". Ou uma ética republicana.

Jorge Barreto Xavier
13 Fevereiro 2023 — 00:27

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