A questão que
mais vezes me tem feito dar voltas ao juízo é a da Soberania do povo.
Havia sete séculos que se dizia que a Soberania estava no Rei. Em todo
este espaço Portugal formou-se em Reino, ganhou poder, caiu,
levantou-se, e sempre se engrandeceu. Quem notando estes acontecimentos
não via que a Soberania posta em El-Rei está muito bem posta? Todavia
depois de 24 de Agosto [de 1820] começou a dizer-se que a Soberania
residia essencialmente na nação, isto é, que a nação não é nação
sem ser Soberana! Confesso que ouvindo esta doutrina senti em mim certa
comoção estranha, e tal qual se sente pela aparição de fenómenos
imprevistos, espantosos e anteriormente ignorados.
Frei Fortunato de São Boaventura in «O Punhal dos Corcundas».
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