Prémio de Lusofonia - 22 de Março de 2016
Mendo Castro Henriques
Estamos
aqui reunidos para um acto de justiça: a entrega do prémio Personalidade
Lusófona do MIL a Dom Duarte, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real
Portuguesa, um prémio que simboliza o reconhecimento da sociedade civil dos
países lusófonos.
Nesta
sala da Sociedade de Geografia em que respiramos a atmosfera lusófona, que se
mede por séculos e muitas gerações, podemos dizer que a História veio visitar a
Geografia na sua pessoa.
Mas
se Dom Duarte fosse só História, se fosse só passado, não estaríamos aqui a
celebrá-lo.
Estamos
aqui porque Dom Duarte tem uma mensagem de futuro, exposta em todas as suas
intervenções públicas, nas suas viagens e contactos internacionais.
Cada
dia são mais os que perfilham a visão de que, juntos, os países de língua
portuguesa podem e devem construir um destino comum, melhor do que aquele que
vivem separados.
Num
mundo global em que as comunicações não têm fronteiras, os valores da
estabilidade e da competitividade assumem uma importância fundamental para que as
nações lusófonas se afirmem abertas ao progresso e ao desenvolvimento.
E
para essa finalidade, e sem quaisquer ajudas do Estado, Dom Duarte tem-se
deslocado ao mundo da lusofonia procurando incutir essa disposição nas
comunidades que visita e nos governantes com quem fala.
São
bem conhecidas as suas palavras de encorajamento para que a Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa possa evoluir no sentido de uma Confederação,
aproximando as nações irmanadas pela língua.
Essa
sua ligação espelha-se em todos as nações e diásporas da comunidade lusófona, a
começar pela mais distante, Timor-Leste.
A
sua ligação a Timor começou há muitos anos. Foi de lá, onde se encontrava de
visita, que enviou a sua mensagem a saudar a Revolução do 25 de Abril.
Foi
em Timor que, desde o inverno de 1975, ao visitar os refugiados no vale de
Jamor, focou a sua atenção e cuidados depois continuados nos anos 80 na campanha
“Vamos Ajudar Timor”
E
quando Timor Leste se tornou a mais jovem nação do mundo em 2002, Dom Duarte,
forçado a acompanhar à distância esse acto, prosseguiu a sua campanha através
dos apoios concedidos pela Fundação D. Manuel II, a que preside.
Tudo
isso explica a honrosa decisão por unanimidade do Parlamento Timorense em 2011,
de conceder-lhe a nacionalidade timorense que veio reforçar a obrigação que
sente de apoiar esta Nação !
E
assim, após visitar o país com a família em 2014, esteve em Dili em 2015, a
convite do Estado Timorense, a fim de participar nas comemorações dos 500
anos do começo da convivência entre Timorenses e Portugueses.
Nos
países onde vai contactar com comunidades lusófonas, na Europa ou no resto do
Mundo, Dom Duarte é recebido como o rosto vivo da lusofonia, o irmão mais velho
que se recebe em casa.
É
assim no minúsculo Grão–Ducado do Luxemburgo, onde 20% da população activa é
portuguesa, como nos gigantescos Estados Unidos da América, onde tem sido
recebido quer por governantes como o falecido Ronald Reagan quer pelas
comunidades de migrantes portugueses.
No Brasil – e Dom Duarte é filho de D. Maria
Francisca, trineta do rei D. Pedro IV ou imperador Pedro I, do Brasil - deslocou-se
neste Março, a fim de agradecer ao Ministro Assuntos Exteriores
Mauro Vieira e à Presidente Dilma Roussef, em Brasília, a concessão da
nacionalidade brasileira a si e à sua família.
Na
prestigiada União Brasileira de Escritores no dia 16 de Março de 2016, realizou
uma palestra sobre a “A Influência da Língua Portuguesa no Mundo”, e a difusão
da Lusofonia entre os seus povos e o trabalho desenvolvido pela Fundação Dom
Manuel II.
Aí
recebeu a Medalha Jorge Amado, por sua afirmação da língua portuguesa, e seu
incansável trabalho em prol da difusão do ideal lusófono.
Nas suas visitas à Galiza,
encontra sempre um vivo interesse pela língua portuguesa, “o português da
Galiza” e pelo aprofundamento das relações económicas e culturais de Portugal
com a nacionalidade irmã.
Com
Angola, onde colaborou nos longínquos anos de 1971 para organizar uma lista
independente que concorresse às eleições, tem mantido laços do maior interesse,
com numerosas organizações da sociedade civil angolana bem como com a
Conferência Episcopal Angolana.
Poderia
continuar a lista de vistas de trabalho de Dom Duarte às nações. Mas não é
fácil, tantos e tão oportunos têm sido os seus esforços para o desenvolvimento
do idioma português e dos laços humanísticos entre nações e comunidades irmãs.
Fernando
Pessoa imortalizou a frase “A minha Pátria é a Língua Portuguesa” e Virgílio
Ferreira disse um dia “Da minha Língua vê-se o mar”.
E
mais escreveu Fernando Pessoa : “Estamos, neste mundo, divididos por natureza
em sociedades secretas diversas em que somos iniciados à nascença, e cada um
tem, no idioma seu e no que está nele, o seu toque próprio, a sua própria
palavra de passe”
Essa
Língua em que “somos iniciados à nascença” é um factor de união dos Países
Lusófonos que tem de ser cada vez mais acarinhado, com medidas de futuro.
Muito
recentemente, Dom Duarte sugeriu duas iniciativas que poderão vir a fortalecer a
relação entre povos irmãos que querem enfrentar juntos os desafios do futuro.
Tendo
presente os jovens dos Países da CPLP que anseiam e lutam para se prepararem
para um futuro melhor sugeriu a criação de um programa semelhante ao
"Erasmus” europeu
Esse
programa “António Vieira”, aproximaria os jovens oriundos dos Países da
CPLP, e dar-lhe-ia acolhimento junto das respectivas entidades responsáveis.
Em
segundo lugar, tendo presente os Portugueses espalhados pelo Mundo, que
cultivam um amor exemplar à Pátria, Dom Duarte sugeriu a introdução do voto electrónico para os eleitores recenseados no estrangeiro.
Essa
iniciativa promoveria a participação activa dos cidadãos na vida política e iria
diminuir a alta percentagem de pessoas às quais não são
proporcionadas condições de voto.
É
tempo de terminar estas breves palavras de celebração do prémio Personalidade
Lusófona do MIL atribuído a Dom Duarte, Chefe da Casa Real Portuguesa.
Houve um tempo, no passado, em que os Reis
eram chamados de pais da Pátria porque assim os consideravam os súbditos. Esse
tempo passou.
Hoje
em dia, em tempos de cidadania, saudamos Dom Duarte como um nosso irmão mais velho,
irmão dessa grande irmandade da lusofonia, em que somos iniciados à nascença e
de que fazem parte angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, guinéus, galegos, moçambicanos,
portugueses, são-tomenses e timorenses, e todas as diásporas da lusofonia.
Todos
eles cabem no coração de Dom Duarte. E por isso, e sendo certo que cognomes só
se atribuem na hora da morte - longe vá o agouro - é muito provável que a história registe um
dia Dom Duarte como “O Lusófono”.
Por
tudo isso que já fez pela Lusofonia, por tudo isso que fará e, sobretudo, por
ser quem é, bem-haja Senhor Dom Duarte de Bragança!
Mendo
Castro Henriques
Sociedade
de Geografia de Lisboa
22
de Março de 2016