É a partir da morte de Dom Fernando que as coisas tomam outro rumo – e a disputa pela coroa inicia-se descontrolada. Ao que consta, terá sido Dom Nuno a magicar o planopara matar o conde Andeiro (1) e, ao mesmo tempo, apresenta o Mestre de Avis na corrida ao trono português, por acção de um golpe de Estado (2) .
O primeiro passo seria, portanto, matar o conde galego, e daí retirar dois dividendos imediatos: o mais importante, deixar a rainha, «a aleivosa», desamparada e só, e, por outro lado, concretizar a vingança sobre a rainha que muito conspirava contra o Mestre de Avis; aliás, já o havia mandado prender no castelo de Évora, durante 26 dias, com o intuito de aí ser decapitado.
A rainha olhava para o Mestre como uma ameaça séria às suas pretensões. Talvez por isso o Mestre retraía-se na sua acção mas, no fundo, secretamente, o bastardo de Dom Pedro ambicionava chegar ao trono; obviamente tinha os seus receios, ainda que pressionado e apoiado por um pequeno e restrito grupo de fidalgos que previam que tal seria possível: para tal, seria preponderante chamar a si o apoio popular, e para isso nada melhor que exaltar o povo com a morte do conde galego.
(1) O comodismo, a hesitação e o medo leva-nos ao abismo. Por vezes é necessário mudarmos de rumo. Eis um exemplo concreto: D. Nuno Álvares Pereira, destemido cavaleiro, homem de fé, exímio batalhador, o Condestável de Portugal, abdicou do seu partidarismo formado, ainda rapaz, nas cortes de D. Fernando - sentiu que Portugal abeirava-se, a passos largos, do abismo.
(2) O seu patriotismo despertou-o para a necessidade de lutar pelos seus ideais independentistas, caso que o levou a mudar radicalmente de partido ao juntar-se ao Mestre de Avis; ambos construíram as bases que levaram Portugal ao mais alto grau da nossa história. A mudança radical faz parte do génio das mais gloriosas nações!
in "Dom Nuno Álvares Pereira na tradição Barrosã", Agostinho Veras
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