CHRONICA
DO JORNAL "A NAÇÃO" (20/06/1907), apontando D. Miguel I como exemplo a
seguir no meio da desordem em que o País se encontrava mergulhado.
«Faz
hoje precisamente setenta e tres annos que El Rei Dom Miguel I,
desembarcando em Genova, protestou à face da Europa contra a violencia
da Quadrupla Alliança que se impos á vontade nacional, obrigando-o À
custa de traições, de subornos, de toda a opposição no campo da
diplomacia e da política, a abandonar a corôa de Seus Maiores e a ir
pobre, mas rico de sentimentos generosos, a peregrinar por terras
extranhas, comendo o pão do exílio, esmolado pelos seus fieis
portugueses e por alguns Principes de generosa e reconhecida amizade. A
pobreza não prejudicou a dignidade do Augusto Exilado. O seu
procedimento foi o mais brioso, podendo servir de exemplo aos homens de
hoje para eventualidades semelhantes, ainda que não sejam revestidas de
manto da indigencia." Transcrevemos o notavel documento:
"Em
consequencia dos acontecimentos que Me obrigaram a sair de Portugal e
abandonar temporariamente o exercicio do Meu poder; a honra da Minha
Pessoa, o interesse dos meus Vassallos e finalmente todos os motivos de
justiça e de decoro exigem que Eu proteste, como por este faço, à face
da Europa, a respeito dos sobreditos acontecimentos e contra quaesquer
innovações que o governo que ora existe em Lisboa possa ter introduzido,
ou para o futuro procurar introduzir contrarias às Leis fundamentaes do
Reino. D’esta exposição pode-se concluir que o Meu assentimento a todas
as condições que Me foram impostas pelas forças preponderantes,
confiadas nos generaes dos dois governos de presente existentes em
Madrid e Lisboa, de accordo com duas grandes Potencias, foi da Minha
parte um mero acto provisorio, com as vistas de salvar os Meus Vassallos
de Portugal das desgraças que a justa resistencia que poderia ter
feito, lhes não teria poupado, havendo sido surprehendido por um
inesperado e indesculpavel ataque de uma Potencia amiga e alliada. Por
todos estes motivos tinha Eu firmemente resolvido, apenas tivesse
liberdade de o praticar, como cumpria à Minha honra e dever, fazer
constar a todas as Potencias da Europa a injustiça da aggressão contra
Meus direitos e contra a Minha Pessoa; e protestar e declarar, como por
este protesto e declaro, agora que me acho livre de coação, contra a
capitulação de 26 de Maio passado, que Me foi imposta pelo governo ora
existente em Lisboa; auto que fui obrigado a assignar, a fim de evitar
maiores desgraças e poupar o sangue de Meus Fieis Vassallos. Em
consequencia do que deve considerar se a dita capitulação como nulla e
de nenhum valor."
Génova, 20 de Junho de 1834
Dom Miguel I de Bragança
Sem comentários:
Enviar um comentário