El-Rei Dom Luís I realçou a realeza da Sua estirpe com os preclaros
dotes de uma inteligência cultíssima. Aos 8 anos de idade, o infante Dom
Luís, Duque do Porto, ainda longe de pensar vir a ser rei, serviu na
Marinha, iniciando a Sua carreira, em 1846, como guarda-marinha, e
exerceu o seu primeiro comando naval em 1857 capitaneando o brigue Pedro Nunes,
no qual navegando à cabotagem percorreu a costa de Portugal até
Gibraltar. No ano seguinte o Rei, Seu irmão, entrega-lhe o comando da
recém-adquirida corveta Bartolomeu Dias, o principal navio de
guerra português no qual Dom Luís visita os Arquipélagos portugueses do
Atlântico e as colónias africanas portuguesas. Nove missões de serviço
desempenhou com brio, até que se viu, por acaso do destino, alçado Rei.
Ora sendo um homem do Mar não poderia durante o Seu Reinado desviar
as atenções da Armada e dos assuntos científicos que aperfeiçoara
enquanto marinheiro.
Não podemos apelidar Sua Majestade Fidelíssima o Rei Dom Luís de Portugal, de Cientista
na acepção hodierna, pois os assuntos de Estado afastavam-no da
dedicação exclusíva que tal mester obriga. Porém, não se pode deixar de
intitular El-Rei de um Homem da Ciência, visto que empreendeu na segunda metade do século XIX, experiências científicas que justificam plenamente o rótulo.
Interessado cientista, a mecânica, a astronomia, as belas artes, a
cartografia, a físico-química e a balística eram ciências que não tinham
para Ele segredos, às quais dedicava infatigável actividade e os mais
renomados cientistas, que visitavam o Paço Real, não recusavam o auxílio
das Suas luzes.
O Rei Dom Luís I, teve uma vida abastada de merecimentos, mas não se
pode deixar de destacar uma das Suas ‘invenções’ que, vá-se lá saber por
quê, não é suficientemente falada: as estrias na granada de artilharia.
Com os estudos que desde tenra idade o capacitaram, com a preparação
técnica que adquiriu como oficial da Marinha Real, e com o intercâmbio
de experiências com os principais cientistas da época, o Rei Dom Luís I
aperfeiçoou as granadas de artilharia que até aí possuíam alma lisa.
A granada é um artefacto bélico com uma câmara interna que leva uma carga de arrebentamento; o nome deriva da palavra granatum
ou romã, pois assemelha-se a tal fruto, embora o primeiro obus a que
verdadeiramente se poderá apelidar de granada tenha sido inventado na
China medieval, no século IX, e consistia numa cebola oca cheia de
pólvora que era atirada, muitos contribuíram para o aperfeiçoamento ou
‘invenção’ da granada moderna – o Rei Dom Luís I foi um deles.
Desde a sua invenção que cada guerra contribuiu para a evolução da
granada, e, assim eis que também um português teve a sua intervenção, e
não foi um português anónimo: aos obuses lisos, Dom Luís I procedeu a
perfurações dos projécteis para que os gases da explosão imprimissem às
granadas um curso rotativo que tornava o tiro mais preciso. Além dessas
perfurações desenvolveu, também, o sistema de traçado de estrias nas
almas lisas das granadas, sistema que viria a prevalecer até aos dias de
hoje. Em Janeiro de 1865, enviou as granadas aperfeiçoadas para França,
para serem testadas pela potência bélica francesa e em reconhecimento
do mérito da invenção o Imperador de França Napoleão III agraciou Sua
Majestade Fidelíssima El-Rei Dom Luís I de Portugal com uma Medalha de
Honra em Ouro.
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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