A história é feita de ciclos. Parece-nos
impossível que o Homem consiga viver de outra maneira. E neste momento, passamos
a fase final de um ciclo, finalizamo-lo da pior maneira, em resultado da nossa
ganância desmedida e irresponsável. Eis o resultado de uma política e estilo de
vida baseada no incremento estúpido da riqueza material e de desprezo total pelo
outro. Sem padecermos de necessidades, elas são-nos criadas por uma máquina
comercial subversiva, abrindo-nos novos campos de vazio, os quais queremos,
anestesiadamente, preencher. Estamos, sem perceber, a sermos escravos de um
esquema criado por nós. Abramos os olhos, tenhamos noção daquilo que queremos e
do que necessitamos. Sejamos racionais na nossa irracionalidade. Tenhamos
clarividência e encaminhemos a nossa energia e posse para o que é realmente
importante e indispensável. Não nos enganemos a nós próprios e aos outros. Desta
forma, forçamos ainda mais a curvatura do ciclo e precipitamos ainda mais a sua
decadência final. Abramos os olhos, agora que tocámos no fundo, e percebamos que
o laxismo é o oposto do trabalho e que sem trabalho nada teremos. Percebamos que
nos enganaram, que nos pagaram para ficarmos mais pobres e dependentes daqueles
que nos querem vender ajuda. Não dá-la, mas vendê-la. Olhemos à volta e
percebamos que nos tiraram tudo: recebemos para nada produzir. Acordemos e
percebamos que a nossa sobrevivência radica no nosso trabalho, na nossa produção
e não na caridade alheia. Tenhamos vergonha daquilo em que nos tornámos:
passámos de uma glória para uma desgraça. Fomos um exemplo de liderança e de
coragem e até um modelo de sociedade. Hoje, renegamos aquilo que ensinámos e
mostrámos ao mundo. Em suma, percebamos que temos que recuperar aquilo que
perdemos: a nossa agricultura, a nossa pesca, o nosso artesanato, a nossa
indústria, a nossa massa cultural. Com o Rei que garanta a unidade nacional,
tomemos o destino de Portugal nas nossas mãos!
Fonte: Mário Neves em "Fidelíssimo" (Vice-Presidente da Real Associação da Beira Litoral)
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