Filha mais nova de Maria Adelaide de Bragança,
infanta de Portugal, Maria Teresa já nasceu em terras portuguesas em 1956, não
conhecendo assim as agruras de um exílio imposto ao seu bisavô, avô, mãe e
irmãos mais velhos. Mas mais de um século de acusações e perseguições injustas
transformaram esta família numa fortaleza. Ensinaram-na a distinguir o essencial
do acessório. A enfrentar as adversidades. A amar Portugal. E, principalmente a
nunca deixarem de acreditar que o segredo da felicidade está nos valores mais
simples da fé cristã: a solidariedade, o amor pelo próximo e uma inesgotável
capacidade de perdoar.
Para Maria Teresa viver segundo estes valores é tão
natural como respirar. Talvez por isso nem tenha hesitado, quando depois dos
quatro filhos criados, surgiu a oportunidade de ficar à frente da Cáritas
Diocesiana de Beja e ocupar os seus dias ao serviço dos outros.
“Durante toda
a vida vi a minha mãe preocupar-se com os problemas das pessoas mais carenciadas
e ensinar-nos a ter uma vida simples, com mais valores que dinheiro e sermos
disponíveis para ajudar quem precisa”. Movida por uma inesgotável energia, a
infanta Maria Adelaide conseguiu transmitir esse espírito de missão aos filhos.
E , em pouco tempo, por de pé uma importante obra social em Porto Brandão, na
altura uma zona muito pobre e relativamente próxima de aldeia de Murfacém, onde
a família Bragança Van Uden foi viver depois de António Oliveira Salazar
autorizar a sua vinda para Portugal.
Maria Teresa recorda com saudade esses
tempos de infância, passados na Quinta do Carmo, uma propriedade emprestada aos
seus pais pela família Quintela. “Lembro-me da sensação de liberdade de espaço”.
Lembra-se também que o facto da história da sua família se confundir com a
História de Portugal nunca a fazer sentir uma criança especial. “Era uma coisa
natural. Nunca me senti diferente de ninguém”.
O dia a dia na quinta era
vivido com a maior simplicidade e pouco dinheiro. “Quando o meu pai quando veio
para Portugal já era formado em Medicina pela Universidade de Viena mas não lhe
foi dada a equivalência. Durante cinco anos não pode exercer”. Maria Teresa
recorda com um sorriso esses tempos em que o pai se dedicava à plantação de
cogumelos. “Era um amigo da família, um barão austríaco, que se encarregava de
os vender em Lisboa”.
No entanto estas dificuldades financeiras nunca
marcaram negativamente a família. Até pelo contrário. “Aprendemos a viver com
pouco e dar apenas valor aquilo que era importante”. Aliás, sempre que à Quinta
do Carmo chegavam coisas novas, seja comida ou roupa, tudo o que era a mais
seguia imediatamente para a “Obra” da mãe, a Fundação D. Nuno Álvares Pereira.
Dar aos outros foi também um dos traços mais marcantes da personalidade de D.
Miguel . “Há relatos que contam que ele costumava muitas vezes dar a sua própria
camisa aos meninos pobres que rondavam o palácio real no Rio de Janeiro”. E
quando foi obrigado a abandonar Portugal, D. Miguel distribuiu todos os seus
bens pelos soldados mais leais “Viveu com muito pouco até ao dia da sua
morte”.
Texto de Rosa Amaral
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