À excepção dos intelectuais mais
teimosos e dos menos informados, já sabíamos que a I República foi um
desastre para Portugal em toda a linha. Por isso, é esperança da equipa
da Plataforma de Cidadania Monárquica, que os excertos que se seguem, da
autoria de um dos maiores Poetas Portugueses, Fernando Pessoa, ajudem
os menos esclarecidos e os mais teimosos a mudarem de opinião sobre o
regime republicano.
“Tão regrada, regular e organizada é a
vida social portuguesa que mais parece que somos um exército do que uma
Nação de gente com existências individuais. (…) Somos incapazes de
revolta e de agitação. Quando fizemos uma “revolução” foi para implantar
uma coisa igual ao que já estava. (…) Ficámos miseravelmente os mesmos
disciplinados que éramos.”
Fernando Pessoa, excertos de O Jornal, 8/4/1915
«(…) Bandidos da pior espécie (muitas
vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas
contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu
quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos
íntimos – de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação
do regimen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se
decidiu chamar República.
A monarquia havia abusado das ditaduras;
os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as
suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes
constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. A lei do divórcio, as
leis de família, a lei de separação da Igreja do Estado – todas foram
decretos ditatoriais, todas permanecem hoje, e ainda, decretos
ditatoriais.
A monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros
públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de
ladrões. E a república que veio multiplicou por qualquer coisa –
concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) – os escândalos
financeiros da monarquia.
A monarquia, desagradando à Nação, e não
saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A república
veio e criou dois ou três estados revolucionários. (…) A monarquia não
conseguira resolver o problema da ordem; a república instituiu a
desordem múltipla.
É alguém capaz de indicar um benefício,
por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República?
Não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em
administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais
liberdade. Na monarquia era possível insultar por escrito impresso o
Rei; na república não era possível, porque era perigoso, insultar até
verbalmente o Sr. Afonso Costa. (…) E o regimen está, na verdade,
expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima
minoria de esfarrapados mentais, nos serve de bandeira nacional – trapo
contrário à heráldica e à estética, porque duas cores se justapõem sem
intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode
inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português – o
encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva
de que, por direito mental, devem alimentar-se. (…)»
«(…) A análise do dinamismo social
permite a constatação de que as sociedades se dividem, na sua linha
geral de vida evolutiva e tendência política em três grupos: os
indiferentes, os equilibrados e os em desequilíbrio. (…) Todo o homem
normal e são se interessa (…) na vida política, colaborando nela. Nos
períodos de decadência social e, portanto individual, a indiferença pela
política, o ignorá-la com o sentimento, ou o medo das reformas
precisas, não ter ou energia ou tendência para, com o limitado esforço
as querer melhorar – eis a indiferença patológica. (…)»
«(…) Os nossos políticos não são gente.
Nenhum deles mostra ter tido na sua vida uma daquelas crises espirituais
donde se emerge talvez ferido para sempre, mas psiquicamente homem,
personalidade espiritual. São ateus pela mesma razão que o é um burro ou
uma árvore. São portugueses porque, desgraça nossa, nasceram adentro da
nossa fronteira, oriundos de gente que secularmente assim tinha feito.
(…)»
«(…) Ora o dever de todo o homem que
representa qualquer coisa em Portugal, hoje, é o de, afastado de toda a
malandragem que faz política, prestar o seu auxílio, pequeno que seja, a
essa criação de Portugal. (…)»
«(…) Refiro-me ao facto de que nenhum de
nós tem Pátria. O Português é hoje um expatriado no seu próprio país.
Somos uma nação, não uma pátria; somos um agregado humano sem aquela
alma colectiva que constitui uma Pátria. Somos… Sei lá o que nós somos?
(…)»
«(…) Pessoalmente, adiro a este conceito;
julgo inútil e mesquinha a cura escrupulosa de seguir as tradições. O
Portugal das descobertas não seguiu tradição nenhuma: criou-se. (…)
Repare agora para o momento português actual. Qual das duas cousas lhe
aparece aí a denunciar-lhe que Portugal é uma Pátria? Quebrámos com
todas as tradições; até aqui nada há de mau. Resta saber se lhes
substituímos qualquer coisa nova que seja de criação portuguesa. É
assim? Qual é essa cousa? Os princípios em que assenta esta cousa a que
se chama República Portuguesa: estes princípios são franceses. (…) Não
há Portugal: há uma mistura ignóbil de «estrangeiros do interior» (…) a
governar-nos e a estropiar-nos o resto do que somos. (…) Paiva Couceiro é
um espírito ferrenhamente tradicionalista. Podemos não concordar (…)
com esse conceito tradicionalista. Mas ele é sem dúvida um conceito de
nacionalidade. É preferível a conceito nenhum. Dentro do tradicionalismo
pode haver patriotismo; fora dele, e não havendo a criação de novos
ideais absolutamente nacionais, não vejo que patriotismo possa haver.
(…) Substituí-lo [a monarquia] por um regimen que, além de não ser
nacional de modo nenhum, continuava as mesmas tradições (estas sim!) de
gatunagem e de incompetência, agravando, se talvez não a gatunagem, por
certo que a incompetência – eis uma cousa para a qual não valia a pena
ter derramado sangue, perturbado a vida portuguesa, criado maior soma de
desprezos por nós do que os que já havia no estrangeiro. (…)»
«(…) Um Portugal onde internacionalmente
só se pode ser inglês; onde nacionalmente só se pode ser francês (pois
que francesas sejam as ideias republicanas que nos «governam») – um
Portugal onde, portanto, tudo se pode ser («tudo» é um modo de falar)
menos português, que espécie de «Portugal independente» é que é? Que
independência há nisto? Triste gente que se contenta com a triste
aparência das cousas, e não vê um palmo adiante das sensações
quotidianas, para dentro da sua alma súbdita e oprimida! (…)»
«(…) Mas não há ninguém que lhes possa
dar prestígio. Se eles conseguissem erguer do túmulo Nuno Álvares, o
Infante D. Henrique e Afonso de Albuquerque, e os conseguissem inscrever
no Centro da Rua Ivens, o que resultaria era um grande desprestígio
para esses vultos da nossa história. Moralmente já nada salva aquela
caranguejola de patifes. Oxalá, moral ou fisicamente, haja alguma coisa
que salve isto! (…) Mas não é verdade que é duro chegar-se a este ponto?
Não é verdade que dói e envergonha um português ver que a este ponto se
chega? (…)»
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