Os
portugueses estão de novo a emigrar, cada vez em maior número, para
escapar ao desemprego e degradação das condições de vida que se tem
vindo a acentuar nos últimos tempos no nosso país. E, agora, não são
apenas agricultores analfabetos que partem à procura de melhores
condições de vida – são também jovens licenciados e empresários que não
conseguem obter emprego ou alcançar sucesso empresarial.
Partem
aos milhares, agora com destino preferencial para Angola, Espanha,
Andorra, Suíça, Brasil e Reino Unido. Também a emigração temporária tem
vindo a aumentar consideravelmente, sobretudo junto das populações
raianas. O crescimento da emigração tem contribuído para deturpar os
verdadeiros índices do desemprego cujos números divulgados já
ultrapassaram largamente meio milhão de desempregados. De resto, também o
Instituto Nacional de Estatística não revela dados relativos à
emigração de portugueses.
A
par da emigração, Portugal tem vindo também a registar uma forte
imigração de pessoas oriundas sobretudo do Brasil e de países africanos e
asiáticos e ainda, embora em número bem mais reduzido, de cidadãos
europeus que escolhem Portugal para melhor usufruir dos rendimentos de
uma aposentação num país de clima ameno e acolhedor.
As
políticas seguidas têm levado à estagnação demográfica e a um acentuado
despovoamento do interior que vem justificar o encerramento contínuo de
escolas, hospitais e serviços de saúde e entregando os cuidados nesta
área à responsabilidade do país vizinho. Os terrenos são deixados
incultos à espera de quem, a pretexto do turismo rural, lhes demarque
couto e transforme povoações inteiras em domínio privado. As obras da
barragem do Alqueva apenas ficaram concluídas quando praticamente já não
havia alentejanos a viver em redor…
Para
o emigrante, o tempo pára no mesmo instante que deixa a sua terra.
Consigo leva a lembrança de um tempo que jamais poderá reviver e parte
para outra realidade que, por mais bem sucedida que seja a sua adaptação
ao novo meio social, nunca se integrará realmente. E, quando regressa,
constata que já nada se assemelha àquilo que existia à altura da sua
partida. O emigrante viaja num tempo intermédio que não decorre e não se
situa mais no espaço físico.
À
medida que as aldeias se despovoam, desce sobre o velho casario um
manto de solidão e tristeza. Já não se ouvem os chocalhos além na
campina nem os sinos da igreja repicam as ave-marias. As malhadas e as
desfolhadas não passam já de memórias de postal ilustrado e as romarias
perderam o fulgor de outras eras. Os que ainda aí nasceram já partiram
para terras distantes e, onde quer que agora residam, encontram sempre
um pretexto para se reunirem aos seus compatriotas e procurarem reviver
como podem os momentos alegres que tiveram de deixar para trás.
Em
Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, a Rádio Alfa assegura
emissões diárias para a comunidade portuguesa aí residente,
transmitindo-lhes informação e música portuguesa que ajuda os nossos
emigrantes a manter os laços com Portugal. É um exemplo que se
multiplica por todos os países onde existem comunidades portuguesas. O
mesmo sucede com a formação de grupos folclóricos e casas regionais que
procuram preservar as suas tradições. Apesar de não estarem já inseridos
no seu contexto natural ou seja, o meio rural, a sua acção é importante
e justificada na medida que não é o espaço físico mas as pessoas que
são dotadas de identidade cultural. O mesmo se verifica em relação
àqueles que migram dentro do próprio país, mormente para os grandes
centros urbanos.
A
emigração forçada constitui um flagelo social das sociedades menos
desenvolvidas ou a viver em sérias dificuldades, resultante de
catástrofes económicas geralmente produzidas em consequência de
políticas que não têm em conta o ser humano. Mas também em virtude de
acidentes da natureza como se verificou nos finais do século XIX quando a
praga da filoxera forçou o despovoamento das terras durienses. Agora,
designam de a emigração pelo eufemismo “livre circulação de mão-de-obra”
como se alguém que é forçado a partir para um meio estranho e a deixar
os seus familiares e amigos, apenas porque na sua terra não consegue
obter meios de sobrevivência e vida digna, o fizesse de forma realmente
livre. A emigração em massa representa uma forma de escravatura do
capitalismo e de desenraizamento cultural dos povos e perda de
identidade das nações.
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