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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

“JÁ NÃO TENS O TEU REI E AMIGO”


 “JÁ NÃO TENS O TEU REI E AMIGO”, tal foi o preambulo com que, na manhã de 9 de Março de 1908, um velho amigo, - o Dr. Carlos Tavares, - me anunciou o desaparecimento de El-Rei D. Carlos. Durante 40 dias ignorara a tragédia, porque me fora oculta por prescrição medica, em virtude de uma grave queda de cavalo ocorrida em Luanda onde estava como governador geral de Angola.

Respondendo á interrogação muda dos meus olhos assombrados, narrou-me depois o Dr. Tavares esse golpe facinoroso de emboscada interna, onde a Republica encontrou as suas vias de acesso, como a monarquia as suas na luta franca de Ourique contra os inimigos externos.

Se chorar é fraqueza, - essa fraqueza a tive então. D. Carlos era para mim não só o Rei em que eu via através da hereditariedade dinástica a continuidade da Pátria eterna; mas era também o Português amante do verdadeiro povo, com quem se comprazia em fraternizar, envergando os seus trajes típicos e apreciando-lhe no convívio ameno as virtudes profundas e a fácil inteligência. Era o patriota espiritualmente compenetrado pelos nossos antecedentes históricos e pelas proeminências de grandeza a que o valor da raça, e a rijíssima fibra de caudilhos insignes elevara a fama antiga do nome lusitano; era o amigo da nossa terra cujos progressos agrícolas impulsionava mesmo como lavrador particular, e era o amigo do nosso Oceano que estudava como cientifico, e como artista reproduzia nas suas deliciosas aguarelas. Português e legitimo português, identificado com o Povo, com a História e com o Território, e também com o Mar, parte integrante da Pátria Portuguesa. E por cima disto tudo, e doutros muitos primores da inteligência e do sentimento a que o conceito internacional soube prestar preito relevante, D. Carlos era para mim o amigo a quem o coração tinha de pagar, e pagava honradamente, na moeda humana pura da gratidão afectuosa as manifestações particulares e publicas do apreço com que em vida me distinguira. As lágrimas bem se compreendem portanto.

E a explosão de desgosto que exprimiam era o melhor tributo do momento a depor sobre os corpos ainda quentes do Rei e de Seu Filho, essa esperança em flor cortada sem piedade antes que abrisse seus frutos que tanto prometia.

Mas a morte violenta do Rei é um facto histórico cheio de ensinamentos políticos que o interesse nacional manda que se ponham em foco, e rico de potencialidades espirituais que, á Salvação do Reino importa que se aproveitem. E tirar essas consequencias práticas do facto histórico é que constitui o adequado tributo que se deve á memória do Rei que perdemos. O herói morto no seu posto em defesa do Bem Público não quer que lhe lastimem o destino glorioso. Quer que o sigam no pensamento da sua obra.

A crise pátria de que o crime de 1 de Fevereiro de 1908 foi uma convulsão selvática subsiste por resolver hoje ainda, e, dia a dia, temerosa e instante.

Á “Monarquia sem monárquicos” sucedeu a “Republica sem republicanos”.

Porque destes, os melhores e mais sinceros e respeitáveis, recolhem á inactividade desenganada vendo que a Republica-facto foi a inversão escandalosa da Republica-ideal dos seus sonhos patrióticos.

Os “Erros que de longe vinham” dos tempos do liberalismo constitucional continuaram a funcionar, sob o predomínio turbulento de grupos políticos, em parte compostos por elementos oriundos da mesma derrubada Monarquia, persistindo o tripúdio das rivalidades personalistas e das ambições mesquinhas, sobre o corpo desgraçado dum País, a quem aqueles próprios que deveriam elevá-lo e servi-lo antes pelo contrário abatem no solo das perdições e vergonhas.

Agravada ainda a situação, porque ás causas anteriores de ineficácia e instabilidade, veio somar-se a ausência de correctivo superpartidário, de estabilização e ponderação que a Monarquia representava. Subindo ao poder em plena emancipação desregrada as oligarquias partidistas, e a sua causa revolucionaria.

Do mesmo poder se desencadearam portanto ventos de insânia, espalhando á toa sementes de perversidade, de egoísmo gozador, e da ganância desonesta. E á mistura, nas asas demolidoras do vendaval, arrastadas seguem, a moral das consciências, e o prestigio da Nação, as Finanças do Tesouro e as fontes particulares e publicas do Crédito e da riqueza.

É a devastação em marcha. É o desmoronamento em realidade efectiva. São em resumo os frutos da maldição surgindo, vermelhos e pútridos, das raízes que no crime se plantaram.

E o grande sacrificado por esse crime nefando de 1 de Fevereiro parece-me que estou a vê-lo lá nas regiões misteriosas onde o acolheu sem duvida a Providência Divina criadora e suprema ordenadora dos homens e das sociedades. Inspirado ainda o seu espírito pela mesma paixão dos destinos Nacionais que o conduziu ao sacrifício no altar do Dever.

Oh! Povo bem amado – crêem os meus ouvidos escutar da sua boca:

Oh! raça nobre e excelsa que, em tempos idos tanto ilustraste os fastos do Mundo com o clarão intenso das tuas imortais epopeias!

Oh! Povo laborioso e cumpridor que tanto te cansas para sustentar dignamente a família que estremeces e que tão pronto estás sempre para cobrir com o teu corpo temerário a independência e a honra desse nosso paterno ninho que livre herdaste e livre queres deixar aos teus filhos!

Oh! Minha querida gente Portuguesa tão bondosa no teu fundo natural, tão simples mas tão clara de compreensão, tão branda e tão mansa, e tão brava e resoluta ao mesmo tempo de rasgos e de audácia na hora própria, tão aberta na alma ás crenças mais altas, e tão resistente no corpo ás provações mais duras, tão sensível e tão dedicada àqueles que te conhecem o caminho do coração moldável e sincero.

Bem merecias tu teres á tua frente um Estado que fosse o espelho dos teus próprios merecimentos e te guiasse para a existência de prosperidades e de considerações internacionais a que os teus dotes e capacidade, dão direitos incontestáveis.

Tens pelo contrário um Estado que em lugar de ser o servidor dos Idealismos e Objectivos da Nação, e o depositário e o manuseador da Força Nacional a benefício desses Idealismos e Objectivos, é antes, e apenas, o servidor e o instrumento dos partidos e políticos profissionais que tratam ao jeito das suas conveniências particulares os Negócios Públicos e os Interesses das Populações. Regime em que o País é feito para os governantes e não os governantes para o País, precisamente ao inverso das velhas Instituições em que os Reis eram feitos para o Povo e não o Povo para os Reis conforme nos contam as antigas crónicas da época.

E esse regime constitucional de partidos parte e divide a Nação em bandos de assalto ao Poder quando tu bem sabes, oh! Povo, que a Consciência Nacional é o primeiro passo na estrada da tua salvação.

E gastam o tempo nas alternativas dessa luta agitada e desordeira quando a paz social e a ordem política são o ambiente imprescindível para a obra do ressurgimento. Dissolvem o principio da autoridade, deturpam o exercício da justiça, quebram os laços da disciplina e anulam os estímulos do trabalho, quando o restabelecimento das antigas primazias portuguesas não é viável senão for instituído um Poder forte, restaurador da autoridade, braço da Justiça, guarda da disciplina e amparo do trabalho.

E introduzem finalmente nos costumes públicos, as concessões de favoritismo, de vícios e de egoísmo materialista desassombrado incompatíveis e antagónicos com os altos conceitos de moralidade, abnegação e civismo fora dos quais não há Pátrias que se sustentem de pé, nem há aspirações patrióticas que possam encaminhar-se e realizar-se.

Tais são na prática essas modernas Instituições, oh! Portugueses, em que a toga do mando como a túnica de Cristo, anda jogada aos dados sobre os tambores da retórica partidária enquanto a Pátria geme e desfalece sobre a Cruz da agonia.

E não laves daí as mãos como Pilatos oh! Povo sofredor pois também tens culpas porque consentes. E Deus não ajuda aqueles que perante o mal cruzam os braços sem fazer por evitá-lo.

E queixas-te primeiro de ti mesmo oh! Povo esquecido que pensas que não colhestes ainda o fruto da tua experiencia. Do regime dos partidos monárquicos – erros que de longe vinham – resultou a Monarquia sem partidos e resultou em consequência a minha morte e a morte da Monarquia.

Da origem dos partidos republicanos está resultando a morte da Pátria.

Ainda não viste?

Não te basta o meu holocausto, e o holocausto das tuas Instituições seculares? E se já viste, o que é que esperas agora, oh Povo, que te prende?

Será o holocausto da Pátria?

Suspendem-se os ecos da voz Real nesta pergunta fatídica, cuja resposta ao Povo pertence. Laborare est orare. E quando na mansão dos justos onde a Santa Graça de Deus os retém em paz, os espíritos do Rei e de Seu Filho esperam como preces comemorativas a homenagem digna do seu tumulo de mártires, a Reacção Nacional redentora da Pátria pela qual, Eles, com extrema coragem e brio consolado verteram o seu sangue oferecendo o corpo ao perigo por amor do seu rebanho como os pastores verdadeiros em face dos lobos enraivecidos firmes no posto da dedicação extrema que só as devoções da alma e não o místico mercenário são capazes de acender no banco da humana fragilidade.

Henrique de Paiva Couceiro.

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