Desde a sessão inaugural da Assembleia Constituinte, em 19 de Junho de 1911, ficou expressa a cláusula de masculinidade para a entrada no parlamento republicano, e toda a legislação subsequente veio confirmar que as mulheres estavam excluídas do processo político.
Pode ser que os republicanos passem a abrir menos a boca quando associarem a benfazeja república à democracia. O sufrágio directo e universal não é obra do cinco de Outubro de 1910. Aliás, como fica claro, o universo eleitoral, nos primeiros tempos da república diminuiu face ao das últimas eleições monárquicas. Mais. Os republicanos estavam politicamente organizados e tinham liberdade de concorrer a eleições. E, espantem-se: eram eleitos. Claro que a república, conhecedora da liberdade que a monarquia dava aos seus adversários, não podia tolerar tal abertura. E, para terminar em beleza, e porque hoje, segundo se diz, é o dia da Mulher, não deixa de ser curioso notar que, já na segunda década do século XX, a República não permitiu que as mulheres votassem. Não podiam eleger e, por maioria de razão, não podiam ser eleitas. Pois bem. Portugal teve duas Senhoras como Chefes do Estado e nenhuma era do Partido Republicano. Enfim, coisas que a tirania monárquica, no século XVIII permitia mas que a democratíssima república no séc. XX não tolerava.
Na imagem: D. Maria II em 1833
Nuno Pombo
O “incidente” Carolina Ângelo mostrou aos dirigentes da república a necessidade de clarificar uma coisa que até aí lhes parecera evidente: o carácter masculino da política portuguesa. Não lhes ocorrera que fosse preciso explicar às mulheres o lugar delas, mas uma vez que se levantava a questão, era urgente esclarecê-la.
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