Acerca da possível venda da EDP para a E.ON, imagino que já ficou claro
que isso é uma ameaça grave à economia nacional e também à soberania.
Para compreendermos o que a Alemanha deseja para Portugal, é importante
compreender a posição da Alemanha no mundo, de maneira a desvendar que
interesses estão por detrás das suas acções e medir o grau em que a sua
acção se encaixa na acção dos partidos que mandam em Portugal, partidos
por sua vez criados com dinheiro alemão.
A Alemanha possui
alta-tecnologia, apesar de não estar no topo, mas é pobre em recursos
naturais, possui mão-de-obra cara e está completamente dependente da
Rússia em matéria energética, o que encarece os seus custos de energia,
que deve comprar ao preço inflado do mercado internacional, e a torna
dependente da boa vontade russa. Com a imposição do euro, a Alemanha
ganhou alguma vantagem competitiva graças à desvalorização deste,
propiciada pela falta de disciplina monetária na união, o que até hoje
foi incentivado pelo conveniente esquecimento dos critérios de
Maastricht. Se a Alemanha realmente sofresse com o euro fraco, não teria
tido problemas em pressionar a União Europeia a agir, ameaçando sair da
zona euro se não houvesse respeito ao que foi acordado. Ao contrário
disso, a Alemanha também desrespeitou os critérios de Maastricht, e só
não teve défices tão grandes quanto o dos países ditos periféricos pois a
sua economia cresceu graças às exportações acrescidas pela
desvalorização e pelo consequente aumento da arrecadação tributária numa
economia aquecida.
Ao mesmo tempo, Portugal perdeu com o euro, pois
apesar da desvalorização havida, ela não reflectia as suas condições
económicas reais, o que acarretou numa queda da competitividade agravada
depois pelo recurso ao crédito fácil e barato, prontamente fornecido
pela Alemanha, que agora, diante da esperada crise do euro, agora se faz
de vítima e ameaça cortar o crédito no caso de não entregarmos à União
Europeia toda a nossa soberania.
Ao entrar na União, sacrificamos
sectores inteiros da nossa economia, coisa que não fez a Alemanha,
protegida pelas políticas comunitárias em todos os sectores, em troca da
perspectiva de exportar para o resto da Europa produtos
semi-industrializados e têxteis. O que aconteceu mais tarde? A União,
seguindo os desejos alemães, negociou na Rodada Uruguai e na Rodada do
Milénio a abertura total destes sectores ao resto do mundo, conseguindo
em troca uma abertura para os seus produtos mais sofisticados, como bens
de capital.
Porém, os investimentos das grandes multinacionais
alemãs na China, aliados aos investimentos de outras nações, acabaram
por criar um gigante industrial agressivo que soube desde cedo aprender
com os estrangeiros, com a sem a ajuda deles. À medida que a China
crescia e o seu mercado oferecia perspectivas de vendas astronómicas
cada vez mais intensas, também cresciam as exigências desta, que passou a
assim a receber investimentos em sectores industriais mais
sofisticados, subindo um degrau na escala do desenvolvimento.
Mas os
alemães, e outros, não contaram que a China acabasse por se tornar a
maior potencia mundial da engenharia reversa, e que esta passasse aos
poucos a produzir até bens mais sofisticados que a Alemanha que, segura
da sua capacidade, julgava que seriam sempre produzidos por ela,
nomeadamente no sector das máquinas industriais. É muito diferente ser
uma nação que cuja indústria precisa de máquinas estrangeiras para
funcionar de ser uma que domina todos os estágios da industrialização e
agora começa ela própria a inovar, como é visível na indústria
aeronáutica:
Mas há uma outra questão que
importa, que é a das matérias-primas e combustiveis fósseis. Interessa à
Alemanha, que não possui petróleo e assim paga caro por ele, que haja
restrições à utilização do mesmo, obrigando o mundo todo a usar as
ineficientes energias alternativas, domínio no qual a Alemanha está na
vanguarda pois isso é fruto de uma necessidade política e militar: não
depender da energia do exterior. Estudem as guerras mundiais e verão que
este é o calcanhar de Aquiles da Alemanha. Antes que me esqueça, um
outro ponto: A Rússia jamais consentiria que a Alemanha desenvolvesse o
seu potencial atómico ao ponto de se ver em perigo, daí que a Alemanha,
para demonstrar que é boa aliada da Rússia, decidiu fechar as suas
usinas.
Porém, o que interessa impor aos outros não é o que a
Alemanha fará para si. Portugal, e aposto a minha vida nisso, possui
recursos petrolíferos vastíssimos na sua ZEE, que até hoje tem sido
criminosamente e deliberadamente alvo de esquecimento, pois se Portugal
tivesse já feito uma prospecção do seu mar e explorasse o mesmo, estaria
na posição da Noruega, onde o povo nem quer ouvir falar da União
Europeia, apesar da sua elite corporativa ser favorável à entrada do
país nesse projecto totalitário.
Interessará aos que mandam cá, e
esperam ter os seus poderes acrescidos, descobrir petróleo apenas depois
do "governo português" ter vendido concessões para a exploração do
mesmo para empresas alemãs, resolvendo assim o grande problema
estratégico da Alemanha. Se os submarinos forem devolvidos, tanto
melhor, pois será ainda mais fácil pôr em prática uma das claúsulas do
Tratado de Lisboa, que estabelece que a União deverá tomar conta desses
bens.
Dentro deste contexto, importa pensar na venda da EDP para a E.ON, que já discuti aqui (ver aqui e aqui).
Será difícil imaginar que a EDP, no caso de venda para a E.ON, será
instrumentalizada pelos interesses alemães, ainda mais quando os
interesses destes já influem na política nacional de forma tão
devastadora? Vejam o que se passa no caso das energias alternativas, que
financiamos com impostos e com preços de energia absurdos! Se a EDP for
tomada pelos alemães, a situação chegará a um ponto que em outros
tempos constituiria um casus belli, que é o de pagar tributos a uma nação estrangeira para que ela destrua a nossa.
Se
não há como escapar à venda da EDP, então apoio a venda da mesma para a
Eletrobrás, que para além de possuir uma melhor oferta que a E.ON, é
uma empresa de uma nação irmã cujo interesse económico a longo prazo é
possuir em Portugal um sócio para empreitadas industriais, estabelecendo
aqui bases para exportar produtos finalizados para o resto da Europa e
produzir aqui se aproveitando da experiência portuguesa em áreas que o
Brasil não domina ou precisa de parceiros. As iniciativas mais ousadas
que frutificaram em Portugal nos últimos anos foram feitas por empresas
brasileiras, e isto sem nenhuma política oficial de incentivo. Basta ver
o caso da PT/Oi, que demonstra a vontade brasileira de terem nos
portugueses sócios e não empregados, dos investimentos da Embraer, que
puseram as OGMA no caminho do crescimento e inauguraram uma fábrica
aeronáutica nova no Alentejo, ou da CSN, que permitiram que a indústria
siderúrgica sobrevivesse em Portugal.
As áreas a explorar são imensas
e a sinergia não é acidental, mas fruto das escolhas feitas por nossos
antepassados, que souberam bem escolher os locais onde construiriam o
império que manteria a independência do Portugal europeu intacta quando
já era possível descortinar o futuro. Portugal, isolado na Europa, teria
imensas dificuldades para manter a sua independência e seria absorvido
pela Espanha, sabiam os nossos antepassados, que testemunharam a
absorção de vários estados então comparáveis a Portugal em unidades
maiores, que hoje são as nações europeias, que por sua vez estão a ser
juntadas numa unidade ainda maior, transformando a Europa numa ditadura
oriental.
A EDP em mãos brasileiras jamais será usada para manter
Portugal submisso pois o interesse económico do Brasil coincide com o de
Portugal, ainda que não o do Portugal oficial. Ainda assim, tal venda
deverá ser acompanhada de várias medidas para salvaguardar o país contra
uma empresa que já produz danos por ser demasiado grande. A primeira é a
liberalização real do mercado português de energia, trazendo a
concorrência para o sector, e segunda é o fim de todos os subsídios
para o financiamento dessa ideia que enriquece as corporações alemãs e
os políticos corruptos: a energia renovável.
A Alemanha, que não podendo colonizar o resto da Europa não terá alternativas, que siga essa via.
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