“… A monarquia perdeu sua substância e saiu como casca
seca” Estas palavras proferidas num contexto de um discurso mais amplo
de J. Antonio Primo Rivera sobre a queda do provável o último Bourbon a
reinar em Espanha encaixar-se-iam no discurso republicano português de
1910, infelizmente lá como cá, Deus propôs e o caciques
dispuseram alinhando a história de ambos os países nos parâmetros da
doutrina nacionalista.Se a República foi possível em Portugal
regenerando-se a cada geração e impossível em Espanha ,deve-se ao facto
de Espanha ser mais um aglomerado de nações que nunca alcançou a forma
de Estado .Em Espanha a Monarquia é a cola que mantém o País
unido e os nacionalistas das várias partes de Espanha sabem-no. Portugal
não surge na lista de exemplos dos contestatários como o exemplo de
República Ibérica, porque foi a Monarquia que tornou possível a criação
de uma identidade própria resistente à influência da Corte de Castela…e
isso, os nacionalistas de Espanha também conhecem
A maioria dos espanhóis não assistiu nem se recorda da sessão em que
Juan Carlos foi nomeado sucessor ,como Rei, do General Franco. A maioria
dos deputados,votaram a favor da proposta do então Chefe de Estado e
foi apresentado como sendo a Instauração da Monarquia , quando na verdade foi uma Restauração da Monarquia parlamentar na pessoa de Don Juan Carlos.
A partir desse momento o verbo “Borbonear” foi a palavra de ordem, de
uma Monarquia que se pautava por ter mais “Juan Carlistas” do que
monárquicos convictos.Tratar-se-ia da velha formula que em Portugal se
denomina de Messianismo Presidencial, a velha “personalização” do regime
que os tradicionalistas tanto criticavam no liberalismo mas que tanta
simpatia lhes causava quando se revestia num cacique.
O velho fundador do partido nacionalista que chegou a ministro de D.
Carlos, Jacinto Cândido, referiria o episódio do velho Conde da Redinha,
legitimista ferrenho, que um dia o visitara para lhe dar a adesão ao
partido dizendo-lhe: «a minha divisa é esta: Deus Pátria e Rei,
por esta ordem hierárquica. O partido nacionalista tem como divisa Deus e
Pátria, eu venho para defender Deus e a Pátria, alistar-me nele e
guardo no meu peito o afecto e lealdade ao meu Rei, como credo meu
pessoal reservando-me para pugnar por ele quando for míster e oportuno» (Jacinto Cândido ,memórias íntimas)
Na verdade Espanha e Portugal sofrem do mesmo mal que os afasta do
modelo democrático dos Países do Norte da Europa.O debate político
ultrapassa as fronteiras da gestão do Bem Público para se imiscuir na
esfera privada dos cidadãos corroendo com os defeitos privados a
virtudes publicas dos detentores de cargos públicos. Nos países
meridionais o lugar vago deixado pelo laicismo de Estado foi ocupado
pelos dogmas partidários onde não é raro observar o Chefe de Estado
assumir o papel de Observatório da ética dogmática das várias capelas
partidárias que assumem o ministério do Estado e os cidadãos
preocuparem-se mais com a conduta moral privada de certo ministro do que
com as decisões que toma.
O povo é convidado, através dos órgãos de comunicação a avaliar a
ética, os valores e a correcção de carácter dos candidatos a governantes
quando deveria ser eficácia, a lealdade às instituições e a correcta
gestão do País que deveria preocupar os cidadãos.O que é relevante é a
cartilha e não o programa não sendo de admirar a recente elevação do
“Grandola vila morena” a “Te Deum”, não sem culpa dos eleitos que se
esqueceram que o primado de todos os cargos público é o constante escrutínio popular
Não há erro maior do que uma avaliação sobre a conduta
privada de uma instituição que é Pública. Os espanhóis, mesmo defendendo a
(sua) identidade nacional, que atacam a Família Real desconhecem a
história recente do próprio País e fingem não reconhecer em Portugal o
efeitos da “religião de Estado” quando o único “dogma” que persiste a
todas as monarquia é a legitimidade da Família Real como fonte ultima de
Poder…a última barreira contra a demagogia
Os ataques recentes à Monarquia de Espanha evidenciam a tibieza da
alternativa republicana.Mesmo que tenha sido uma Restauração da
Monarquia em Juan Carlos o tempo prova que as ultimas décadas
Instauraram a Monarquia na Identidade de Espanha mas a prova final será
no dia em que o cargo transitar para o sucessor
No caso Português a Restauração será consequência última da inviabilidade de governação do arco partidário, o que dependerá muito da resiliência da opinião pública que tem provado ser de uma plasticidade anormal.Uma
Restauração pelo referendo partidário é uma opção muito viável mas que
incorre em risco capital já que não se trata de unir o território mas
regenerar o Pais de uma enfermidade sem alterar um problema de fundo que se acumulou com o tempo, a diferença entre o séc XIX e o séc XXI .Já
uma Instauração da Monarquia dependerá mais do trânsito geracional, a
sucessiva regeneração da República dentro dos mesmos parâmetros
ideológicos de base afastou os portugueses da sua identidade cívica e
passados 100 anos já não se trata de Instaurar uma Instituição mas de
renovar o próprio sentido histórico nacional para os novos desafios do séc XXI.
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