Uma elite de parasitas das palavras está a destruir paulatinamente o regime.
A República comemorou da melhor forma o regicídio de D. Carlos.
Resolveu mostrar, numa vaga analogia, muitas razões que levaram Buíça e
Costa a precipitar o fim da monarquia. É certo que Sócrates não se
compara a João Franco e os partidos do actual regime são bem diferentes
daqueles que escoicearam o regime monárquico até o deixarem exaurido. Na
altura morreu o rei. Possivelmente a mais injusta de todas as mortes no
que diz respeito à degradação da vida pública. Mas não são muito
diferentes os sinais de degradação que hoje arrasam a política
portuguesa.
A vida pública, que a mediatização hoje multiplica com ecos de maior
ressonância, está convertida num ruído, num arroto, num vómito. Diz-se
que ou fulano disse. Eis a fórmula mágica, vazia, esvaída de sentido que
gravita em torno do efémero e despreza, ignora, desconhece a substância
das coisas. Octávio Ribeiro, certeiramente, chamava-lhe ontem, um
problema de doença de Parkinson na língua pública e política. O PGR
disse mas não era bem aquilo que queria dizer. O bastonário dos
Advogados disse mas não era bem assim. Manuel Alegre disse que não
reconhece o seu PS e está ameaçado pelo que disse. O ministro disse
‘jamais’ mas não era no sentido que lhe deram. O director da PJ disse e
rematou contra a baliza da sua própria equipa. O ministro tal não disse,
o dirigente político tal disse e aqui ficámos, dias a fio, presos na
espuma, envoltos na bruma das dúvidas, angustiados com a falta de crença
no futuro.
Uma elite de parasitas das palavras está a destruir paulatinamente o
regime. O Governo diz, contradiz, afirma, nega, descontrola-se e o
primeiro-ministro grita. Grita sempre os mesmos chavões. Sem energia,
sem talento, sem fôlego, sem estratégia que vá além da voracidade
economicista. Nos últimos dois debates parlamentares, Santana Lopes,
queiram ou não queiram, o melhor tribuno da Assembleia, encostou-o às
baias desnudando a fragilidade de uma acção governativa feita de disses e
de gritos.
Diz-se tudo sobre o espalhanço de dizeres do director da PJ. Um folclore
de delírios. Nem uma palavra sobre o que é substantivo na PJ e na
investigação criminal. A lei orgânica da PJ espera decisões estratégicas
e não se decide. A Lei Orgânica da Investigação Criminal está a banhos,
a Lei de Segurança Interna fechadinha num gabinete, a descansar. O
coração, a alma que pode abrir caminhos para que se diga menos e se faça
mais, aferrolhada na preguiça incompetente dos gabinetes e diz-se.
Diz–se. O QREN está de pantanas. Os tais milhões de euros que entram,
estão guardados para distribuir por amigos e compadres lá para perto das
eleições, quando se diz ainda mais. Neste triste espectáculo, são cada
vez menos os actores e cada vez maior a assistência impávida, de braços
cruzados, roída de rancores, vingativa, traiçoeira que assobia e pateia.
E o País amargurado, já sentido revolucionário mas vivendo de revolta,
pára, espantado, ouvindo o que se diz. Discutindo o que se diz. E
sofrendo pelo que não se faz. Paz eterna para a alma de D. Carlos.
Fonte: Blogue "Causa Monárquica"
Sem comentários:
Enviar um comentário