Dia Nacional do Bombeiro – Historia da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa
Em 1868 a Farmácia Azevedo, no Rossio, era o ponto de
reunião de destacadas personalidades, numa época em que o serviço de
incêndios na capital não estava à altura do que deveria de ser.
A população da cidade deveras se preocupava com os numerosos e
violentos incêndios que, por toda a cidade, se manifestavam sem ser
possível dominá-los convenientemente por deficiência de pessoal e
material, dada a exígua verba destinada pelo erário municipal aos
respectivos serviços.
Às conversas da Farmácia Azevedo assistia Guilherme Cossoul, que em
dia de acesa discussão com o vereador do Serviço de Incêndios, Dr.
Isidoro Viana, alvitrou que se organizasse uma Companhia de Voluntários
Bombeiros a exemplo do que se fazia no estrangeiro. Cossoul soube
contagiar os ouvintes, fez propaganda e, no mesmo mês, promovia uma
reunião no edifício da Albegoaria Municipal, onde estava instalada a
Inspecção dos Incêndios. Esta reunião deu corpo à formação da Companhia
de Voluntários Bombeiros, sob o lema HUMANITAS, VITA NOSTRA TUA EST.
Integraram esta primeira formação Abraão Athias, Domingos, Henrique F. Jauncey, Eduardo Costa Coimbra, Guilherme Cossoul, Francisco Alfredo Nunes, Isidoro José Viana, o Visconde de Ribamar, Darlaston Shore, John
B. Jauncey, Yosef Amzalak, Francisco Gellespie, António Campos Valdez,
André de Aquino Ferreira, Manuel Nunes Correia Júnior, José Mendes de
Carvalho Júnior, Walter Daggs, João Maria da Silva, Francisco Manuel
Mendonça, Carlos Nandim de Carvalho, Oswald B. Ivens, José Vargas
Ollero, Horácio Jauncey, o Capitão Felipe de Mesquita, Francisco Alves
da Silva Taborda e Carlos José Barreiros.
Guilherme Cossoul foi nomeado Capitão-Chefe dos Bombeiros Voluntários por El Rei Dom Luís,
e empossado Comandante da nova Companhia, sendo alugada uma casa na
Travessa André Valente para quartel e recolha da bomba braçal,
encomendada ao Industrial Cannel por 180.000 réis.
Na Travessa André Valente recrutaram-se condutores e os aguadeiros
dos Chafarizes de São Paulo, Rua Formosa, Tesouro Velho e Carmo.
Marcaram-se exercícios para todas as quintas-feiras, e assim tornou-se
realidade a aspiração daqueles beneméritos cidadãos.
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O Príncipe D. Carlos adere como sócio para que a Companhia ostentasse o Título de Real,
e na histórica tarde de 18 de Outubro de 1868 fazia-se, no pátio da
Albegoaria Municipal, o primeiro exercício público, com bomba.
O baptismo de fogo dos novos bombeiros deu-se na madrugada de 22 de Outubro de 1868,
no edifício das Tercenas, na Travessa da Praia de Santos, 1 a 7. O
povo, apreciando e querendo distinguir os novos soldados da paz, que
tanto entusiasmo mostravam na sua arriscada e desinteressada missão,
passou a distinguí-los com a denominação de Bomba dos Fidalgos. Do
relatório apresentado à Câmara Municipal de Lisboa pelo Inspector de
Incêndios Sr. Carlos José Barreiros, relativo ao estado do Serviço de
Incêndios em 1870, destacamos esta passagem:
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“Ocupando-me de bombeiros não posso
terminar sem aproveitar o ensejo de pagar o devido tributo de homenagem e
reconhecimento à Humanitária Associação que sob modesto Titulo de
Bombeiros Voluntários tantos e tão apreciáveis serviços tem feito a esta
cidade nos dois últimos anos. Alguns dos sócios, que têm procurado
instruir-se, já são bombeiros tão aptos como os homens de profissão, e
não só se chegam para o fogo, mas como batem-se com tanto acerto e tanto
sangue frio como eles. Prosperam rapidamente em Inglaterra e mesmo em
França, as sociedades desta índole, havendo algumas que possuem, alem
dum excelente material de socorros, um pessoal respeitável, tanto pelo
número e qualidade como pela instrução. No nosso pais é uma ideia apenas
nascente, mas prometedora, porque já tem adquirido incontestáveis
direitos não só aos aplausos, mas como a bênção do público”.
A 26 de Novembro de 1880 falecia Guilherme Cossoul, sucedendo no
comando Darlaston Shore, e neste ano a Real Companhia de Voluntários
Bombeiros transformou-se, por imperativos legais, no Corpo de Bombeiros
da Real Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa.
Em 18 de Maio de 1885 realizou-se, no hipódromo de Belém, um concurso
de ginástica, organizado pelo Real Ginásio Clube Português, e entre os
números do programa figurava um simulacro de incêndio.
Os Voluntários de Lisboa se apresentaram e executaram as manobras, a
que o clube organizador conferiu diploma e medalha de prata “pelo arrojo
e perícia dos seus componentes”.O uniforme dos sócios activos consistia
em calça e casaco de tecido azul, este com duas ordens de botões,
charlateiras de três pernas de verniz preto, cinto de couro, machado com
guardas de metal, espia entrelaçada a tiracolo, e capacete de couro do
padrão dos Bombeiros Municipais de Lisboa, com um emblema composto por
um V sobreposto por dois machados cruzados, e encimado pela coroa real.
Em Outubro de 1889 o corpo activo era comandado por
John B. Jauncey, tendo 30 bombeiros e 30 auxiliares (condutores e
aguadeiros), com duas Estações. A 1ª era na Rua das Flores (onde hoje se
encontra a oficina), e a 2ª na Rua dos Navegantes a Lapa.
Em 1906 o material da Associação foi enriquecido com a
aquisição de uma bomba a vapor da casa Shand Mason & Co., de
Londres, que seria um elemento do maior valor para o combate a fogos,
por ser a única do tipo na cidade. Devidamente apetrechados e formados,
marcaram os Voluntários de Lisboa, nesta época, um dos padrões mais
gloriosos da vida da Bomba dos Fidalgos.
A 18 de Outubro de 1918, quando a associação celebrava as bodas de ouro, a Câmara Municipal de Lisboa criou a Unica medalha de Ouro Vernil da Cidade de Lisboa, conferindo-a à Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, pelos grandes e prestigiosos serviços à cidade.
No ano de 1919 a República pela primeira vez conferiu
a uma Associação as insígnias de Valor, Lealdade e Mérito, ao conceder o
grau de Oficial da Ordem da Torre e da Espada aos Bombeiros Voluntários
de Lisboa, por actos excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria
e pela Humanidade.
Ao longo do seu historial, que já não é pequeno, à
Bomba dos Fidalgos foram-lhe concedidas as Ordens de Cristo (Cavaleiro e
Oficial), do Infante Dom Henrique, e a da Benemerência (Comenda), bem
como é possuidora de todas as mais altas condecorações de bombeiros em nível nacional.
Veja todas as condecorações do CBVLisboa em:
Publicação de Rui Paiva Monteiro em "Causa Monárquica"
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