Ensaísta português fundador do Integralismo Lusitano. Insigne
vulgarizador do tradicionalismo. Marcado pela origem republicana e
formado no positivismo de Comte. Quer colocar-se naquilo que designa
como o campo da ciência objectiva, assumindo-se contra o romantismo
revolucionário. Considera que "pela federação das nossas confrarias
agrícolas Portugal se constituiu". Salienta que as causas da crise
espiritual do Ocidente derivam do chamado renascimento do direito
romano, onde o "absolutismo dos reis entra a perverter a noção cristã de
autoridade". Esse vício teria sido agravado pela Renascença "com a sua
ideia naturalista do Poder e o seu centralismo excessivo, mesmo
despótico" e com ela, Lutero que "quebra a unidade moral da Europa".
Acontece que na Península Ibérica "o humanismo pretensioso da Renascença
se depura e deixando de ser, como era para os gafados italianos, um
fim, - um ideal de vida, volve-se com os Colégios da Companhia (de
Jesus) acentuadamente, um meio de educação valiosíssimo, - um valioso
agente de formação mental, de que o Colégio das Artes em Coimbra nos
fornece um exemplo convincente". Depois, com a derrota da Invencível
Armada, deu-se "o cisma das nações e o advento das éticas do norte com o
seu natural triunfo em Vestefália". Finalmente, o absolutismo vai
triunfar sem reservas no século XVIII, "destruindo todos os organismos
intermédios" e deixando "apenas o Estado na presença do indivíduo,
despojado já da rede miúda das associações domésticas e económicas".
Para Sardinha, "o Estado Absolutista do século XVIII antecede
logicamente o Estado Metafísico e todo poderoso das modernas
democracias. Esse Estado é o Estado napoleónico baseado não na noção
histórica da autoridade derivada da Família, da Comuna e das
Corporações, mas no simples conceito materialista da força e do
domínio". A seguir veio o idealismo alemão:"nos seus vícios estruturais o
germanismo, para evitar o vácuo, encaminha-nos para o absoluto. Donde a
quase divinização do Estado, com Fichte e Hegel por seus corifeus na
Pátria de Kant, - no solar do livre exame". Citando George Santayana,
vai considerar pagã essa filosofia germânica do eu, "procurando sobrepor
a inteligência como princípio e fim de si mesma, às evidências
constantes do ser". Para ele "na pulverização crescente da sociedade, o
'indivíduo' dos idílios solitários de Rousseau dera lugar ao 'cidadão'
dos festins eleitorais do liberalismo" e este "volveu-se sem demora no
'produtor' da metafísica bastarda de Karl Marx". Foi, assim, que o
Estado passou de "instituição coordenadora e complementária" a
"instrumento de domínio" e que se gerou "o estadualismo mais abusivo e
mais arbitrário". Nestes termos, Sardinha vai propor o regresso ao
direito natural, "como compreendia S. Tomás e toda a magnífica corte dos
seus comentadores peninsulares da Contra-Reforma, com o insigne
Francisco Suarez à cabeça". Seria o regresso à liberdade orgânica e à
noção de pessoa: "a liberdade, - no seu superior sentido orgânico - é
natural da Península, sendo entre nós o absolutismo um intruso violento,
um hóspede atrevido e não desejado". Com efeito, "os hispanos
basearam-se sempre, por condição peculiar da sua índole, na noção de
pessoa" e não na noção de indivíduo; "a individualidade vem do corpo, da
matéria, do instinto. Inversamente, a personalidade da alma. " Para
ele, o cristianismo é uma "grande democracia espiritual, - a única, a
verdadeira" e "em cujo seio somos todos irmãos e iguais perante Deus,
diferenciando-se somente pelos méritos adquiridos, pelas virtudes
professadas, - essa grande democracia espiritual, repito, correspondia
ao que borbulhava no mais entranhado do génio hispânico: a ideia da
independência e a ideia de responsabilidade".
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