(...)
Mais que ninguém, Dona Amélia tinha consciência da imaturidade de Dom
Manuel, na sua correspondência refere-o mesmo como «Petit Roi» - um
«Reizinho» demasiado novo. A fatalidade do regicídio não o surpreende na
menoridade por poucas semanas. Relembremos que a 15 de Novembro de
1889, O Infante Dom Manuel cumprira os 18 anos havia pouco mais de dois
meses totalmente impreparado para reinar, é Dona Amélia quem toma a
iniciativa de exercer o papel de Rainha-sombra.
É uma influência clara, Dona
Amélia e Dom Manuel chegam a pousar juntos para as objectivas de
repórteres internacionais sentados à secretária de trabalho. A Rainha
redige os textos que o filho assina, lê despachos e emite as suas
opiniões sobre os mesmos, preside mesmo a reuniões políticas.
É
por conselho seu que o Rei se rodeia de políticos e conselheiros, os
quais representam, de alguma forma, um recuo face às reformas
introduzidas por Dom Carlos.
Regressa
o rotativismo de partidos no Governo e deixa-se o caminho livre para os
opositores do regime monárquico, que continuam a conspirar na sombra e a
arregimentar seguidores. Na Câmara de Deputados as vozes contrárias e
os ataques à Monarquia sobem de tom.
Ainda
hoje nos surpreende, ao lermos as notas pessoais de alguns íntimos da
côrte - como as do Conde de Mafra, médico da Casa Real e íntimo amigo da
Família Real, ou as do Marquês de Lavradio, secretário do Rei Dom
Manuel -, a apatia da vida quotidiana do Paço e a sua aparente calma,
quando eram tão claros e óbvios os sinais de perigo para a Monarquia.
Nos
primeiros meses, o Rei vai saindo do Paço para umas quantas paradas
militares e visitas a quartéis, mas o seu grande banho de multidão
procura-o na visita que faz ao Porto em Novembro de 1908. Nesse tempo,
tal como em dias bem recentes, quando algum político carecia de
demonstrar apoio popular, ía até ao Porto. A gente do Norte recebia bem,
punha as colchas nas janelas e descia à rua em peso.
A
recepção prestada pelas populações do Norte ao Rei Dom Manuel excede as
melhores expectativas, o que leva a Rainha-Mãe Dona Amélia a rumar ao
Porto. Chega mesmo a apresentar-se a seu lado nas varandas do Paço das
Carrancas, para receber as ovações da multidão.
Curiosamente,
e apesar da sua inequívoca influência, esta é uma invulgar presença da
Rainha-Mãe junto do Monarca em cerimónias oficiais. Todas as deslocações
de Dom Manuel nas suas viagens pelo país são efectuadas sem a presença
de Dona Amélia.
Fonte do texto e última foto: Livro "Amélia Rainha de Portugal", de Eduardo Nobre
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