Ontem estive na Biblioteca Nacional a ver o jornal O Imparcial, dirigido em
1910 por Raul Brandão. Não me surpreendeu que ele, a 28 de Setembro, dedicasse o
editorial à Rainha Dona Amélia, abrindo-o com uma evidência absoluta: «Passa
hoje o aniversário de Sua Majestade a Sra. D. Amélia, e se outros títulos não
houvesse para que esta data não corresse despercebida para este jornal, bastaria
o dever em que nos achamos constituídos de prestar homenagem rendida do nosso
respeito pela senhora a quem um irreparável desastre arrebatou com o trono, a
doce alegria de viver, que nem é compatível com a saudade de um bem que não
volta mais, nem com as torturas de um terror que nada extingue.»
Valeria a pena transcrever o texto na íntegra, mas este não é o lugar para
isso. A razão deste comentário é sobretudo a de constatar (e de protestar
contra) o facto de que, afinal, as comemorações do centenário republicano
gastaram rios de dinheiro em propaganda e doutrinação, mas não fizeram o
essencial: preservar e salvaguardar a memória exacta sob a forma dos jornais do
tempo. Haveria que tê-los microfilmado e expurgado, pois estão uma lástima!
Esses e muitos outros, certamente. Mas o sentido da coisa não era esse...
E a propósito de buracos e de inquéritos, para quando uma vistoria rigorosa
às contas desse desperdício? Não foram alguns milhões? Ou é assunto
tabu?...
Publicado por Vasco M. Rosa em Corta-Fitas
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